Entre setembro e outubro do último ano, o Brasil se emocionou com os capítulos finais da novela A Força do Querer, da Rede Globo, mais precisamente com a história de Ivan, interpretado por Carol Duarte. O homem trans, antes da transição, era conhecido como Ivana e Glória Perez, autora da novela, pesquisou bastante sobre o assunto e iniciou toda uma discussão sobre identidade de gênero que muitos brasileiros ainda não tinham em casa. A novela chegou ao fim, mas o debate sobre transexualidade não pode terminar.
É claro que muita coisa da trama foi romantizada, afinal, muitas pessoas conheceram a realidade de uma pessoa trans através do Ivan. Pessoas mais velhas, que ainda são mais resistentes com assuntos do tipo. Era preciso alcançá-las. Era preciso alcançar o maior número de brasileiros possível. Afinal, uma pesquisa realizada pela ONG Transgender Europe, em 2016, mostra que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. A violência começa com a marginalização dessas pessoas e termina com a agressão física que, na maioria dos casos, leva à morte.
A violência também é, muitas vezes, usada como forma de “cura”. Em 2014, um pai espancou seu próprio filho até a morte para ensiná-lo “a ser homem”. Não são raros os casos em que os familiares não entendem o que é ser transexual e acham que tudo não passa de uma doença. E para toda doença existe uma cura, certo? Errado. A transexualidade não pode nem deve ser tratada como patologia. Não é uma “doença de identidade”, é uma”questão de identidade”. Uma pessoa trans não se identifica com seu gênero biológico. Usemos mais uma vez o caso de Ivana. Quando nasceu, ela ganhou uma etiqueta no hospital que dizia que ela era do sexo feminino, por ter uma vagina. Contudo, com o tempo, ela percebeu que não se identificava com o gênero feminino, por mais que as pessoas insistissem em dizer que, se ela tinha um órgão sexual feminino, era sem dúvida uma menina. Ela não era, ela não se sentia como uma garota.
Entre 2008 e 2016, a França era um dos países que menos fazia vítimas pela transfobia. O Brasil liderava a lista. De 5 vítimas na França para 868 no Brasil. As taxas elevadas de suicídio também preocupam. Em muitos casos, a disforia de gênero vem acompanhada de algum transtorno psicológico, como depressão. Quando a pessoa, que já está lidando com questões pessoais de identidade, não encontra apoio em parentes e amigos, tende a enxergar a si mesma como um problema sem solução, um caso perdido. O suicídio é, muitas vezes, a única resposta. Mais uma vez, a transfobia faz vítimas.
É essencial que a discussão sobre identidade de gênero não seja esquecida com o fim de A Força do Querer. Há projetos que pretendem tirar de vez debates sobre gênero nas escolas e isso é um absurdo! A falta de informação é o primeiro passo para a intolerância. Os jovens, de alguma maneira, já estão crescendo em ambientes muito mais tolerantes (mesmo que a intolerância ainda reine em alguns países e na própria internet). Fato é que as pessoas estão falando muito mais abertamente sobre identidade e disforia de gênero, orientação sexual, transfobia. Proibir tais discursos seria retroceder uns bons anos. Nenhum jovem se torna transexual por influência ou modinha. A transexualidade, assim como qualquer questão de identidade, é ditada por questões internas e não externas, como muitos insistem em acreditar.
Na web, há uma série de pessoas que divide seu dia a dia de forma bela e sábia. Thiessita e Ariel Modara, que participaram do vídeo abaixo esclarecendo dúvidas sobre transexualidade, são alguns desses nomes. No site transervicos.com.br, também é possível encontrar um monte de informações sobre o assunto, para quem é leigo e quer saber mais sobre ele e para quem está precisando de suporte.
Você é bem-vinda(o)! <3