Quando a gente pensa que não dá para piorar, vem a surpresa (nem tão surpreendente assim). Na última quarta-feira, 9, o Observatório do Clima divulgou um relatório analisando as mudanças recentes realizadas pelo Ministério do Meio Ambiente com relação ao Acordo de Paris, que visa reduzir a quantidade mundial de gases do efeito estufa emitidos até 2030. A novidade foi que, ao alterar a meta, o governo Bolsonaro, cujo representante no ministério em questão é Ricardo Salles, permitiu que uma maior quantidade de gases seja liberada nos próximos dez anos. Não deveria ser justamente o contrário?
Na meta inicial, traçada em dezembro de 2015, o objetivo era emitir até 516 milhões de toneladas de gases até 2030. Agora, é permitido 688 milhões de toneladas, ou seja, 172 toneladas a mais. Logo, limitar o aumento do aquecimento global a 1,5ºC até 2030, como prevê o tratado, não parece ser uma prioridade para o país.
Para a rede Observatório do Clima, o indicado, dadas as circunstâncias, principalmente levando em conta que em 2020 as queimadas na Amazônia e no Pantanal bateram recordes, seria que o país liberasse nos próximos dez anos até 400 toneladas de gases poluentes.
Todos os países do Acordo de Paris fizeram mudanças em suas metas recentemente. Se com elas a Europa deseja alcançar a neutralidade nas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2050, o Brasil, junto da China, deu uma esticadinha no prazo para 2060.
O Ministério do Meio Ambiente disse que, para cumprir a meta, pretende acabar com o desmatamento ilegal, reflorestar 12 milhões de hectares e assegurar 45% de fontes renováveis na matriz energética nacional. Não foi detalhado, contudo, como esses planos serão colocados em ação. Além disso, fica (mais) aquela pulga atrás da orelha: se ao redefinirem a meta, eles afrouxaram os números, seriam essas medidas o máximo que poderia ser feito ou, de novo, tudo não passa de um desmonte envolvendo questões ambientais? Afinal, com mais gases tóxicos, fica mais fácil garantir aquela cortininha de fumaça…