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Além de Brás Cubas: 27 clássicos de cada estado Brasileiro pra conhecer

Reunimos a principal obra de cada estado do país, e do Distrito Federal para te ajudar a 'dar uma volta ao Brasil'. Aceita o desafio?

Por Mavi Faria 23 Maio 2024, 16h44
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literatura nacional é tão rica e diversa quanto a cultura brasileira, de forma geral. Entretanto, na grade curricular na escola, é introduzida uma fatia pequena de toda potência literária espalhada pelo país. Só para exemplificar, tente pensar em um autor ou autora nacional para cada uma das cinco regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Agora tente lembrar de um escritor ou escritora que são os mais importantes em cada um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. A dificuldade não é surpreendente ou restrita a você, ela representa uma falta de interesse de gerações em explorar e dar o mesmo prestígio a nomes importantes da literatura fora os já consagrados.

Mas, a situação não precisa permanecer nessa forma, não é? Além disso, você pode se inspirar no desafio que a norte-americana Courtney Henning Novak está fazendo de ler um livro de capa país do mundo e aproveitar para conhecer mais da literatura brasileira. Reunimos, abaixo, um livro de cada estado e do Distrito Federal, que são mais importantes ou que representem melhor a literatura e cultura local.

Confira nossa lista e não deixe de já escolher por qual região quer começar este desafio!

NORTE 

Acre

Terra Caída (1968), José Potygara

A obra conta a saga dos seringueiros durante o ciclo da borracha, período no qual foram atraídos para a região do Acre trabalhadores de todo o Brasil. A trama é deflagrada pela chegada das famílias de Chico Bento e de seus confrades Zé Rufino e Policárpio, que migraram do Ceará para a região dos seringais em fuga da seca nordestina. No centro da floresta, condenado à tristeza do isolamento, o homem assiste impassível à sua própria bestialização através de uma existência vegetativa em que a monotonia domina tudo, dando a impressão de que ali a vida parou.

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Amapá

Os Tempos Insanos (2015), Fernando Canto

É um livro que expressa muito mais do que a verve do poeta, do escritor de tantos contos, crônicas, do compositor. Vai além do sociólogo que vive, vê e enxerga, estuda e saboreia. O livro é um ato ecumênico de coragem, conhecimento e valorização da fé verdadeira na vida. É a crítica às explorações e às farsas ritualísticas. O humor suave, às vezes sarcástico como é o da gente amazônida, está lá em toda parte. Mais simbólico que burlesco, “Os Tempos Insanos” carregam o realismo fantástico amazônico brasileiro do humano sagrado e profano, como o são no desrespeito, na luxúria e nas falcatruas, os que logram com a fé e a vida do povo, aqui e lá.

Amazonas

Dois Irmãos (2000), Milton Hatoum

É a história de como se constroem as relações de identidade e diferença numa família em crise. O enredo desta vez tem como centro a história de dois irmãos gêmeos – Yaqub e Omar – e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho. Esse menino – o filho da empregada – narra, trinta anos depois, os dramas que testemunhou calado. Buscando a identidade de seu pai entre os homens da casa, ele tenta reconstruir os cacos do passado, ora como testemunha, ora como quem ouviu e guardou, mudo, as histórias dos outros. 

Pará

Chove nos Campos de Cachoeira (1941), Dalcídio Jurandir

Na obra, se inicia a saga de Alfredo, personagem principal, ribeirinho de Cachoeira do Arari, em busca de estudo e uma vida melhor na cidade grande. “Chove nos campos de Cachoeira” foi o primeiro romance escrito por Dalcídio Jurandir e mais tarde se tornou o primeiro volume da série chamada Extremo-Norte. Considerado um marco da literatura de seu tempo, em especial modernista, sua publicação veio por meio do Prêmio Vecchi – Dom Casmurro, em júri composto por autores renomados como Jorge Amado e Rachel de Queiroz.

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Rondônia

Coisa Alguma (1916), Vespasiano Ramos

Vespasiano Ramos publicou sua obra poética em diversos jornais e revistas de seu tempo e publicou “Coisa Alguma” no ano de sua morte, no Rio de Janeiro, tendo seus livros bastante repercutido na Região Norte do Brasil. É considerado o precursor da literatura em Rondônia e, em sua homenagem, foi criada a medalha “Vespasiano Ramos”, como a principal insígnia outorgada pela Academia Rondoniense de Letras.

Roraima

A Mulher do Garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas (1976), Nenê Macaggi

O livro conta a história de dois personagens: Ádria, órfã nascida num cortiço do Rio de Janeiro e criada como menino, “virando” assim José Otávio, que, quando adulto, migra para a região amazônica, viajando por várias cidades, parando em um garimpo do então Território Federal do Rio Branco, hoje estado de Roraima; e Pedro Rocha, cearense migrante para o norte do país, que se torna garimpeiro, mas também extrativista das riquezas naturais amazônicas: seringa, caucho, castanha e balata. É considerado, por estudiosos, como uma obra autobiográfica.

Tocantins

Meu Primeiro Picolé (2004), José Concesso

Em “Meu Primeiro Picolé”, seu livro mais importante, José Concesso faz referência, em especial no título, à iguaria que não existia em sua cidade natal. Sua seleção de contos foi selecionada para compor todas as bibliotecas do Tocantins.

NORDESTE

Alagoas

Vidas Secas (1938), Graciliano Ramos

A obra retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. O pai, Fabiano, caminha pela paisagem árida da caatinga do Nordeste brasileiro com a sua mulher, Sinha Vitória, e os dois filhos, que não têm nome, sendo chamados apenas de “filho mais velho” e “filho mais novo”. São também acompanhados pela cachorrinha da família, Baleia, cujo nome é irônico, pois a falta de comida a fez muito magra. Se tornando uma das obras-símbolo do modernismo literário brasileiro, é um retrato atual, emocionante e cruelmente verdadeiro sobre o Brasil.

Bahia

Capitães de Areia (1937), Jorge Amado

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O livro é um verdadeiro romance de formação, que nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, os meninos que moram num trapiche abandonado no cais de Salvador, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.

Ceará

O Quinze (1930), Rachel de Queiroz

Ao narrar as histórias de Conceição, Vicente e a saga do vaqueiro Chico Bento e sua família, Rachel de Queiroz, imortal da Academia Brasileira de Letras, expõe de maneira única e original o drama causado pela histórica seca de 1915, que assolou o Nordeste brasileiro. A história da seca nordestina, as expectativas e as angústias que ela provocou são aqui retratadas com simplicidade e força.

Maranhão

O Cortiço (1890), Aluísio de Azevedo

No Rio de Janeiro do século XIX, o ambicioso português João Romão põe em prática seu plano de riqueza. Com trabalho duro, avareza e desonestidade, levanta um conjunto de 95 casinhas; o maior cortiço da região. A vida não tarda a brotar desse chão, fervilhante. Um organismo autônomo formado por aquela gente amontoada em cubículos, em busca da sobrevivência. O Cortiço é um retrato das mazelas sociais que atingiam a capital do Império, sob a visão cientificista de um escritor que levou ao extremo a estética realista da época.

Paraíba

O Auto da Compadecida (1955), Ariano Suassuna

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O livro consegue o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária ao recriar, para o teatro, episódios registrados na tradição popular do cordel. É uma peça teatral em forma de Auto em 3 atos que apresenta na escrita traços de linguagem oral e também regionalismos relativos ao Nordeste. Foi imortalizada no filme de mesmo nome, em 2000.

Pernambuco

Morte e Vida Severina (1954-55), João Cabral de Melo Neto

Morte e Vida Severina (1954-55), poema que dá nome ao livro, é a obra mais popular do autor e aborda o tema da seca nordestina, dando voz aos retirantes que fazem o duro percurso entre o rio Capibaribe e Recife. Ao longo de outros três poemas, o autor também retrata o universo árido às margens do rio Capibaribe, dá voz a ele próprio como condutor da narrativa, sintetiza em palavras uma de suas principais características, que é o hibridismo de linguagens e trata do desafio da composição poética, que ele ilustra numa faca sem bainha, que corta o poeta por dentro.

Piauí

Os Que Bebem Como Os Cães (1975), Assis Brasil 

Romance que narra a história de Jeremias, um prisioneiro que sofreu lavagem cerebral e perdeu a memória. Sem saber o motivo de sua prisão, tenta se adaptar a rotina torturante do cárcere, em condições sub humanas. Algemado dentro de uma cela, com as mãos para trás, recebe uma soa com droga, para que não tenha noção do tempo. Para tomá-la, abaixa-se igualmente a um cão.

Rio Grande do Norte

Horto (1900), Auta de Souza

Auta de Souza escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista, de grande valor estético e impregnados de misticismo. Tendo nascido em 1876, antes ainda que a abolição da escravatura no Brasil fosse oficializada pela Lei Áurea (1888) e sendo mulher e negra num ambiente e época extremamente conservadores, ela conseguiu ser reconhecida pela sua enorme qualidade literária. A obra “Horto” reúne seus poemas.

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Sergipe

Os Corumbas (1933), Amando Fontes

É um romance do proletário infeliz e desesperançado, vivendo entre ilusões e desenganos. Uma família pobre, a dos Corumbas, emigra de uma cidade do interior do Sergipe para a capital Aracaju, onde encontrará trabalho e onde os pais retirantes esperam colocar os filhos numa das duas fábricas de fiação.

CENTRO-OESTE

Distrito Federal

Só por hoje e para sempre (2015), Renato Russo

O livro, escrito durante os 29 dias em que o autor passou em uma clínica de reabilitação para combater dependência química, é publicado mais de vinte anos após sua morte, atendendo ao desejo do autor de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias de Renato com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, esse relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação. 

Goiás 

Estórias da Casa Velha da Ponte (1985), Cora Coralina

Escrito com a insuperável simplicidade e leveza de estilo de Cora Coralina, “Estórias da Casa Velha da Ponte” traça um retrato fiel e pitoresco da cidade de Goiás, no final do século XIX e início do XX, com as suas histórias domésticas, o registro de velhas tradições, as prostitutas segregadas, casos de assombração e assombramento.

Mato Grosso

Livro sobre nada (1966), Manoel de Barros

É um dos trabalhos mais importantes do autor. O título, que veio da frase de Gustave Flaubert “sempre desejei escrever um livro sobre nada”, caiu imediatamente no gosto do público e é até hoje um de seus livros mais conhecidos. Dividido em quatro partes, traz poemas curtos em que desconstrói a linguagem para reorganizar um mundo singular, em que expressa de forma contundente sua adesão a tudo que não tem importância, é solitário ou vazio. Como ele mesmo explica ao leitor, “o ‘nada’ do meu livro é nada mesmo”.

Mato Grosso do Sul

Abusões de Mato Grosso e de Outras Terras (1976), Hélio Serejo

Escritor, jornalista e folclorista, Hélio Serejo trabalhou com seu pai na exploração da erva-mate, na fronteira com o Paraguai, e anotou em 64 caderninhos suas vivências e o vocabulário técnico aprendido no campo. Mais tarde, esse período inspirou suas obras sobre a exploração ervateira na região.

SUDESTE

Espírito Santo

Coisas Simples do Cotidiano (2013), Rubem Braga

Nas crônicas deste livro, Rubem Braga, mestre do gênero, pinta cenas e episódios comuns, incorporando neles sua percepção franca e singela do que realmente importa – ou deveria importar – na vida. As crônicas são acompanhadas pelas ilustrações de Soud.

Minas Gerais

Grande sertão: veredas (1956), João Guimarães Rosa

A obra revolucionou o cânone brasileiro e segue despertando o interesse de renovadas gerações de leitores. Ao atribuir ao sertão mineiro sua dimensão universal, a obra é um mergulho profundo na alma humana, capaz de retratar o amor, o sofrimento, a força, a violência e a alegria.

Rio de Janeiro

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis

Ao mesmo tempo em que marca a fase mais madura do autor, o livro é considerado a transição do romantismo para o realismo. Num primeiro momento, a prosa fragmentária e livre de Memórias póstumas, misturando elegância e abuso, refinamento e humor negro, causou estranheza, inclusive entre a crítica. Com o tempo, no entanto, o defunto autor que dedica sua obra ao verme que primeiro roeu as frias carnes de seu cadáver tornou-se um dos personagens mais populares da nossa literatura e é considerado uma das principais obras literárias do país, se não a principal.

São Paulo

Macunaíma, O Herói Sem Nenhum Caráter (1928), Mário de Andrade

No fundo da floresta amazônica, ao som do murmurejo do rio Uriracoera, nasce Macunaíma, o herói do povo brasileiro. Macunaíma o pinta um Brasil antropofágico de si mesmo, baseado em mitos de povos indígenas da região amazônica e com um extenso vocabulário regional. É um dos romances modernistas mais importantes da literatura brasileira e a obra-prima do autor.

SUL

Paraná

Caprichos e relaxos (1983), Paulo Leminski

O livro reúne os principais poemas que o curitibano tinha escrito até então, muitos inéditos e outros publicados em edições independentes ou na revista de arte e vanguarda Invenção, encabeçada pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e por Décio Pignatari. Os pais da poesia concreta no Brasil haviam adotado, por fim, aquele jovem poeta ilustrado, audacioso e contundente.

Santa Catarina

Broquéis (1893), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905),Cruz e Souza

Cruz e Sousa foi o verdadeiro poeta canibal: Leu, converteu, transformou diferenças e variedades, abrasileirou franceses, influenciou latino-americanos e continua até hoje a nos surpreender. Neste volume estão reunidos Broquéis (1893), livro que deu início concreto ao Simbolismo no Brasil, considerado um marco renovador da expressão poética em língua portuguesa; Faróis (1900), em que o autor adota uma postura mais intimista e Últimos Sonetos (1905), no qual explorou o ideal simbolista de encontrar o poder pleno da palavra. 

Rio Grande do Sul

O tempo e o vento (1949), Érico Veríssimo

 A trilogia ― formada por O Continente, O retrato e O arquipélago ― percorre um século e meio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil, acompanhando a formação da família Terra Cambará. Num constante ir e vir entre o passado ― as Missões, a fundação do povoado de Santa Fé ― e o tempo do Sobrado sitiado pelas forças federalistas, em 1895, desfilam personagens fascinantes, eternamente vivos na imaginação dos leitores de Erico Verissimo: o enigmático Pedro Missioneiro, a corajosa Ana Terra, o intrépido e sedutor Capitão Rodrigo, a tenaz Bibiana.

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