A definição de jogos indie é muito ampla. Além de serem independentes em vários sentidos, os games precisam carregar a essência de seus criadores do começo ao fim. É por isso que, geralmente, eles são feitos por pequenas empresas e poucas pessoas. Essa é a pegada do MiniBoss, um estúdio independente, localizado em São Paulo, que cuida do desenvolvimento e até mesmo da criação de jogos. Durante a exposição A Era dos Games, a Isa Otto, repórter de comportamento da CAPRICHO e apaixonada por Alex Kidd e GTA, conversou com Amora Bettany e Heidy Motta, representantes femininas que, junto com Pedro Medeiros, formam a atual equipe fixa do MiniBoss.
Apesar de o cenário estar mudando, Amora garante que ele ainda é bastante machista. Contudo, ela fica feliz ao notar que cada vez mais meninas estão se unindo e trabalhando entre si ao invés de tentarem entrar em um grupo fechado formado apenas por homens. De acordo com a desenvolvedora de games, essa é a melhor maneira de mostrar que as minas são tão capazes quanto os caras. “Ainda rola resistência em relação às mulheres na tecnologia. Infelizmente, o videogame ainda se encontra na esfera de coisas ‘de menino’. Todas as minhas amigas que programam e trabalham com jogos têm um atrasado em relação aos meus amigos homens, que são estimulados desde cedo a praticarem”, afirma.
A desenvolvedora de 30 anos teve sorte! Desde pequena, ganhava videogames dos pais. Quando cresceu e decidiu seguir a área do desenvolvimento, o baque foi menor em todos os sentidos. Durante sua carreira, TowerFall (2013) foi um dos jogos mais marcantes com o qual já trabalhou. Além de ter vários meninos vestidos com roupas cor-de-rosa, por exemplo, o game tem praticamente a mesma quantidade de personagens femininos e masculinos, e é considerado um marco na história dos projetos indie.
“O foco na área de jogos agora deveria ser exclusivamente as minorias. Os games ficariam muito mais interessantes para todo mundo! Se você diversifica a equipe, traz vivências diferentes”, afirma Amora, que admite já ter sido vítima do próprio machismo. No começo, ao responder os e-mails do MiniBoss, ela assinava com o nome de Pedro. “Eu nem considerava assinar como Amora, porque sabia que o tratamento seria diferente. As pessoas me respeitavam mais por ter um cara junto’, afirma a também jogadora.
Heidy, que cuida da parte administrativa do estúdio independente, não vê tantas garotas desenvolvedoras. Ela acredita que o trabalho dela, da Amora e de outras mulheres no mercado de games incentiva outras meninas a aparecerem e seguirem seus sonhos. “O pessoal é mais receptivo e mente aberta. Na área em que atuava antes (Relações Internacionais), tinha muito mais gente preconceituosa e fechada”, lamenta.
Uma das coisas que mais incomoda as meninas gamers é o fato de elas estarem sempre sendo colocadas à prova, enquanto os homens não são testados constantemente. Isso é um reflexo da sociedade em que vivemos e do próprio Governo, que, segundo Amora, não incentiva nem dá muita liberdade para a arte em geral. “Os caras deixam os jogos gringos supercaros para tentar ajudar o mercado nacional, mas o que temos aqui ainda não é tão bom. É uma empresa ou outra. Não dá para comparar com o resto do mundo. Mas a cada ano que passa, a qualidade e a quantidade estão melhores”, comemora a desenvolvedora, que gostaria de ser a Jade, sua personagem favorita de Beyond Good and Evil, por um dia: “Ela é uma fotógrafa muito corajosa!”.
Atualmente, Amora e seus parceiros de equipe (cuja maioria são mulheres, sendo uma trans) estão trabalhando no desenvolvimento do game Celeste, que chega para Nintendo Switch, PS4 e Steam em 2018. Para acompanhar o trabalho do estúdio independente, curta a página oficial do MiniBoss no Facebook.