Eu sempre carreguei a certeza de que ser quem se é, sendo sincero com os outros e não machucando ninguém, não tem nada de errado. Desde cedo, lá pelos meus 14 anos, já sabia que era bissexual – e, não, nunca estive confusa ou indecisa. Meu medo não envolvia o que eu sentia, mas sim o olhar dos outros. Tinha receio da dor que podiam me causar por eu apenas amar fora do que me diziam ser o “certo”.
Nasci em uma cidade com pouco mais de 120 mil habitantes, em que todo mundo se conhece e sabe o que está acontecendo. Me mudei aos 17 anos para São Paulo, cidade que sempre gostei pelo tanto de pessoas e suas histórias, para estudar jornalismo. Inclusive, talvez você já tenha visto alguma matéria minha por aqui, pois sou estagiária de Comportamento da CAPRICHO!
Apesar de querer usar minha voz e gritar para o mundo quem eu era, levou um tempo até me sentir pronta e corajosa o suficiente para enfrentar o que poderia vir. E eu enfrentei. Uma reflexão que vi na internet me marcou muito nesse processo. Ela dizia que não somos nós que devemos ter vergonha pelo preconceito do outro. Não sou eu quem devo soltar a mão da pessoa com quem estou por causa de um olhar. Quem está encarando é quem deve se envergonhar pelos seus julgamentos. Para mim, meu sentimento sempre foi simples: me atraio por homens e mulheres, independentemente do gênero. Acho engraçado quando as pessoas duvidam ou dizem que não é possível, que “ou você gosta de uma ou de outra”, porque estou aqui e provo que não existe nada disso. Não estou confusa, não é uma fase e minha sexualidade não vai mudar caso eu esteja namorando um homem ou uma mulher.
Sei que se posicionar nem sempre é fácil, principalmente quando se é novo e dependemos de outras pessoas, mas agradeço a todos que puderam fazer isso. Representatividade para mim é importante, porque, alguns anos atrás, quando achei que estava sozinha, ver outras pessoas falando publicamente que eram igual a mim e estava tudo bem, me fez sentir como se houvessem pessoas do outro lado da tela segurando a minha mão. Hoje eu quero poder dar força para quem precisa, como alguns já fizeram por mim e nem sabem.
Me espanto quando ainda hoje esbarro com discursos do tipo: “Não aceito, mas respeito”. Como assim você não aceita? Alguém pediu a sua permissão para ser quem é ou amar? Como alguém pode querer opinar sobre assuntos da vida de terceiros que não lhe afetam? Não faz sentido. Sim, o gênero e a sexualidade de uma pessoa não determinam coisas importantes como o caráter dela, então por que há quem se preocupa tanto com isso? A grande maioria das pessoas LGBTQIA+ que conheço também me fala que sempre foi mais difícil lidar com a sociedade do que com o que sentiam. Se existe amor e respeito, quem deve mudar ou procurar entender algo é aquele que está incomodado com o afeto e não quem está amando e apenas vivendo.
Não posso me esquecer de dizer que, depois de um tempo e algumas conversas, tive o suporte de grande parte do meu círculo: minha família e meus amigos (o que infelizmente ainda não é uma realidade para a maior parte dos jovens da comunidade). Desejo que as famílias de cada pessoa LGBTQIA+ saibam disso e transformem o lar em um lugar de acolhimento, porque o que cada um é não vai mudar, mas vocês podem decidir estar com a gente e nos dar força.
O mês de junho, e principalmente o dia 28, que ficou marcado pela Revolta de Stonewall, são importantes porque ainda precisamos conquistar muitos direitos que nos foram negados, lutar para que os nossos não sejam mais alvo de violência e construir um futuro com menos preconceitos para as próximas gerações. E garanto: quando a gente se une e celebra quem é, ganha ainda mais coragem, e isso é poderoso!