A gente paga internet para muitas coisas: ler notícias (mas nada de fake news, hein?), ver vídeos fofinhos de animais no Instagram, assistir a filmes e séries nos streamings, conversar com os amigos, fazer testes na CH, aprender dancinhas, ver vídeos de Tarot… Mas tem muita gente pagando internet – ou usando uma internet que está sendo paga pelos pais – para participar dos famosos “desafios mortais” das redes sociais. A onda do momento – que é antiga, mas voltou a se tornar um viral – é fumar cotonete.
Se você acha a ideia absurda e sem sentido, saiba que o viral anda atraindo cada vez mais adeptos que, em troca de likes e visualizações, se submetem à modinha. A trend é simples: a pessoa acende um dos lados da haste flexível e traga a fumaça que sai do outro. Algumas pessoas chegam até a colocar essência no algodão, para que a fumaça fique com sabor. O Desafio do Cotonete é um viral em vários países, como no Brasil e em Portugal, e já foi informado que o hábito vem sendo notado também nas escolas, ultrapassando a barreira do online.
Para o neurocientista luso-brasileiro Fabiano de Abreu Agrela, “a necessidade de chamar a atenção, de ser visto, faz com que alguns jovens sem conhecimento tomem atitudes que para os mais sabidos parecem imbecis”. Ele justifica tais ações usando a imaturidade que, aliada ao uso indiscriminado de aplicativos como o TikTok, pode ser bastante prejudicial. Afinal, tem muita coisa legal na internet, mas têm muita coisa negativa também.
Com relação aos danos para a saúde, Fabiano explica que as substâncias químicas tóxicas produzidas pela combustação do algodão e do plástico afetam o pulmão e o cérebro. “A inalação de fumaça causa danos cerebrais caracterizados por ativação de astrócitos, danos neuronais e axônicos mielinizados e hemorragia. Partículas nos pulmões ou na corrente sanguínea podem alertar o sistema imunológico e desencadear inflamação no cérebro”, pontua o médico.
Além disso, o ato de fumar cotonete pode causar queimaduras e intoxicação, que pode acarretar em um episódio de insuficiência respiratória aguda. Pode haver também a piora de quadros de asma, bronquite e alergias, como a rinite.
O nerocientista ainda garante que o cotonete nem deveria ser um item de primeira necessidade em casa, pois, se usado de forma errada e frequente, mais atrapalha a lubrificação natural no canal auditivo que outra coisa. “A cera de ouvido atua como uma barreira que impede a sujeira e objetos estranhos de entrar no tímpano. Os cotonetes podem empurrar a cera para dentro do canal auditivo e causar danos temporários ou permanentes“, explica.
Fora toda o debate ambiental que cai por terra com um desafio como este, que usa uma haste flexivível de plástico de maneira inteiramente questionável e perigosa. Ou seja, é a saúde pessoal e do planeta que mais uma vez está em jogo por causa de um capricho egocêntrico em troca de views – ou de puro e nocivo desconhecimento.
Será que vale mesmo tudo por um like ou a “zoeira” pode acabar custando caro?
