Para celebrar o aniversário de um ano de lançamento do álbum SIM SIM SIM, a banda Bala Desejo lançou nesta sexta-feira (27) o clipe de DOURADO DOURADO.
Cheio de afeto, a filmagem em Super-8 nos deixa com saudade, mesmo que não saibamos exatamente do quê. O vídeo relembra alguns momentos que Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra viveram durante a produção do disco de estreia. “É um clipe que não tem roteiro, não foi filmado em set. É só a gente voltando nos lugares que passamos quando gravamos o disco: Santa Teresa, a casa da Julia, algumas praias, alguns outros lugares do Rio… É um clipe desprentesioso, e essa despretensão faz sentido com a mensagem do SIM SIM SIM“, contou Zé em entrevista para a CAPRICHO.
Para ele, o clipe é mais uma sensação que qualquer outra coisa, assim como a canção, escrita em um momento em que o músico e Dora, sua parceira de composição, só queriam criar uma “canção bobinha pra ficarem felizes”. Mas é um bobinho que, no fundo, traz uma mensagem importante.
Aliás, o Bala é uma banda repleta de mensagens e simbolismos. “É o foguete Bala Desejo!”, nas palavras de Dora. “O Bala tem isso: a gente acha que entendeu e ele faz mudar tudo”, brinca Julia, que também esteve presente na entrevista, realizada na última quinta-feira (26), um dia antes da estreia do clipe. O encontro aconteceu via Zoom, mas não podia ter sido mais intimista. Morelenbaum estava em seu quarto, Mestre estava no que parecia ser um estúdio e Ibarra estava no Uber. “Podemos atrasar uns minutinhos? O Zé saiu para comprar sorvete”, me avisou o assessor alguns momentos antes da entrevista começar.
O DESEJO DO BALA DE VIVER
Como uma boa ouvinte de Bala Desejo, o que mais me encanta na banda é a energia Novos Baianos que ela carrega. Além do misto de Tropicalismo, Bossa Nova e Brasil profundo. “A referência inicial às vertentes da música dos anos 70 tem muita a ver com a forma como a gente escolheu compor e gravar o álbum, que envolvia um viver coletivo das canções. A gente quis gravar tudo ao vivo, com uma música mais orgânica”, explicou Dora. Mas o Bala vai muito além! Ele é o encontro múltiplo de referências musicais, encontro este que rendeu à banda um Grammy Latino, uma música em Travessia, novela das nove da TV Globo, e um convite de Chico Buarque para abrir a gravação de seu novo DVD no Rio de Janeiro. “De certa forma, o Chico ouviu o Bala, aprovou e até sugeriu pra gente fazer uma música”, revelou Zé, que tocou nos últimos quatro anos com Milton Nascimento.
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Lucas toca com Caetano Veloso, Julia já fez homenagens a Rita Lee e Dora é filha de Jaques Morelenbaum, grande instrumentista brasileiro que tocou com Tom Jobim. Será que, em algum momento, dá para fingir costume com essa turma que é referência no cenário musical mundial? “O espanto com a genialidade dessas pessoas nunca passa”, garante Ibarra.
Além das composições, o Bala tem um jeito autêntico de agir, vestir e tocar. Muito glitter, roupas coloridas, saias, maquiagem, beijos roubados e uma sensação de que a vida pode ser muito mais leve, divertida e menos perigosamente padronizada. A vida pode ser um eterno Baile de Máscaras, mas sem rótulos e sem precisar se esconder por medo ou vergonha. Tudo isso em uma sociedade, como diria Cazuza e Frejat, (ainda) bastante careta e covarde. “Tem os símbolos estereotipados do que seria liberdade, mas eu sinto que esse outro jeito, esse jeito do movimento conservador, é anti-vida. E vida no aspecto amplo da palavra, sabe? Da coisa viva, que pulsa, que tem vontade própria, que anda livremente por aí, que é volátil. E o Bala, principalemnte no palco, tem um negócio que é a entrega total. Então, quando a gente começa a tocar, a coisa acontece de uma forma muito bonita, e é muito vivo! Porque todo mundo se entrega ao máximo, sente muito, é uma suadeira louca! Isso cria uma egrégora de energia muito poderosa, que é sobre vida. Então, além dos símbolos óbvios, que com certeza incomodam, o que incomoda mais é ver uma felicidade pulsante e geral. Esse talvez seja o afeto mais forte que o Bala possa promover contra essa onda reacionária e caretóide. É vida, vida mesmo!”, celebra Zé.
UMA POTÊNCIA COLETIVA
Algo muito comum em shows do Bala Desejo é rever rostos conhecidos, e isso, de alguma maneira, é reconfortante. É aquele negócio de reconhecer amigos. Inicialmente, a ideia da banda era fazer temporadas de shows, como o próprio Chico Burque. Em alguns momentos aconteceu, em outros não. Então, para suprir esse desejo do coletivo, foi criado o Bala Baile Show, uma grande festa do quarteto e sua banda (a Natureza Divina) que conta com a participação de outros amigos artistas, como Sophia Chablau, Ana Frango Elétrico, Josyara, Lucy Alves, e por aí vai. “O baile surgiu dessa vontade de viver o coletivo, de viver essa alegria coletiva, que é muito mais interessante. Ele é justamente a expansão disso, desse criar em conjunto. Foi o caminho que a gente descobriu de reinventar essa alegria coletiva para além da gente”, conta Dora.
Zé completa a fala da colega dizendo que o Bala virou uma família, pois foi criada uma relação de amor muito forte entre as pessoas: “Família é um processo coletivo, é a união. O Bala é um conforto, é um lugar de paz no sentido de afeto, e é muito bom ter uma coisa dessas na vida, assim como é bom ter uma família estruturada. Minha missão pessoal é conseguir criar fora do Bala Deseja tantos lugares de comunhão”. É a galera toda reunida, várias e várias vezes, como bem diz a música Lambe Lambe: “Cai na nossa cama uma semana sem parar; Tim, Tom, Beat, Brack, Ana, Rubel, Chablaubla”.
E apesar da banda ter sido criada durante a pandemia, talvez como um projeto pontual, ela deu muito certo! Julia Mestre entrega que o quarteto está se programando para viver novas imersões, mas que, por ora, não há previsão de um álbum novo e que eles estão focados nas carreiras solo. “Mas o Bala Desejo sempre vai existir, a gente sempre vai estar junto”, garante a artista, que conta que, em breve, o Bala vai lançar um remix para o Carnaval, de uma maneira bem diferente. A gente aposta em um novo Baile de Máscaras, com muitas “balas, brilhos e bandeiras”, “num desbunde geral”!