A frase título desta matéria foi dita por Marina Silva, deputada federal por São Paulo, durante o terceiro e último painel do evento #SuperMeninas22, realizado pela Girl Up Brasil com o apoio da CAPRICHO, que debateu clima e meio ambiente. Silva, de 64 anos, foi reeleita nas Eleições de 2022 e está de volta ao universo da política partidária oficialmente. Ela, que é defensora do meio ambiente e das causas ambientais, acredita que não há outro caminho se não a coletividade.
Mediado por Nathaly Shige, representante do Girl Up, o debate também contou com a participação da Amanda Costa, jovem ativista climática, embaixadora da ONU e fundadora do Perifa Sustentável, e da Adâmara Felício, economista especialista em clima e sustentabilidade. A necessidade de democratizar o debate e trazê-lo para a realidade deu o tom da conversa.
“A humanidade vive sobre o ideal do ter. E sobre este ideal, o planeta é limitado, porque as pessoas têm capacidade infinita de desejar. Mas a humanidade não foi sempre assim. Ela caminhou a maior parte do tempo fincada no ideal do ser. Com o mercantilismo, contudo, houve um deslocamento e colamos no ideal do ter. Mas agora vamos ter que retomar nossas origens”, pontuou a deputada.
A rede de apoio é essencial para aqueles que trabalham em coletividade. Ou seja, é essencial a todos nós na condição de seres humanos vivendo em sociedade. “A natureza é o espaço comum aonde todos nos encontramos, e dentro desse espaço comum, essa luta é de todos. Meio ambiente não é tema de esquerda ou direita. É tema do ser humano.”
Um exemplo na prática disso é que, todos os anos, é noticiado que a causa das inundações e deslizamentos e enchentes são as causas naturais. “Cada vez mais o regime de chuvas tende a ser alterado, o que causa alagamentos e enchentes, e este é o cenário da preservação ambiental no Brasil agora”, alerta Adâmara Felício. Em sua fala, ela destacou que isso já é dito há pelo menos 30 anos, quando a relação destes fenômenos ao aquecimento global começou a ser feita.
A natureza é o espaço comum aonde todos nos encontramos, e dentro desse espaço comum, essa luta é de todos
Marina Silva
E as movimentações sociais são importantíssimas para fazer a diferença nesse cenário, viu? “Quando a gente começa a mobilizar nossos grupos, a gente causa um efeito transformador”, aponta Amanda Costa, uma das jovens brasileiras que irá até a COP (Conferência das Partes – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) desse ano, realizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em Sharm El-Sheihk, no Egito. “Eu não estou lá sozinha; eu estou levando a voz da nossa comunidade. É reivindicar um lugar de tomada de decisão”, disse.
Tão importante quanto o papel das jovens mulheres no ativismo ambiental é a saúde mental de cada uma delas. “Nós só conseguimos fazer o bem quando não estamos bem”, pontua a ativista.
“Por muito tempo, as mulheres negras precisaram ocupar esse lugar de mulheres fortes, e essa é uma lógica também opressiva. Então, primeiros precisamos desconstruir esses lugares de que os ativistas precisam salvar o mundo. A gente precisa colocar a vulnerabilidade de uma forma diferente, porque a vulnerabilidade pode ser força.”
Precisamos desconstruir esses lugares de que os ativistas precisam salvar o mundo
Amanda Costa
Pois é. Não é fácil carregar essa tarefa, né? Adâmara Felício, em sua fala, contou que em entrevistas de processos seletivos para a pós-graduação é recorrente mulheres serem questionadas sobre maternidade e casamento. Segundo ela, falas como essas criam barreiras para as mulheres e também afetam a saúde mental.
“As mulheres na graduação não vão apenas para conquistar seu título; elas vão para disseminar conhecimento e impactar a renda familiar. A educação é muito importante no enfrentamento contra a pobreza. Financiamento púbico e participação da mulher na ciência são essenciais. Não existe um caminho possível se não houver equidade de gênero”, disse a economista.