O que o caso Larissa Manoela nos ensina sobre educação financeira
A situação da atriz foi extrema, mas abriu os nossos olhos sobre a importância de cuidarmos bem do nosso dinheiro desde agora
Ok, talvez você não aguente mais ouvir falar do caso Larissa Manoela. Mas a gente precisa trazer um ponto que ainda não vimos por aí: o da educação financeira.
Não vamos entrar nos detalhes da história de novo – e é claro que a gente precisa considerar que a Larissa era menor de idade quando começou a trabalhar, por isso, os responsáveis por ela são legalmente os responsáveis pelo seu dinheiro também.
Porém, vamos combinar que ainda é muito difícil a gente falar abertamente sobre esse assunto? Por mais que a humanidade já tenha evoluído muito, parece que falar sobre dinheiro ainda é errado – ainda mais quando a gente é criança e adolescente.
Mas é aí que o assunto vira ainda mais importante. Nas fases de formação da vida, aprender sobre dinheiro é o primeiro passo para uma relação saudável com ele quando a gente cresce.
Afinal, vamos de dados: segundo a empresa de consultoria Deloitte, 40% dos jovens da geração Z se sentem financeiramente seguros e só 39% acreditam que vão se aposentar com conforto. São números bem preocupantes, né?
Além disso, entender o básico sobre finanças pessoais leva a outro ponto importante: quase 99% dos casos de violência doméstica contam com o chamado abuso financeiro, de acordo com a Allstate Foundation Purple Purse.
Esse tipo de abuso, em específico, acontece quando uma das partes de qualquer relação (namorade, familiar, empregadore, etc.) exerce poder sobre a outra parte usando dinheiro. Isso pode se traduzir em: controlar o quanto o outro gasta, fazer dívidas no nome da outra pessoa, ameaçar ou fazer chantagens usando o dinheiro como arma, e assim vai.
Mas bora de dar um passo de cada vez, né? Primeiro, vamos entender melhor a importância da educação financeira nas nossas vidas.
Educação financeira: vamos falar de dinheiro
Segundo a educadora financeira Aline Soaper, o dinheiro é o recurso que todas as pessoas precisam administrar por toda a vida. “Aprender a fazer essa gestão de forma correta é fundamental para o futuro não só dos jovens, mas de toda a sociedade”, explica para Capricho. “A falta de educação financeira enfraquece a tomada de decisão, aumenta o endividamento e afeta inclusive as relações pessoais e familiares.”
A vantagem da nossa geração é que tem muito conteúdo sobre o assunto na internet, e isso, para Aline, é um ponto super positivo. O nosso papel fica em, apenas, aprender a filtrar o que realmente é verdadeiro e o que é golpe, principalmente quando se fala na nossa galera, que ainda tem pouca experiência na lida com o dinheiro. (Vale lembrar sobre como as fake news funcionam para entender melhor onde buscar informações e em que/quem você pode confiar.)
“Por isso a importância da educação financeira aplicada a vida cotidiana ser ensinada na escola, assim a escola, através de profissionais habilitados para isso, passa a ser esse filtro e protege o adolescente das falsas informações”, continua a profissional.
Fora isso, a nossa família também pode ser uma fonte de conhecimento sobre o assunto. Se você tem uma relação legal e aberta com os seus pais, vale a pena começar a fazer perguntas para entender como eles lidam com dinheiro – isso, claro, se essa conversa já não acontece naturalmente.
Querendo ou não, os nossos pais são a nossa primeira referência quando o assunto é grana, e a forma como eles se relacionam com esse recurso interfere profundamente na nossa – seja para o bem ou para o mal.
Recebi meu primeiro salário, e agora?
Vamos supor que você já passou da fase inicial de aprendizado e agora começou a trabalhar. O que fazer com o seu primeiro salário? Se você nunca aprendeu sobre finanças, é fácil sentir o deslumbramento de ganhar o seu próprio dinheiro pela primeira vez. Mas é aí que a gente precisa redobrar a atenção.
“É preciso saber fazer a gestão para gastar, guardar e investir parte do salário”, explica Aline. “Essa educação financeira deve ser iniciada na infância, com a separação da mesada, assim ele já estará acostumado com essa forma de usar o dinheiro.”
Por mais que o desejo seja de ir até a loja mais próxima gastar tudo em blusinhas, é importante você sentar e fazer as contas básicas para saber o quanto pode gastar por mês, o quanto você pode guardar e, se possível, o quanto vale a pena investir.
Aqui, a gente considera uma pessoa bem privilegiada, ok? Porque sabemos também que muitos jovens no Brasil acabam cedendo boa parte do salário para ajudar com as contas da casa. De acordo com uma pesquisa divulgada no ano passado e desenvolvida pelo Grupo Consumoteca, 72% dos jovens brasileiros colaboram com as despesas domésticas.
Como anda a sua relação com o dinheiro?
Dito tudo isso, caso você já ganhe sua grana e já esteja há alguns meses ou anos nessa lida financeira, vale fazer uma pausa para avaliar a quantas anda a sua relação com o dinheiro.
Tem um ditado super verdadeiro que diz o seguinte: “o dinheiro é um excelente servo, mas um péssimo senhor”. Segundo Aline, ele serve para alertar sobre a posição que o dinheiro deve ocupar nas nossas vidas.
“Quando temos controle sobre o dinheiro, podemos fazer escolhas que tornam a vida mais tranquila, mas quando o dinheiro passa a comandar a vida, a ansiedade, o estresse e os problemas de relacionamento são constantes”, explica. “Atenção especial ao conviver com pessoas que usam o dinheiro para tentar controlar e manipular outras pessoas, que se consideram melhores por ter ou demonstrar ter mais dinheiro e com pessoas que assumem alto endividamento para demonstrar uma vida que não podem ter.”
Por outro lado, a educadora lembra que uma pessoa que tem relação saudável com as finanças:
Equilibra os gastos do presente;
Mantém uma reserva de segurança para imprevistos;
Conversa com a família sobre dinheiro (mesmo passando por situações temporárias de dificuldade);
Tem conhecimento sobre como se adaptar aos momentos de dificuldade e como sair deles rapidamente.
Por fim: dinheiro e relações abusivas, qual a relação?
Lembra que Aline comentou alguns parágrafos acima que devemos ficar atentos quando alguém usa o dinheiro para nos controlar ou controlar outras pessoas? Pois bem, o dinheiro é, de fato, uma ferramenta de controle muito efetiva e potente, por isso é usada com tanta frequência como um argumento em relacionamentos abusivos.
“Quem tem o dinheiro tem mais poder de escolha”, diz a educadora. “Pessoas que têm comportamento abusivo costumam comprar presentes, experiências e impressionar os outros com seu poder financeiro, mas ao serem contrariadas ameaçam cortar até mesmo o básico para quem depende financeiramente delas.”
De acordo com a profissional, é preciso ter muito cuidado com os extremos, já que uma relação com poder financeiro muito desproporcional e com pessoas com comportamento controlador pode ser a porta de entrada para o abuso emocional, psicológico e, claro, financeiro.
Na dúvida, listamos com a ajuda de Aline alguns dos principais sinais de abuso financeiro nos relacionamentos:
- Quem tem maior renda escolhe o que fazer, para onde ir e o outro só pode aceitar para não contrariar essas vontades.
- Controle rigoroso do cartão de crédito do outro, com questionamento sobre os mínimos gastos.
- Necessidade de pedir autorização para fazer compras de coisas simples.
- Obrigação de repassar todo o salário para conta de outra pessoa que fará o controle.
- Esconder o quanto a família realmente tem de patrimônio, contas ou dívidas.
- Limitar o acesso ao dinheiro, cartão e outras formas de pagamento, sendo necessário pedir ao outro para liberar antes de usar.
- Prometer recompensar financeiramente outra pessoa desde que ela faça tudo o que quem está controlando o dinheiro peça.
Fique ligado e eduque-se, combinado?