A escritora Regina Dalcastagnè é professora titular de literatura brasileira da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Ela passou os últimos 15 anos analisando a formação da literatura brasileira contemporânea, dos escritores aos leitores. Os dados levantados não são nada animadores…
Foram 258 livros estudados. De todos eles, apenas 3 tinham protagonistas negras. Quando o assunto eram personagens negros no geral, o número subia para baixos 7,9%.
A pesquisadora também descobriu que 72,7% dos escritores são homens, sendo que 93,9% são brancos e a maioria mora no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Ou seja, falta representatividade na literatura brasileira contemporânea. Para muita gente, a arte imita a vida e esse é apenas mais um reflexo da nossa realidade e sociedade.
M. Carmen Villarino Pardo, professora titular de literatura brasileira na Universidade de Santiago de Compostela, também participou da pesquisa. “Esse tipo de reflexão insere-se num debate mais amplo que afeta, entre outros, o próprio caráter do literário e, de maneira visível para o campo acadêmico (mas não apenas), implica o questionamento da função dos estudos literários na atualidade”, escreve a dupla de pesquisadoras na apresentação do estudo, publicado no site Periodicos, da UnB.
É claro que, assim como outros levantamentos, o de Regina e Carmen analisa a parte de um todo, mas mostra em um panorama geral que precisamos continuar batendo na tecla da representatividade, principalmente quando lemos que a maioria das protagonistas de romances é branca. Por que isso acontece? Por que tantas pessoas ainda se chocam ao descobrir que a mocinha é negra? Será que você realmente não sabe a resposta?
A literatura contemporânea precisa ser de todos para todos.