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Os gols de Leila Pereira: a 1ª presidente mulher em 108 anos de Palmeiras

A única presidente campeã do Brasileirão conversou com a CH sobre sucesso, machismo e pioneirismo: "Não é uma vitória só da Leila, mas de todas as mulheres"

Por Isabella Otto 5 nov 2022, 10h01
Montagem com a foto da Leila Pereira, presidente de Palmeiras, como se fosse uma personagem de Game of Thrones
Alexandre Schneider/Getty Images

Verde, cheia de fotos nas paredes, antiguidades em redomas de vidro e muitos prêmios conquistados ao longo das décadas. A Sala de Troféus do Palmeiras é uma das partes favoritas daqueles que visitam o Allianz Parque, em São Paulo, e foi nela que me encontrei com Leila Pereira, atual presidente do clube e primeira mulher a ocupar o cargo em 108 anos de história.

Com um blazer amarelo e uma bota branca com correntes, Leila trajava um look que, à primeira vista, parecia simples, mas devia custar uma pequena fortuna – para mim, pelo menos, e para boa parte dos brasileiros. Na ocasião, ela tinha acabado de anunciar um novo patrocinador, a farmacêutica CIMED, que faria um investimento na equipe feminina de futebol. “Sem dinheiro, não tem time vencedor”, disse a carioca, que hoje é considerada pela Forbes a 5ª mulher mais rica do Brasil.

O argumento de Leila parece fazer sentido. Pouco tempo depois da nossa entrevista, o time feminino do Palmeiras conquistou a Libertadores, tornando-se assim tricampeão do torneiro. Mais um breve espaço de tempo se passou e, na última quarta-feira (2), a equipe masculina do clube conquistou o Brasileirão, entrando em campo contra o Fortaleza já com a taça na mão, mas, mesmo assim, jogando bem e ganhando do advsersário de 4×0.

 

Desde que assumiu a presidência, em 2021, o Palmeiras registra uma série de vitórias. Muito se deve à contratação do técnico Abel Ferreira, em 2020, mas a gestão de Leila a frente do clube não pode ser ignorada. No ano passado, o Verdão conquistou a Libertadores. Neste ano, já levou para a Sala dos Troféus o Campeonato Paulista, a Recopa e o Campeonato Brasileiro. “Facilita muito quando você sabe que ocupa um cargo porque as pessoas acreditaram que você iria defender os interesses da maioria nele. Sem medo, sem politicagem, sem temor de perder voto. Isso te traz muita credibilidade e credibilidade é tudo na vida“, pontuou a carioca, que, além de ser presidente do Palmeiras, está a frente da Faculdade das Américas (FAM) e da Crefisa, além de participar ativamente da gestão de outras 11 empresas: “Eu sei o que eu quero e onde quero chegar, então fica mais fácil”.

Mas engana-se quem pensa que Leila Pereira não se deparou com pedras no caminho. Prestes a completar 58 anos, a maior patrocinadora da história do futebol da América do Sul continua ouvindo de muita gente que só chegou onde chegou por causa de seu casamento com o empresário José Roberto Lamacchia. “Falam que eu sou presidente só porque sou casada com ele, me diminuindo, e não é verdade. Meu marido jamais deixaria uma pessoa que não fosse competente liderando as empresas dele”, garantiu Leila, conhecida justamente pelo seu lado colaborativo com o clube. “Tive minha candidatura impugnada, lutei e venci as eleições com a maior vortação da história do Palmeiras! Daí a eleição foi para o conselho deliberativo e eu venci de novo. Na sequência, fui reeleita batendo meu próprio recorde”, orgulha-se.

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E, de fato, é um feito e tanto! Observar a parede de presidentes na Sala de Troféus é um exercício de sociedade. São muitas fotos e muitos nomes masculinos. Dezenas e dezenas de fileiras com retratos de homens, em sua maioria, brancos e de meia idade. O típico italianão do núcleo do Leblon da novela das nove da TV Globo. E lá no cantinho superior direito, ela, a única mulher em 108 anos de história. “Essa não é uma vitória só da Leila, mas de todas as mulheres. É uma prova de que a gente pode o que a gente quiser. E a gente pode tudo!”, começou Leila, quando perguntei para ela qual era a sensação de olhar aquela parede: “É um orgulho! É uma conquista, que, às vezes, no dia a dia, a gente não tem noção do que a gente faz e vai fazendo. Quando eu olho pra essa galeria, e me vejo como a única mulher, é muito representativo. É claro que temos mulheres na ciência e na política, mas o meio do futebol ainda é muito masculino. É uma dificuldade imensa a mulher ter a palavra e conseguir ser ouvida, e eu consegui aqui no Palmeiras, esse clube gigante! Quando eu olho essa foto, eu fico muito honrada e emocionada por todas nós”.

Sem perder nunca a pose, com sua botinha branca, Leila Pereira só desce do salto para colocar um tênis e comemorar as vitórias do time. Ela acha que a mulher tem muitas qualidades que podem ser positivas em cargos de liderança, sendo a objetividade a maior delas. “Eu, particularmente, resolvo as coisas muito depressa. Eu adoro decidir, sabe? Manda a bola pra mim, que eu chuto no gol!”, brincou a presidenta, que é uma inspiração para tantas mulheres, não só por ocupar o cargo que ocupa, mas por sempre fazer o possível para trazer mais mulheres para esses locais de decisão, ainda majoritariamente masculinos: “Nunca diga que não é possível. Tudo é possível, desde que você se dedique, pois nada cai do céu. Saiba o que você quer, mas, se você ainda não souber, veja o que você deseja no momento. Se precisar mudar sua trajetória no meio do caminho, não tenha medo. A vida costuma apresentar pra gente oportunidades e a gente tem que ficar atenta a elas, porque a vida é como um meia-armador: ela joga a bola pra você. Seja uma boa centroavante, com objetivo e foco, e jogue a bola no gol“, apresenta o plano de jogo.

De acordo com o Dicionário dos Nomes Próprios, Leila tem origem árabe, sendo uma variação de Laila. Significa “noite” e pessoas com esse nome têm geralmente uma personalidade forte, de superação, estando fadadas ao sucesso, contando sempre com uma ajudinha extra da sorte. Confesso que, na ocasião da entrevista, não me ocorreu perguntar para a Tia Leila por que ela tinha ganhado esse nome dos pais. Mas agora, conhecendo seu significado, definitivamente, a carioca nasceu com o nome certo e está fazendo jus a ele.

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