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O Orkut foi a melhor e menos tóxica rede social que já tivemos?

Há quem diga que as pessoas não estão prontas para essa conversa, mas vamos tê-la assim mesmo!

Por Isabella Otto 30 abr 2022, 10h05

O Orkut voltou. Ou vai voltar, ao que tudo indica, de uma maneira repaginada. Fato é que, na última quarta-feira (27), o site da rede social foi reativado e o fundador, o engenheiro turco Orkut Büyükkökten, disse que está trabalhando em algo novo, com foco na saúde mental dos usuários. “O mundo precisa de gentileza agora mais do que nunca. Há tanto ódio online nos dias de hoje, e nossas opções para encontrar e construir conexões reais são poucas e bem escassas”, escreveu.

Print de uma comunidade do Orkut chamada
“Eu odeio acordar cedo” era a maior comunidade do Orkut! Orkut/Divulgação

O posicionamento fez a gente retomar uma discussão que rola desde o final de 2021 no Twitter, quando as coisas atingiram um nível bem preocupante de toxicidade por lá – e boatos de que as coisas podem piorar agora com o Elon Musk na áera. Alguns usuários começaram a debater o fato do Orkut ter sido a rede social menos nociva que já existiu. “Não tinha influenciador digital, não tinham esses padrões de beleza que acabam com a saúde mental das pessoas, não tinha ninguém querendo ser melhor do que ninguém por causa de número de seguidores… Só tinham depoimentos, fotos e joguinhos”, escreveu @brdgertonbrazil, cujo tweet foi curtido por mais de 37 mil pessoas. Mas teria sido realmente o Orkut a melhor rede social até então?

O argumento de @AdecioMoreiraJr traz pontos interessantes. O Orkut foi criado em 2004, seis anos antes do Instagram, lançado no dia 6 de outubro de 2010. O Orkut acumulou cerca de 30 milhões de usuários no Brasil. O Instagram, hoje, conta com 110 milhões de usuários brasileiros, sendo portanto a 4ª rede social mais utilizada no país, segundo dados da We Are Social e da Hootsuite.

Os tempos eram outros e a energia da galera era outra. No Orkut, a disputa era pelo topo dos depoimentos, que era basicamente um espaço no perfil das pessoas dedicado a declarações gratuitas de amor. Ou seja, a “briga” era pra ver quem ocupava o topo dessa página. No Instagram, especialmente desde que as publicações de publicidade começaram a surgir, a disputa é por engajamento envolvendo algorítimos e dinheiro.

 

Os usuários do Orkut também adoravam joguinhos. De BuddyPoke a Colheita Feliz, os orkuteiros de plantão passavam horas em games com gráficos e jogabilidades não muito avançadas, mas que marcaram época.

Hoje, os “jogos” das redes sociais são, na verdade, os desafios que nelas surgem. Só que nem todos os virais são inofensivos, chegando alguns a colocar em risco a integridade mental e física dos usuários. Quem se lembra do jogo da Baleia Azul ou do Desafio do Gummy Bear, por exemplo? Bate aquela saudade mesmo da Vila Mágica do Orkut, em que nossa missão era cuidar de bichinhos fofos. Só quem viveu sabe…

E se atualmente o Twitter continua sendo a principal rede social que estimula o debate em poucos caracteres, antigamente o Orkut se encarregava disso com os famosos scraps, textinhos que mandávamos para as pessoas e podiam ser incrementados com gifs bregas e cheios de amor, como corações saltitantes e imagens do Garfield.

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Já os grupos estão para o Facebook como as comunidades estavam para o Orkut. Mas se as discussões nos grupos podem ser hoje bastante acaloradas, por causa do mundo polarizado em diversos sentidos em que vivemos, antigamente as funções das comunidades eram basicamente duas: juntar a maior quantidade de emos em um mesmo lugar e divertir as pessoas. “Eu colho flores e o Tony Ramos” e “Eu respondo ao boa noite do Jornal Nacional” são alguns exemplos das piadas de tiozão que faziam a cabeça da galera.

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É possível dizer que até os fakes do Orkut eram mais inofensivos, com pessoas com se passando pelo Tom DeLonge [então vocalista do Blink 182] na maior cara dura e namorando virtualmente pessoas que se passavam pela MariMoon, Avril Lavigne ou Hermione Granger.

Diante desses fatos, parece inevitável concluir que o Orkut realmente era uma rede social e tanto! Contudo, crimes virtuais já ocorriam e a nostalgia faz a gente se esquecer de que, na realidade, eles até podiam acontecer com menos frequência, mas que também se falava menos sobre isso antigamente. Não é que não existiam. É inevitável, porém, concordar com o fato de que uma Era pré-algorítimos, conteúdos pagos e chuva de influenciadores digitais mexia bem menos com a saúde mental dos jovens, porque tinha menos competição e, consequentemente, menos frustração. Também haviam menos opções de redes sociais e nem a internet nem os celulares nos permitiam ficar conectados 24h por dia. A ansiedade sempre existiu, mas provavelmente aquela parcela dela estimulada pela vida online e pelo imediatismo era menor.

Não podemos ser hipócritas a ponto de não enxergar que hoje as possibilidades são maiores e que as redes sociais têm seus pontos positivos, não sendo estritamente vilãs. Só que quando tudo vira muito, de problematizações a cobranças à necessidade de opinar sobre tudo o tempo todo, às vezes só queremos voltar para a época em que o Instagram era um simples diário de fotos e o YouTube só tinha vídeos aleatórios e em baixa qualidade.

A Geração Z, formada pelos nativos digitais, não viveu essa época da internet e pode até considerá-la um pouco tediosa ou cringe, mas ela pode se surpreender ao descobrir que a retomada de parte dela, a que faz sentido nos dias atuais, pode ser uma saída para aliviar um pouco nossa tão abalada saúde mental.

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