Blog da Galera: o mundo precisa (re)conhecer mais Lellêzinha, a Nega Braba
Aniké Pellegrini, da Galera CH, entrevistou a atriz e cantora Lellêzinha sobre a história dela, o feminismo, representatividade, entre outros temas.
Oi, pessoal! Aqui mais uma vez é a Aniké Pellegrini e eu trouxe uma matéria mais que especial para vocês. Como já é de costume eu trazer inspirações e entrevistas, para essa edição entrevistei a modelo, cantora, atriz, dançarina e minha “big” inspiração: a Lellêzinha.
Para quem não a conhece, também chamada de Nega Braba, Lelle faz parte do grupo de passinho “Dream Team do Passinho” e já participou de Malhação, da novela Totalmente Demais e da minissérie Mister Brau. Me inspiro muito nela e sei que não sou a única. Por esse motivo, quis saber e apresentar a vocês um pouco dessa mulher inspiradora, empoderada e cheia de atitude que é a Lelle com uma entrevista que, para mim, foi uma honra realizar!
Aniké: Eu vejo muitas entrevistas sobre a Lellêzinha do Dream Team, mas quem é a Lellêzinha fora dele?
Lellêzinha: Fora do Dream Team não tem muita diferença. É essa mulher que trabalha muito, pensa no futuro, nos caminhos que quer seguir, nas músicas e ao mesmo tempo tem uma vida normal, que mora sozinha, passa o tempo com a avó, mães e amigos. Sou uma pessoa totalmente isso: mulher trabalhadora que vive em busca dos seus sonhos.
Aniké: Você sempre foi Nega Braba?
Lellêzinha: De certa forma, sim, porque foi a criação que eu tive. Há algum tempo eu vim aprendendo sobre muitas coisas, principalmente sobre minha identidade, sobre quem eu sou e sobre ser uma mulher negra na sociedade brasileira. Então, ao mesmo tempo que sempre fui, vim aprendendo a ser. É uma construção.
Aniké: Onde você imaginava, no começo de tudo, que ia chegar? E onde você planeja chegar?
Lellêzinha: Para te falar a verdade, eu até me sinto mais realizada do que eu imaginava. É claro que conforme a gente vai chegando, a gente vai querendo mais, mas o meu sonho acho que já foi realizado. Hoje eu sou uma mulher super realizada em questão de trabalho. Agora quero deixar um legado bem legal e claro que esse caminho é uma construção do dia a dia. Onde quero chegar não dá para resumir numa palavra só, porque é muito sentimento, mas um bom legado eu posso te dizer, com muita certeza, que eu quero deixar.
Aniké: Você é uma das minhas inspirações. Quem eram/são as suas?
Lellêzinha: Que bom saber disso, obrigada. Eu sempre gostei muito da Beyoncé como um todo, não só como cantora, mas como postura, como eu queria ser no palco. Então isso, para mim, serviu muito, mas ao mesmo tempo eu tive minha vivência que foi o que me fez ser diferente de tudo. Eu fui criada em uma comunidade do Rio de Janeiro, então tive muito essa cultura do funk e do passinho presente na minha vida. Eu juntei um com outro e nasceu a Lellêzinha.
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Aniké: A mulher negra é automaticamente sexualidade pela sociedade. Como você, que está desde nova dentro da indústria do funk, lida com isso?
Lellêzinha: Minha própria história com o passinho foi dessa forma. Eu fui a primeira mulher a entrar no mundo do movimento. Primeira mulher e mulher negra. Eles me viam de uma forma totalmente sexualizada e, como se aquele não fosse meu lugar, não viam a Lellêzinha, uma menina que estava ali só por diversão. Eu lidei colocando meus limites. Essa imagem é vendida faz muitos anos e tem mulheres batalhando contra isso, incluindo o feminismo nas letras de suas músicas, como a Valesca Popozuda, que era vista como vulgar, mas estava sendo feminista desde muito tempo. Então se alguém faltar com respeito, eu vou dizer que está me desrespeitando. Precisamos ter coragem de limitar e não aceitar o que qualquer homem fala sobre nós.
Aniké: Você está no documentário “A Batalha do Passinho”. Como é fazer parte dessa história?
Lellêzinha: É muito interessante. Foi o começo de tudo, eu olho para essa Lelle que amadureceu, viveu muitas coisas legais e agora está em outro lugar. Eu olho para isso com o maior orgulho, fico “AI MEU DEUS, olha como eu falava, me expressava”, mas desde essa época já tinha algo verdadeiro dentro de mim. Tenho o maior orgulho de estar fazendo parte dessa história e de ter contado um pouco da história do passinho. Foi muito legal e estar ali como a única mulher do movimento é incrível.
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Aniké: Você está num ramo que precisa estar “sempre linda” e “sempre pronta”, que sabemos hoje que isso não existe. Como você lida com os dias em que não está bem consigo mesma?
Lellêzinha: Essa é uma pergunta muito legal, porque isso realmente acontece. Às vezes eu não me acho realmente linda, eu acordo de mau humor, com vontade de ficar em casa… Mas é também o que eu escolhi. Tenho um compromisso muito grande com a minha escolha. Não é todo dia que eu vou me achar linda, mas é normal, faz parte do processo. O sucesso tem seus dias de bad, é claro. A Beyoncé não deve ser achar linda todos os dias e temos que olhar para esse lado de uma forma mais generosa. Tudo bem não ser achar linda hoje!
Aniké: O que você gostaria de ter ouvido quando era mais nova?
Lellêzinha: Foi bom você perguntar sobre isso, porque eu estava falando disso nessa semana. A escola tem um papel fundamental no crescimento da criança e dos jovens. O que eu gostaria de ter ouvido é a história real dos negros. A história que contam não é nem um pouco real. É uma parte da história que contam de uma forma distorcida. Eu queria ter ouvido que, na verdade, não fomos escravos e sim escravizados. Essas questões eu queria ter ouvido e eu converso com meus amigos sobre essa história distorcida que nos passam e agora estão surgindo vários projetos dentro das escolas a respeito disso, que eu acho incríveis e queria ter tido.
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Aniké: Sua autoestima sempre foi alta?
Lellêzinha: Não, até porque na infância e na adolescência nós passamos por muitas coisas e muitos padrões de beleza que, na verdade, não existem. Eu já passei muita química no meu cabelo porque eu achava que precisava disso, minha mãe achava que eu precisava disso e muitas pessoas acham que é dessa forma que os outros vão gostar de você. Mas eu descobri muito cedo que não é assim, posso ter o estilo que eu quiser, contanto que seja eu.
Se ela não é incrível, é porque ela é maravilhosa! A seguir, fica para vocês a música solo daLellêzinha, “Nega Braba”. Confira:
Beijos,
@keke_bp