Setembro ainda nem acabou e o número de queimadas na Amazônia já foi maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado, totalizando uma média de 1.400 queimadas por dia. De agosto de 2019 a julho de 2020, houve um aumento de 34% no desmatamento da floresta. Conversamos com a jovem de 18 anos Samara Reis, indígena Borari de Alter do Chão, estudante e embaixadora do projeto Escola D’água, para ter uma visão de dentro sobre o assunto.
A moradora da região amazônica diz que é até difícil falar sobre a floresta e que ela sempre chora. “Vai chegar um momento em que não vai se poder fazer mais nada e saber disso dói muito. Ano passado teve uma queimada onde eu moro muito grande e até hoje ninguém sabe quem foi o responsável. Lembro como se fosse ontem do fogo alto queimando o lugar onde eu ia brincar quando criança. Logo depois que aconteceu, fui ver como estava o local. Completamente destruído”, relata para a CAPRICHO.
Samara tem um frase que leva consigo, dita pela ativista ambiental Severn Suzuki, na ECO 92. “A canadense diz que os adultos sempre ensinam o que é certo e o que é errado, mas então por que eles só fazem o errado?”, lembra a estudante sobre o discurso abaixo:
No primeiro trimestre do ano, a Amazônia bateu recordes de desmatamento. Enquanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alega falta de verbas para proteção da região, descobriu-se que o ministério dele gastou apenas 0,4% dos recursos disponibilizados pelo governo. Dos mais de R milhões autorizados para serem gastos com a criação de políticas públicas e investimento em programas verdes, Salles usou, até o fim de agosto apenas R5 mil.
A estudante, que faz parte do grupo de mulheres “As Karuanas”, indígenas que cantam em defesa das águas e do meio ambiente, lamenta a falta de fiscalização e a impunidade com aqueles que cometem crimes ambientais no Brasil. “Em vários pontos da Amazônia estamos perdemos parte da nossa história. Dói muito ver isso sendo levado pelo fogo, mas o que dói mais é saber que tem pessoas que se negam a ver o que está acontecendo“, diz.
Durante a pandemia de coronavírus, houve um aumento de incêndios em terras indígenas. Apenas em julho, o número de focos de calor foi 76% maior que em comparação ao ano passado. “Recentemente, vi uma reportagem dizendo que as queimadas afugentaram os índios, que eles estavam completamente isolados. Se para mim já machuca perder parte da minha história, imagina para os indígenas mais velhos, que tinham um contato tão direto com ela?“, questiona Samara.
No começo do mês, o ministro Ricardo Salles e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, compartilharam um vídeo falando que a Amazônia não está em chamas. Muitas imagens, contudo, foram feitas pelo Greenpeace Brasil, ONG tão criticada pelo governo Bolsonaro, e “usadas sem autorização, fora de contexto, com o objetivo de promover fake news para desviar a atenção pública da grave situação por que passa a Amazônia”, afirmou a organização em comunicado oficial.
“Meu maior medo é que as pessoas só deem valor depois que perderem a Amazônia, e eu, particularmente, não quero perder minha história, as coisas que eu vivi, os lugares em que brinquei, que são tão lindos e deveriam ser preservados”, diz a jovem, indo contra o que Salles falou no Programa Pânico, da Jovem Pan, na última quinta-feira, 17. O ministro disse que “preservar a história da Amazônia é coisa da Esquerda” e que “é preciso reconhecer que o indígena já está aculturado, a maior parte deles, e querem que o cara volte para a idade da pedra?”. Para Samara Reis, não resta dúvida: “A ambição do homem faz com que ele arrisque a própria vida para conseguir o que deseja”.
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