A paquistanesa Malala Yousafzai iniciou sua vida de ativismo em 2007, quando tinha 9 anos de idade. A então moradora do Vale do Swat, no Paquistão, não se conformava com o fato de o direito à educação ser negado a tantas mulheres do Oriente Médio, por questões políticas, históricas e religiosas. Com o apoio do pai, Ziauddin, ela começou a pregar a importância da escola na vida das meninas para pequenos grupos, inicialmente. Mas Malala começou a fazer barulho, um barulho que, definitivamente, não agradava o grupo rebelde talibã Tehrik-e-Niswan, que acredita que as mulheres, desde cedo, devem aprender a ser exímias donas de casa e passar longe de tudo aquilo que possa dar a elas conhecimento e independência.
Em 2012, quando tinha 15 anos, a paquistanesa foi baleada na cabeça, quando estava dentro de um ônibus escolar. Enquanto era levada às pressas para o hospital, seu nome foi ganhando força na mídia e, em questão de minutos, Malala Yousafzai se tornou conhecida mundialmente. Poucos acreditavam na sua recuperação. Os médicos diziam para seus pais que ela até poderia sobreviver, mas havia grandes chances de não ser mais a mesma Malala. Eles se engaram, os talibãs se enganaram, todos se enganaram. A paquistanesa voltou ainda mais forte, entendeu que a sua missão na Terra era lutar pela educação das meninas, se informou sobre realidades diferentes da dela e se tornou, dois anos depois, a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014.
Na última segunda-feira, 9, Malala Yousafzai desembarcou no Brasil pela primeira vez. O interesse foi demonstrado pela própria paquistanesa, que ouviu sobre os problemas sociais, políticos e econômicos que o país vem enfrentando. Além disso, a estudante descobriu que, no Brasil, 1.5 milhões de garotas não têm acesso à educação. Ela precisava agir. E agiu. Além de participar de um evento fechado no Auditório de Ibirapuera, em São Paulo, em que falou sobre educação e empoderamento feminino, a jovem anunciou formalmente o apoio a três brasileiras que lutam ativamente pela educação: Denise Carreira, Sylvia Siqueira Campos e Ana Paula Ferreira de Lima.
Mais do que envolver a Malala Fund em ações afirmativas que contribuem para a melhora da educação no Brasil, a passagem da muçulmana no país foi marcada por um ensinamento em especial: o de que não devemos nos vingar usando o ódio – como faz o Talibã, por exemplo. “O melhor jeito de me vingar é educando pessoas pelo mundo, inclusive os filhos e as filhas dos que fizeram aquilo comigo”, garantiu a jovem vencedora do Nobel da Paz. Malala intrigou a todos com sua fala, principalmente aqueles que não entendem como a garota pode ter perdoado aqueles que tentaram silencia-la com uma arma de fogo. Para a estudante, que segue atualmente sua graduação em Oxford, a situação, apesar de complexa, é simples: quando você é motivado pelo ódio e usa esse sentimento para impulsionar seus atos, você é sugado por suas próprias energias. “Você perde sua força quando fica com raiva e usa a violência(…) Quando você luta em paz, transforma sua energia em poder para mudar o mundo”, explicou a muçulmana.
No mundo, cerca de 65 milhões de meninas não tem acesso à educação. As mais afetadas são as negras e indígenas. Estima-se que o Brasil leve mais ou menos 260 anos para alcançar o nível de proficiência dos países desenvolvidos, segundo Ana Lucia Villela, presidente do Instituto Alana. Mas como mudar essa realidade sabendo que o país é o 4º do mundo que mais assassina ativistas? Quantas já não foram silenciadas pelo retrógrado, pelo conservador, pelo patriarcado, pelo racismo, pelo feminicídio? “O melhor jeito de estimular a mudança é apoiar líderes locais”, aconselhou Malala, que ergueu sua voz lá em 2007, no Vale do Swat, para falar aquilo o que tantas meninas gostariam de dizer, mas não tinha coragem nem apoio. Hoje, a jovem paquistanesa não precisa mais nem erguer sua voz para ser ouvida pelo mundo inteiro. Ela pode falar baixinho, que todos ficam atentos, até mesmo aqueles que ainda hoje juram se vingar da muçulmana usando armas de fogo e violência. Enquanto isso, ela segue com seu livro e sua caneta, porque essa é, definitivamente, a melhor forma de se vingar daqueles que querem que as mulheres acreditem que não têm o poder de usar a educação para fazerem o que quiserem e se tornarem aquilo que bem entenderem. Essa é a vingança perfeita.