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Com 90% de modelos negros, Emicida quer mais é causar no mercado da moda

Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, Emicida e Fióti, donos da marca LAB, falam sobre diversidade nas passarelas: 'é fazer história'.

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 22 jul 2018, 18h38 - Publicado em 22 jul 2018, 18h38

Depois de participar de três temporadas da Semana de Moda de São Paulo, a marca LAB, dos cantores e empresários Emicida e Fióti, ousou ao lançar a coleção “A Rua é Noiz”, em parceria com a C&A, em um desfile gratuito e aberto ao público, na última quinta-feira, 19, em São Paulo.

No final do desfile, os modelos entregaram um vaso de arruda para o público. Marcelo Soubhia/Fotosite/Reprodução

A brand ficou conhecida por suas coleções que valorizam a cultura afro-brasileira e pela diversidade em seu casting de modelos. Desde o primeiro desfile, em 2016, 90% dos modelos são negros. Além disso, peças plus size nunca ficam de fora das coleções, o que deveria acontecer em todos as marcas.

Se os eventos de moda ainda não são acessíveis para todos, o lançamento de “A Rua é Noiz” colaborou para a mudança desse cenário ao convidar os seguidores da marca para conferir com exclusividade as peças que estarão disponíveis em 80 lojas C&A de todo o Brasil a partir da próxima terça-feira, 24.

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Mais do que ter a oportunidade de ver um desfile de perto, os olhos atentos na plateia puderam se reconhecer nas particularidades e diversidade dos modelos. Pertencimento. Arrisco dizer que esse é um dos motivos para a marca despertar tanta emoção em quem acompanha, além de provocar críticas necessárias sobre ausência de representatividade. Em referência à música Triunfo, que marcou o início da sua carreira e completou dez anos em 2018, Emicida agradeceu e compartilhou o resultado positivo do trabalho com a frase: “se o triunfo não for coletivo, é do sistema”.

Confira a seguir a entrevista que eu, Ana, colunista da CH, fiz com os cantores Emicida e Fióti.

Stefanie, Dory de Oliveira, Emicida, Drik Barbosa, Souto MC e Fióti se apresentaram no evento. Marcelo Soubhia/Fotosite/Reprodução

Ana: A LAB ganhou muito destaque com os desfiles surpreendentes no SPFW. Qual era o principal objetivo de vocês ao participar do evento?
Emicida: Causar. (risos) A moda é um retrato do tempo. Pra gente, era muito importante criar um registro do nosso tempo e que fizesse justiça ao lugar de onde a gente veio, circula e está hoje. Inclusive, a gente encontra com pessoas pretas, gordas, altas, baixas, fortes, e vê beleza em todas. Por isso, queremos elas na nossa passarela, principalmente do ponto de vista das cores. Talvez a gente tenha a paleta de cores mais variada do mundo em questão de pele, mas, quando você olha para as grandes passarelas, isso não está representado.

Ana: Qual é a sensação de apresentar pela primeira vez um desfile aberto ao público?
Emicida: Entregar um desfile lindo pra essas pessoas é fazer história. Foi mágico estar no SPFW e tenho uma gratidão eterna. Mas existem muitas pessoas que não têm acesso ao evento e a gente tem acesso a essas pessoas. E muitas delas já se sentiram feias, inferiores e fracas. Agora todas eles que acompanharam o desfile saíram daqui acreditando que podem fazer o que bem entender.

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Ana: Qual é a pegada dessa nova coleção?
Fióti: A gente se inspirou no DNA do jovem urbano contemporâneo, principalmente o brasileiro. A coleção é 100% comercial e para o dia a dia. As pessoas vão poder usar pra ir trabalhar, ir à praia ou até em uma reunião.

Ana: Um dos problemas mais urgentes no mercado da moda é a mão-de-obra explorada. Quais foram os cuidados que vocês tiveram em relação a isso?
Fióti:
A gente fez uma pesquisa grande para encontrar uma marca para trabalhar com a gente. A C&A tem processos e é uma companhia que se preocupa com isso. A pessoa que está na linha de frente fazendo essa produção tem que ter consciência da responsabilidade que ela adquiriu. É uma questão delicada e que precisamos olhar de todos os lados. Foram dois anos procurando possibilidades até chegar nesse resultado.

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entrevistei pela primeira vez os caras que conseguem unir moda, música e questões raciais de um jeito ímpar. parabéns, @lab_fantasma ✊🏿! E obrigada pela oportunidade, @capricho 💕

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Ana: O que motivou a mudança da produção independente da LAB para essa parceria com a C&A?
Fióti:
Não era uma possibilidade continuar do jeito que estávamos. A gente queria comunicar com o grande público da maneira que estamos fazendo agora. Além disso, as pessoas queriam peças mais acessíveis, mas a venda só por e-commerce era um fator limitante.

Emicida: Tem uma pessoa em Pernambuco ou no Rio Grande do Sul que se identifica com a LAB e acha que aquele signo faz parte da vida dela, mas, de alguma maneira, ela não conseguia ter acesso ao produto. Com a aproximação de uma empresa do porte da C&A, você leva isso até um ponto próximo da pessoa.

Ana: O street wear é um dos estilos mais livres da moda. O que não podia faltar nessa coleção que traz a rua como destaque?
Emicida:
Conforto. O hip-hop sempre foi sobre conforto tanto na roupa como no seu lugar dentro da sociedade. Então, a primeira coisa que a gente pensa é que eu só vou fazer uma roupa que usaria e me sentiria f#d@ usando.

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Ana: Como é trabalhar ao lado do seu irmão?
Emicida:
O Fióti é o chão e eu sou o ar. Ele é um cara emotivo, mas muito racional e consegue organizar a produção de um jeito incrível. Eu tenho um pouco disso, mas prefiro atuar na criatividade. Sempre fiz tudo ao mesmo tempo e acabo amontoando as coisas. Ele fica doido e me fala que não vai dar tempo, mas na hora a gente resolve. Já foi pior. (risos)

Ana: Qual o papel da LAB na construção da identidade da juventude negra?
Emicida:
Criar possibilidade. Realmente, a gente vive em um mundo muito difícil, mas pra baixo todo santo ajuda. Então, é importante que a gente acredite e se mova pra construir a mudança. Cada marca começa a ser um espécie de símbolo e representação. E acho incrível que a gente conseguiu transformar a nossa em um símbolo de sonho, de verdade e de origem. As pessoas encontram com a gente e dizem que, depois de terem contato com o que críamos, entenderam que não precisam se transformar em outra pessoa para ocupar determinado lugar. Esse é o maior prêmio que podemos receber.

Se você quer sugerir um entrevistado ou um tema para ver aqui na coluna “O Nosso Lado da História”, pode deixar as sugestões nos comentários ou mandar um e-mail para anacarolipa16@gmail.com.

Beijo,
@anacarolipa

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