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Mesmo sem investimentos, Brasil bate recorde na Copa Mundial de Física

'Por dois anos consecutivos, a gente não teve patrocínio e precisou fazer vaquinha online', conta Matheus Pessôa, capitão da equipe medalhista.

Por Isabella Otto 28 jul 2018, 14h29

Em abril, aconteceu a Copa do Mundo de Física (conhecida internacionalmente como International Physicists’ Tournament ou, simplesmente, IPT), na Rússia, mesmo país que alguns meses depois sediou a Copa do Mundo de Futebol Masculino. Matheus Pessôa, de 20 anos, foi o capitão da equipe que conquistou um título inédito: pela primeira vez, o Brasil subiu ao pódio e voltou para casa com o terceiro lugar – diferentemente do que aconteceu com a Seleção Canarinho. É verdade que não dá para comparar muita coisas além do “f” de física e futebol, mas, se sobra patrocínio e apoio de um lado, falto do outro. “A faculdade ajudou como pôde, porém, pelo segundo ano consecutivo, a gente não teve patrocínio e precisou fazer vaquinha online“, conta o estudante da UFABC (Universidade Federal do ABC).

André Juan, Andrius Dominiquini, Gustavo Saraiva, Henrique Ferreira, Lucas Maia, Lucas Tonetto e Matheus Pessôa foram os integrantes do IPT 2018 (não necessariamente na ordem da foto). Arquivo Pessoal/Reprodução

Aliás, foi Matheus quem descobriu a Copa de Física e incentivou a faculdade a criar um time para competir. No ano passado, o Brasil ficou em 11º lugar em sua estreia. Neste ano, o recorde chegou: “foi a primeira vez que um time não-europeu chegou à final!”, comemora o futuro físico, que lamenta o fato de nem as pessoas nem a mídia demonstrar tanto interesse na competição. “A UFABC sofreu cortes drásticos de investimento, mas, mesmo assim, a gente conseguiu mostrar para o mundo que é possível. Mesmo não tendo tudo o que outros países, como a França, têm. Se o Brasil tivesse mais investimento na educação, imagina o que a gente não conseguiria?“, questiona.

No último torneio, a equipe brasileira precisou enfrentar o buraco negro supersônico. Calma! Esse foi o tema escolhido para estudo. E se você está se perguntando como funciona uma Copa do Mundo de Física, Matheus explica: “a ideia da competição é você ir até o laboratório, fazer infinitos experimentos e propor uma teoria para aquela questão. As outras equipes depois te desafiam e você tem dez minutos para apresentar seus resultados“. Neste ano, a Suíça levou a medalha de ouro e a França ficou com a de prata, mas os estudantes brasileiros têm muito do que se orgulhar! “Aqui no Brasil, muitas vezes, a parte teórica é muito mais forte que a prática”, ressalta.

“I’m feeling supersonic’, disse o Oasis e esse buraco negro. (risos) Arquivo Pessoal/Reprodução

Um dos integrantes do time quase desistiu do sonho pois não tinha dinheiro para bancar os gastos da viagem. É bastante desanimador, mas Matheus e seus colegas não se deixam abater. Inclusive, eles criaram um projeto de extensão que vai até instituições de ensino do Brasil e ensinam física de um jeito divertido, encaixando a matéria em situações do cotidiano. “Só ganhando a Copa a gente não muda a realidade de ninguém”, garante. No próximo ano, contudo, o pessoal da UFABC espera receber mais incentivo (especialmente financeiro) dos órgãos públicos – e de empresas privadas interessadas, por que não?

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Se no ano passado a equipe tinha uma menina, neste ano ela foi formada apenas por homens. “Isso é ruim. No ano passado tínhamos a Isabella, mas ela acabou saindo por conta do estágio. A gente não quer que as meninas não se sintam representadas, mas, na física, as meninas ainda são minoria. Queremos estimular todas as pessoas!“, conta Matheus Pêssoa, que revela ainda que a Ucrânia era um dos países com mais participantes mulheres.

O pessoal do IPT na ETEC Getúlio Vargas, em São Paulo, ensinando física de um jeito interativo para os jovens. Arquivo Pessoal/Reprodução

No terceiro ano da graduação, o futuro físico ainda não sabe se começa outro curso quando se formar (engenharia aeroespacial, provavelmente) ou faz mestrado e doutorado. Ou ainda se não faz tudo junto e misturado! Não falta vontade para nossos estudantes. Nem oportunidade. Só falta mesmo investimento – mas a gente ainda tem esperanças de que o “país do futebol” vai virar esse jogo. Ou seria o “país da física”?!

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