Você sabia que o Dia das Mães, tradicionalmente comemorado no segundo domingo de maio, é a segunda melhor data para o comércio brasileiro? É isso mesmo, a comemoração só perde em vendas para o Natal. Não vamos defender aqui que flores e outros mimos materiais não são uma forma de agradecimento e carinho. Presentear é muito bacana, sim. Mas, talvez, o que nossa figura materna mais gostaria de receber de nós vai muito além disso.
Quer um exemplo? É muito comum que a família se reúna no domingo do Dia das Mães e toda a preparação do almoço – e depois, a parte da limpeza também – fique na responsabilidade das próprias mães, avós, tias. Em festas e no dia a dia em geral, a divisão do trabalho doméstico (muito pouco ou inexistente várias vezes) sobrecarrega mulheres, sobretudo as que têm filhos.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) sobre Outras Formas de Trabalho, de 2019, mostrou isso em números. Em média, os homens dedicam 11 horas semanais aos afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas, que muitas vezes podem ser feitos simultaneamente, como cozinhar e monitorar o filho, por exemplo. Já as mulheres gastam em média 21 horas realizando essas tarefas.
A jornalista Juliana Mariz, mãe da Maria Clara, de 13 anos, e da Elisa, de 11, e fundadora da CAPRICHO.
“Os filhos, assim como companheiros, precisam acabar com essa ideia de que o lar é da mãe. Todos moram nele e precisam cuidar desse lugar”, afirma àE não se trata apenas das tarefas manuais que ter uma casa exige, como limpar, passar, cozinhar. Juliana destaca todo um trabalho invisível que também ocupa muito da rotina e carga mental das mulheres: a responsabilidade de planejar, organizar e tomar decisões relacionadas à casa e aos filhos. Todas essa exigência é ainda maior quando falamos de mães solos e famílias em situação de vulnerabilidade social.
E não tem o trabalho só em casa. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, devido, principalmente, ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho.
A profissional de RH Daniela Salles, que faz consultoria de carreira para mães, destaca a importância dos filhos – quando saem da infância e começam a entender mais as coisas – a olharem esses outros papéis exercidos por essa mulher, que eles chamam de mãe.
“Criar essa curiosidade de entender o trabalho da mãe e valorizar o que ela faz já é um primeiro passo”, aponta Daniela, que é mãe do Felipe, de 13 anos, e Maria Luíza, 11. “Se o filho ou filha adolescente tem uma mãe que é empreendedora, ele pode se colocar à disposição para ajudar. Isso faz diferença, viu?”, completa.
E a saúde mental onde fica no meio de tanto trabalho?
Segundo a Pesquisa Saúde Mental Materna, realizada pela plataforma De mãe para Mãe, 73,6% das entrevistadas se sentem sobrecarregadas todos ou quase todos os dias. Além disso, cerca de três em cada quatro mulheres se sente triste com frequência (76,3%) e mais da metade se diz insatisfeita com a rotina (59,5%). Outro número que chama atenção é que 55,5% das mães dizem que explodem os sentimentos no dia a dia.
Diante dos dados, a pesquisa mostra que rever a rotina e a divisão dos afazeres em casa e contar com apoio psicológico são medidas essenciais para mudar essa quadro preocupante,
Juliana conta que no meio de toda essa correria, de trabalho, casa e filhos, um momento sozinha, fazendo coisas que ela gosta seria um baita presente também. Um momento para lidar com o cansaço, medo, tristeza e outras várias questões que as mães sentem – mas que, muitas vezes, acabam abafadas pela rotina maluca e a ideia da mulher invencível.
“Eu queria que os filhos soubessem que as mães, assim como qualquer ser humano, estão em constante evolução. Vamos acertar e errar também. Talvez eles possam ter um pouquinho mais de condescendência com a gente”, diz a mãe, jornalista, esposa e mulher.