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“A gente sempre esteve lá”, diz Flávia Gasi sobre garotas gamers

Quem disse que só menino pode jogar vídeogame?

Por Isabella Otto Atualizado em 4 dez 2020, 12h52 - Publicado em 3 set 2016, 09h50

Ele te ajuda a aprender inglês, te faz companhia, aumenta a massa cinzenta do seu cérebro, aguça os sentidos, diverte e irrita, mas faz você ter certeza de que consegue enfrentar obstáculos e sair vitoriosa deles. O videogame é arte e, assim como todas as artes, deveria ser acessível para todos. E é! O problema é que muita gente, principalmente meninos, acham que não. Ser uma garota gamer é enfrentar desafios em casa, na internet e no mercado de trabalho. Flávia Gasi, colunista do site IGN Brasil e apresentadora do Gamepedia, já passou por isso e hoje, aos 35 anos, é o tipo de pessoa que você, mina e nerd, precisa conhecer. A identificação será imediata!

Reprodução

O interesse da Flávia por jogos começou com Dragon Warrior, primeiro game que a jornalista conheceu, quando tinha uns sete anos de idade. Na época, seu companheiro de partidas era o irmão. O tempo passou e, na escola, Flá fez alguns amigos que também curtiam jogar videogame. A maioria, é verdade, meninos, mas ela nunca se sentiu deslocada por causa disso. “Em casa, nunca fui tratada de forma diferente. Para mim, era normal. Quando eu jogava com as minhas amigas, era normal. Foi só quando entrei no mercado de trabalho que descobri que não era tão normal assim“, conta a especialista em games, que, no começo da carreira, sentia que era tratada de forma diferente: “O tratamento era meio glamourizado por eu ser menina e jogar videogame, o que é besteira. Mas a gente sempre esteve lá, só nunca falou muito sobre isso”.

Com a internet, mais e mais meninas foram se conectando e descobrindo que não estavam sozinhas. Flávia admite que o bullying que sofria no colégio por ser menina e jogar videogame vinha junto com o bullying diário que sofria por ser nerd, mas muitas garotas não faziam parte da comunidade gamer porque sentiam que não podiam. “Crescemos em um mundo racista e machista, e a desconstrução é lenta. Isso está enraizado na cultura como um todo e a cultura geek é só um reflexo dessa discrepância que ainda temos com relação a minorias”, afirma. A jornalista, porém, acredita que as adolescentes de hoje são muito mais livres que as de sua geração. “Sim, rola assédio. Sim, está enraizado. Mas as gamers não podem desistir, porque o mercado de videogames só tem 10% de mulheres desenvolvedoras e a gente precisa ter 50%. Quando a gente alcançar esse número, teremos mais personagens femininas escritas por meninas“, aposta.

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Dizem que as mudanças profundas chegam de mansinho, mas chegam para valer. E as notícias são promissoras! Atualmente, Montreal, uma cidade no Canadá, dá apoio para as empresas que são de mulheres e fazem jogos com personagens femininas. Esses jogos, porém, não são apenas para o público feminino, como lembra Flávia. “Eles foram escritos por mulheres para ter uma representação feminina mais profunda e complexa. A gente não têm que separar jogos ‘de menina’ e ‘de menino’, mas ainda precisamos de apoio para fazer parcerias e projetos que envolvam mulheres. Porque precisa ter mulheres no mercado, assim como precisa ter trans, negros, gays… Essas pessoas ainda têm menos possibilidade de arrumar emprego que um homem. Então, a gente precisa equalizar a balança”. Mas por onde começar?

Os games já formam o maior mercado de entretenimento do mundo, mas, no Brasil, falta mão de obra, principalmente para fazer propaganda e vender os produtos. “Se a garota tiver essa aptidão para o comercial, vai nessa! Contudo, o mais importante é ela descobrir o que mais curte fazer. O universo dos games é parecido com o do cinema. Você pode criticar o filme, criar o filme, falar sobre ele, estudá-lo… Tem muita coisa pra fazer!”, anima-se a jornalista, que alerta que as empresas precisam ter mais variedade – incluindo mulheres -, pois isso só fortalece o mercado como um todo. “Uns amigos meus que escrevem RPG estavam criando um pôster para a personagem feminina da saga e imaginaram ela vestindo uma cota de malha. O designer, porém, desenhou ela com uma armadura e um biquininho. Pra gente, essa bola fora parece óbvia, mas para muitos não é. Todo mundo precisa se desconstruir, inclusive meninas“.

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A desconstrução, então, começa por você, garota! Está no League of Legends? Deixe seu nick feminino, assuma-se como mulher. “Toda vez que alguém te assediar, tira print, faz a denúncia, manda para a empresa. Meninas sabem jogar tanto quanto meninos, e é ruim para a comunidade de jogos se só tivermos um tipo de jogador”, empodera Flávia. E nada de desmerecer as pessoas que preferem o celular ao console. “Eu sou menina e jogo Call of Duty. Meu pai é menino e joga Candy Crush. Eu não vou dizer que ele não é gamer o suficiente só por isso. Toda vez que a gente tenta deixar o ser humano menos complexo, não funciona. É igual dizer que games deixam as pessoas violentas. A casualidade entre violência e games é de 4%. Ou seja, não é nada. O que o videogame pode causar é frustração. Se você parar nela, pode sair e descontar em alguém. Mas o grande lance é que os games foram feitos para você chegar até o fim e sair vitoriosa. E essa é a sensação que importa”, argumenta a especialista.

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É tanto, tanto amor por Flávia Gasi que a gente precisava perguntar para essa mulher maravilhosa qual personagem feminina dos games mais a inspira, e a resposta é rápida: “Terra Branford, de Final fantasy VI. Ela foi a primeira personagem que, quando terminei de jogar, pensei: ‘Caramba! Eu podia ser essa pessoa!’. Outra que me marcou foi a Comandante Shepard, de Mass Efect“, conta a jornalista, que representa (e muito!) e te espera para que, juntas, façamos história nos games e fora deles. Bora deixar sua marquinha no mundo e torná-lo mais igualitário e feliz para as próximas gerações? Assim, esse grande The Sims da vida real fica mais legal pra todo mundo!

+ Veja também: Representatividade feminina no mundo geek ft. PenseGeek e MinasNerds

 

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