Não é de hoje que as mulheres brasileiras lutam contra a perpetuação de uma imagem estereotipada e sexualizada fora do país. Muitas brasileiras que moram ou estavam de passagem pelo exterior já vivenciaram casos de machismo e até assédio pelo simples fato da nacionalidade que possuem. Esse imaginário sensual e permissivo com o qual a nossa imagem foi associada começou há tempos.
No passado, entre as décadas de 1960 e 1980, o próprio governo brasileiro chegou a criar propagandas exaltando a imagem erotizadas das mulheres daqui, como se fossemos um produto turístico (esta matéria da Universa explica com profundidade a criação desse estereótipo). Seios, bumbuns e corpos com pouca roupa ilustravam a divulgação do país. Apesar desse tipo de conteúdo ter deixado de ser veiculado, o imaginário sexualizado da brasileira ainda permanece ao redor do mundo, e muitas vezes dá sinais de existir no próprio Brasil. Vale lembrar que, em 2019, o presidente Bolsonaro disse que “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade“, mas que o país não poderia ficar conhecido como “O paraíso dos gays“. Uma fala machista e homofóbica que reforça diversos estereótipos tóxicos da nossa cultura.
Pois, nos últimos dias, esse tema tão sensível às brasileiras voltou à discussão com o nome de um esmalte da empresa norte-americana OPI. O produto foi nomeado como Kiss Me, I’m Brazilian, algo como “Me beije, sou brasileira”, em tradução livre. Apesar de ter sido lançado em 2014, a problemática da nomenclatura veio à tona recentemente e causou revolta em muitas brasileiras, que criaram um abaixo-assinado que conta com mais de 11 mil assinatura para que o produto seja renomeado.
O esmalte faz parte de uma coleção inspirada em temas brasileiros. Outros nomes controversos como “Next Stop, The Bikini Zone” (algo como “Próxima parada, a área do biquíni”), “Taupe-less Beach” (um trocadilho com “Praia de topless”) e “Where did Suzi’s Men Go?” (algo como “Onde o homem da Suzi foi?”) também estão na linha.
Na petição criada por Carolina Pires, ela fala: “É inaceitável que em 2020 ainda exista uma marca famosa mundialmente como a OPI fortalecendo esse estereótipo errado de mulheres brasileiras. Essa é uma ideia que estamos lutando para mudar há muito tempo, não podemos deixar que vocês ajudem o lado errado.” Nas redes sociais da empresa, várias internautas cobraram explicações sobre os nomes da coleção.
Em nota divulgada para a Universa, a assessoria de imprensa da OPI lamentou que o nome do esmalte tenha causado constrangimento às brasileiras e explicou que ele faz referência ao costume brasileiro de cumprimentar com beijos na bochecha. “Diferente do tradicional aperto de mão usado mundialmente. Por isso, esse nome celebra a saudação brasileira“, dizia. O comunicado também falou que “O objetivo da marca sempre foi, e continua sendo, celebrar as mulheres“, e reforçou o compromisso deles de empoderar e capacitar mulheres através de trabalhos com diversas instituições ao redor do mundo.
Em 2015, a marca Risqué também foi acusada de machismo ao lançar uma coleção de esmaltes com nomes sexistas. Denominada de “Homens que Amamos“, a linha contava com produtos nomeados como “André Fez o Jantar“, “Fê Mandou Mensagem” e “Leo Mandou Flores“. Segundo a empresa, a ideia era “homenagear atitudes românticas” (que, na verdade, são simples atos comuns) dos homens. Na época, a ação gerou revolta dos consumidores.
Você já tinha parado para refletir sobre a sexualização da mulher brasileira?