Quando a gente fala que o bullying praticado em sala de aula não termina na escola, é isso uma das coisas que estamos querendo dizer. No último sábado, 23, Mateus Barboza, de 25 anos, morador de Marília, interior de São Paulo, publicou no Facebook uma troca de mensagens que teve com o filho no WhatsApp. O menino, de 8 anos, estava em uma festinha de aniversário de um colega da escola na companhia de seu melhor amigo, que é negro e começou a sofrer bullying e racismo por parte dos convidados.
“Pai, vem me buscar, fazendo o favor. Não quero ficar na festa do Gabriel(…) Tão chamando o Rafa de preto e gordo(…) Aí eu falei pro pai do Gabriel e pro homem que tá vestido de Minecraft, mas eles deram risada”, enviou a criança para o pai, que logo foi buscar o filho e seu amiguinho. Chateado e incrédulo com a situação, Mateus desabafou nas redes sociais: “extremamente triste com a situação, mas, por outro lado, feliz pela atitude do meu filho em não se juntar aos outros meninos. Mas fica a reflexão. Nenhuma criança nasce preconceituosa e muito menos agressiva, ou seja, ela aprende isso de alguma forma e, na maioria das vezes, é em casa, com base na educação que os pais dão e, principalmente, no comportamento deles. Então, pensem bem no tipo de exemplo que vocês, pais, dão a seus filhos”.
O Brasil é um dos países que apresenta maior taxa de bullying e cyberbullying. Os danos para o futuro de crianças que são vítimas dessa prática são muitos e preocupantes, como ressalta uma pesquisa realizada em setembro deste ano pelo Jornal da Academia Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente, que mostra que adolescentes entre 12 e 15 anos que sofrem bullying têm 3X mais chances de cometerem suicídio.
O bullying sofrido pelo Rafa, melhor amigo do pequeno Gabriel, no caso, é motivado também pelo racismo estrutural que aina é intrínseco em nossa sociedade e passado, tantas vezes, de pai para filho, como Mateus relatou em seu desabafo na internet. O fato de o pai do aniversariante e o outro homem terem rido da situação e debochado da denúncia feita pela criança só reforçam isso.