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O que é a ‘ofensiva’ Caderneta do Adolescente que Bolsonaro mandou alterar

O presidente Jair Bolsonaro, ao anunciar mudanças na Caderneta de Saúde do Adolescente, do Ministério da Saúde, cometeu alguns equívocos bastante graves.

Por Isabella Otto Atualizado em 8 jul 2020, 11h44 - Publicado em 10 mar 2019, 10h01

Na última quinta-feira, 7, o presidente Jair Bolsonaro realizou uma live para abordar alguns assuntos que estão em pauta em sua agenda de trabalho, como a reforma de previdência. O representante máximo da democracia brasileira ainda questionou a Caderneta do Adolescente, disponibilizada gratuitamente pelo Ministério da Saúde.

Reprodução/Reprodução

Oficialmente conhecida como Caderneta de Saúde do Adolescente (clique aqui para ver o conteúdo na íntegra), o livreto foi tratado inicialmente pelo presidente como uma “caderneta de vacinação”. Na sequência, Bolsonaro disse que o conteúdo é escrito para meninos e meninas de 9 a 16 anos, o que é mais um equívoco cometido pelo excelentíssimo senhor presidente, já que no site do próprio Ministério da Saúde está escrito que a caderneta é direcionada para adolescentes entre 10 e 19 anos. Jair Bolsonaro ainda transmite a informação de que a caderneta é de 2012, quando, na verdade, é de 2010.

“Caderneta de vacinação da sua filha(…) Porque a caderneta diz que é pra criança de 9 a 16 anos(…) Figuras que não caem bem para meninas e meninos de 9 anos terem acesso(…) Me sensibilizei(…) A caderneta é de 2012, da senhora Dilma Rousseff(…) Agora, o final dela fica complicado no meu entendimento“, foram algumas das aspas ditas pelo presidente durante transmissão ao vivo na internet.

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A Caderneta de Saúde do Adolescente oferece ao jovem informações que dizem respeito à adolescência, principalmente relacionadas à saúde. Os temas levantados vão de cáries a drogas, passando por ISTs, mudanças corporais, espinhas, hormônios, higiene pessoal, sexo, sexualidade, masturbação e preservativo. As páginas finais da cartilha, que assustaram a cidadã que entrou em contato com o presidente e o próprio Jair Bolsonaro, ensina os jovens o jeito certo de colocar camisinha, tanto a masculina quanto a feminina. Ela também promove um guia do corpo humano. A caderneta destinada às meninas traz informações, com imagem, sobre a vulva. A destinada aos meninos, traz informações, também com imagem, sobre o pênis. Nada que já não seja encontrado em livros didáticos. Como infelizmente no Brasil nem todos os jovens têm acesso à educação, o principal intuito do Ministério da Saúde com o livreto é facilitar o acesso de conhecimento a todos, tornando-o mais universal, já que o livreto pode ser encontrado na internet e nas unidades do SUS.

Algumas das imagens ‘chocantes’ contidas na caderneta. Reprodução/Reprodução

Jair Bolsonaro achou que “esse tipo de assunto”, contudo, não diz respeito ao público alvo da caderneta e pode inclusive ser ofensivo para muitos pais. “Liguei pro Ministro da Saúde e a solução: vai fazer uma nova cartilha, sem essas figuras aqui no final“, esclareceu sobre o assunto, anunciando que as cadernetas atuais serão substituídas em breve por outras “mais leves”.

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Vamos agora a alguns dados:
1. o índice brasileiro de gravidez na adolescência está acima da média latino-americana. No país, a média é de 65.5. No mundo, a média é de 46. A faixa etária analisada foi a de meninas entre 15 e 19 anos, segundo relatório de 2018 da OMS;
2. o número de jovens entre 15 e 24 anos infectados pelo vírus HIV no Brasil em 2018 praticamente triplicou, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde;
3. houve também um aumento de adolescentes infectados por ISTs e pela Sífilis nos últimos anos e o principal motivo é que os jovens não estão usando camisinha.

Se com toda a informação sendo disponibilizada de forma bastante clara ainda há confusão, o que podemos esperar dos futuros levantamentos realizados quando a cartilha e talvez outros conteúdos sobre sexo e sexualidade forem de certa forma censurados? O tema precisa ser tratado de forma clara e sem tabus. Sentir-se ofendido com assuntos naturais relacionados ao corpo humano é um retrocesso e uma ofensa à capacidade de entendimento dos jovens. Adolescentes transam, adolescentes têm dúvidas sobre sexo, adolescentes vão continuar levantando essas questões e procurando respostas. A questão é: quais serão essas fontes consultadas?

Educação sexual nunca se fez tão necessária.

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