Como é a sua relação com exercícios físicos? Eu cresci me movimentando de alguma forma, seja nas aulas de balé e jazz até os meus 15 anos, ou na academia e no pilates tempos depois, mas entre a adolescência e a minha fase de jovem adulta, comecei a desenvolver uma relação nada saudável com as atividades e o meu corpo. Hoje, enxergo que isso aconteceu por muita influência da pressão estética e de uma sociedade obcecada por padrões de beleza inalcançáveis.
Aos poucos, fui deixando de entender o verdadeiro propósito de fazer exercícios físicos. Em meio a conteúdos “fitness” ganhando forças nas redes sociais, acabei me perdendo de mim mesma e várias vezes fui levada a acreditar que deveria seguir uma dieta restritiva e ultrapassar os meus limites pura e simplesmente por um motivo estético, que era atingir um corpo definido e ainda mais magro (porque apesar de já ser magra, não era o que eu via no espelho). Só que, ao não conseguir cumprir esses requisitos, que, afinal, eram inatingíveis e impulsionados pelos motivos errados, ficava decepcionada – e o ciclo continuava se repetindo todos os dias.
Essa frustração se ampliou para a minha relação com a comida. Eu nunca consegui incluir uma dieta específica na minha rotina por muito tempo e, quando tentei, ao invés de um hábito saudável, criei uma compulsão alimentar. Sabe quando você quer descontar tudo na comida? Foi isso que rolou. E entender que os alimentos não devem ser vistos como inimigos e calorias extras é um processo lento e complicado pelo qual passo ainda hoje.
Mas o que mudou ao longo do tempo? Há alguns anos, passei a analisar quem eu sigo nas redes sociais. Não é à toa que as pessoas que vivem de postar conteúdos na internet são chamadas de “influenciadoras”. O poder que elas exercem nas nossas vidas pode ser perigoso e, quando tive esse estalo, dei unfollow em gente que aparecia vendendo cintas modeladoras e gominhas capilares como milagrosas, tratando cirurgia plástica de um jeito normal tal qual beber água, entre outras atitudes questionáveis que poderiam afetar a minha autoestima. E, por outro lado, comecei a seguir mais pessoas reais, diversas, que falam sobre alimentação e exercício físico de forma saudável (de verdade!) e que levam em consideração a saúde mental. Uma delas foi a Dora Figueiredo, e outras mulheres admiráveis, como a Isadora Chiquetto (@umacorrida), a professora de yoga Pri Leite (que foi uma grande companhia durante a pandemia) e a Ellen Valias (@atleta_de_peso).
Assim, comecei a entender que me exercitar significa cuidar da minha saúde mental e do meu bem-estar para além das aparências, e esse é o propósito mais justo e valioso que existe – não à toa, pesquisas recentes mostram que a atividade física executa um relevante papel na prevenção e tratamento da depressão. Em 2019, realizei o sonho de participar das minhas primeiras corridas de rua; depois da minha primeira prova, de 4km, eu chorei de felicidade e, ao final daquele ano, cheguei a cumprir uma prova de 8km da Disney, respeitando o meu ritmo, o meu corpo e os meus limites, conquista que, antes, era muito distante pra mim.
Agora, em 2022, no último domingo (16), participei da Sephora Beauty Run, de 6km, a convite da marca Feito Brasil, em um período em que estava retomando as atividades físicas e restabelecendo uma boa relação com elas e com o meu corpo. Ou seja, pensa no nervosismo de me concentrar (porque, sim, pensamentos negativos atrapalham!) para conseguir chegar à reta final! Eu completei a corrida, e não importa em quanto tempo e nem quantas calorias foram embora, o que importa mesmo é que eu respeitei os meus limites, não fiquei frustrada por absolutamente nada e me diverti – as provas são sempre animadas e, para mim, a diversão e a sensação de prazer deixam a atividade muito mais leve e atraente, diminuindo as chances da autocobrança.
@sofiarolloduarte o que ganhei na corrida da @Sephora Brasil 🏃♀️✨ #sephorabeautyrun #sephorabrasil #corridaderua #mimos #corrida
Essa experiência me deu um gás absurdo para continuar cuidando de mim mesma, cultivar a autobondade e contribuiu para o meu processo pessoal de entender que o real propósito do exercício físico, para mim, é cuidar da minha saúde mental, o que, por consequência, reflete na relação com a minha autoestima. Se sentir bem na própria pele, sem ter o objetivo de atingir o que a sociedade espera da gente, e principalmente das mulheres, é um ato de liberdade, que se opõe ao esperado, que vai contra a maré; é um ato revolucionário.
Agora, quero saber do lado daí: como você tem lidado com a sua saúde mental e como é sua relação com atividade física e autoestima?
O próximo texto da coluna O Mundo de Sofia* sai na primeira semana de novembro. Beijos e até lá! <3
*A coluna é escrita por Sofia Duarte, repórter de moda e beleza da CAPRICHO.