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Não dá pra querer salvar a Amazônia e continuar comendo carne em excesso

Uma porção por dia basta, cerca de 500g por semana, mas o brasileiro come muito, muito mais. Necessidade do organismo ou algo puramente cultural?

Por Isabella Otto Atualizado em 20 set 2019, 19h37 - Publicado em 20 set 2019, 14h00

A Amazônia continua em chamas. Quando os incêndios começaram, em agosto, muitos especularam que o motivo seria natural, já que a região estava vivendo seu período de seca. Entretanto, a Floresta Amazônica não é um bioma propenso a incêndios naturais, mesmo em épocas de extrema seca. Descobriu-se então que as queimadas constantes estavam relacionadas à exploração do solo.

Brasil2/Getty Images

Se plantações agrícolas vêm logo à sua cabeça, pense novamente. A região Norte do Brasil é uma das que mais lucra e gera lucro com a pecuária. Consequentemente, é uma das que mais desmata para a criação de pastos. Apesar de o Pará, um dos estados com maior rebanho bovino do país, ter iniciativas como a “Pecuária Sustentável”, a demanda é intensa por causa da grande procura por carne da população brasileira, tornando a pecuária insustentável e os desmatamentos já quase inflexíveis.

Apesar de o Brasil exportar carne para o mercado externo, como Japão e China, o mercado doméstico é aquele que mais gera lucro. 80% da carne produzida no país é comprada por brasileiros. Isso equivale a 85% do desmatamento ligado á produção de gado.

Um mapeamento recente realizado pela Trase, um projeto criado pelos institutos de pesquisa Global Canopy e Stockholm Environment, mostra que, entre 2015 e 2017, cerca de 5.800 km² da Amazônia foram destruídos para uso da indústria pecuarista. Isso equivale a quase quatro cidades de São Paulo.

Mas não há supervisão? Existem leis de proteção à Amazônia Legal, constituída por nove estados do Brasil pertencentes à bacia Amazônica. As empresas também vivem se justificando. Em entrevista ao Estadão, por exemplo, a JBS, uma das maiores redes de frigorífico do mundo, disse: “Proibimos a entrada de gado de fazendas com desmatamento em nossa cadeia de fornecimento”.

Contudo, em meio aos caos global gerado pelas queimadas na maior floresta tropical do mundo, Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, disse que a fiscalização não é algo que possa resolver a questão do desmatamento. “Ah, tem que fiscalizar? Bom, mas são 5 milhões de km². Não é como fiscalizar uma praça. É uma área gigantesca. A gente vê o tema da imigração ilegal. A turma não consegue fiscalizar nem a fronteira ali. Quiçá fiscalizar de maneira eficiente um território tão grande. Precisa fazer operação de controle como o governo está fazendo? Sim. Mas só isso vai resolver? Me parece que não“, ironizou em coletiva de imprensa.

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Uma reportagem do Mongabay destaca uma prática comum chamada “Lavagem de Gado”. Ela é feita por pecuaristas e visa burlar a fiscalização – que já não é lá muito eficiente. “Uma técnica utilizada é a de continuar a engordar o gado em terras desmatadas ilegalmente, transferir o gado para um pasto legal dias antes de encaminhar os animais para os abatedouros, escondendo, assim, sua verdadeira origem”, destaca o veículo, explicando como a atividade ilegal é feita. Segundo Paulo Adario, ambientalista do Greenpeace, “o gado é o pior problema ambiental na Amazônia e no mundo todo“.

Trecho retirado da reportagem publicada na Mongabay sobre o documentário “Sob a Pata do Boi”, em 18 Junho 2018, escrita por Anna Sophie e traduzida por Mariana Almeida Mongabay: Jornalismo Ambiental Independente/Reprodução

Então, o que é preciso fazer? Virar vegetariano? Vegano? Não. Mas é preciso que o brasileiro diminua a quantidade de carne que ingere diariamente. Não é preciso acabar com o churrasquinho de domingo, mas será que o corpo precisa mesmo que você coma carne bovina no almoço e no jantar? Diversos estudos alertam para os perigos do consumo excessivo do alimento, que aumenta os riscos de infarto, derrame e câncer, inclusive o de mama. Aderir a movimentos como o “Segunda Sem Carne” já é um grande primeiro passo para sentir seu corpo e repensar seu consumo de carne, tornando-o mais consciente. Será que você precisa mesmo de toda essa carne que come? Também é importante pesquisar sobre a procedência da comida que você está comprando. Será que ela é uma “Carne Orgânica”, ou seja, produzida a partir de um sistema ecológico que afeta o mínimo possível o meio ambiente? Quais outros alimentos podem substituir a carne vermelha? E se você comer um bife no almoço e, no jantar, substituí-lo por um refogado de escarola, uma salada de rúcula, uma sopa de feijão ou até mesmo um “hambúrguer” de grão-de-bico?

A questão do brasileiro e de tantos outros povos com relação ao consumo de carne é muito mais cultural, de costume, que fisiológica. Sabe a “mistura” para o arroz e feijão? Ela não precisa ser apenas de origem animal. De vez em quando, ela pode, é claro, dependendo do estilo de vida que você segue. Não precisa mudar bruscamente nem é aconselhável fazer isso, mas os pastos estão ameaçando um dos principais ecossistemas da Terra e continuamos descontando nossa tristeza e preocupação em uma churrascaria qualquer.

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