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Para construir seu amor próprio, você precisa fugir destas armadilhas

O sentimento é tão desejado quanto único, mas temos um spoiler: não conseguimos nos amar se nos isolarmos

Por Mavi Faria Atualizado em 4 abr 2024, 16h06 - Publicado em 3 abr 2024, 18h00
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uitos slogans e postagens nas redes pregam que o amor próprio pode ser encontrado se seguirmos dicas básicas que quase sempre incluem uma vida saudável e equilibrada. Dependendo de onde você encontra essas dicas, elas podem vir junto com uma ideia de look para te inspirar a encontrar o amor próprio ou uma pressão para se “aceitar” de qualquer maneira.

Mas será que é realmente assim? Claro que o cuidado com a saúde física e mental e o processo de se aceitar são ótimas ferramentas para encontrar a paz interior e estar em equilíbrio consigo mesmo, mas esses fatores possibilitam o encontro com o amor por si mesmo?

Em entrevista à CAPRICHO, a psicóloga psicanalista Júlia Saia defende que não há nenhuma lista de itens ou coisas para se fazer para alcançar o amor próprio – porque, no final das contas, ele continua sendo sobre o amor, esse sentimento que está em movimento sempre. Como descreveu a autora Bell Hooks na obra Tudo Sobre o Amor, “o amor é uma combinação de cuidado compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança”.

Júlia argumenta que agimos, pensamos e criamos coisas na vida com base no que aprendemos com as pessoas e o mundo. Com o amor, não é diferente. De diversas formas únicas para cada um, o ‘me amar’ é influenciado por como ‘sou amada’. Além disso, estamos sempre nos transformando: você não é a mesma pessoa de ontem e não será a de amanhã (ainda bem!). Portanto, o processo de se amar não é simples, como muitos pregam, e nem sempre vamos nos amar por completo – mas podemos fazer disso uma construção diária e melhorar sempre.

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Amor é aceitar, cuidar e acolher

Por mais difícil que seja definir o amor próprio, as características trazidas por Bell Hooks e algumas reflexões abordadas por Ana Suy, no livro A gente mira no amor e acerta na solidão, chegam bem perto porque, para Júlia, explicam como se aproximar do amor próprio é refletir sobre o quanto você se aceita e cuida de você, sem peso ou culpa. Ela lembra como é comum nos tratarmos com muito mais ódio, hostilidade, pressão e culpa por erros que, se fossem tomados por amigos, seríamos acolhedores, pacientes e amorosos. 

Se amar, no geral, nunca vai ser sobre tudo em você ou nunca mais errar (a perfeição não existe, lembra?), mas muito mais sobre acreditar ser merecedora quando conquistar algo e não ser tão crítica quando cometer algum erro. Ao invés de carregar uma culpa que paralisa e incapacita, é muito melhor para você pensar “reconheço que eu errei, sou responsável por isso, mas o que eu posso fazer agora, o que posso aprender a partir disso?” , explica a psicóloga.

Pegar mais leve com você é o primeiro passo para conseguir se aceitar de forma saudável, até porque se aceitar não é amar tudo em você, sempre vão haver pontos que você não gosta tanto. A grande diferença é a forma que você lida com isso: ao invés de odiar, há a possibilidade de entender o que não gosta e desenvolver respeito por isso, sem se desrespeitar ou maltratar”, pontua Júlia.

Cuidar de si, para além do básico reafirmado nas redes envolvendo alimentação, terapia e atividade física, também envolve a reflexão sobre seus relacionamentos, círculos sociais e até conteúdos consumidos nas redes: como esses pontos fazem você se sentir? Responder a essa pergunta será útil para você entender como se diminuir e mudar quem você é para se encaixar em algum lugar ou grupo só te afasta do saudável, da aceitação, do cuidado e do amor. É bem mais difícil colocar isso em prática na realidade mas, com o tempo, as consequências positivas vão ser bem maiores.

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Nossa galera entende bem quão difícil é lidar com o desejo de fazer parte de um grupo e o sentimento de não ser aceito. Mudar quem você é ou se forçar a algo só vai te trazer mais problemas e todos nós já passamos por esse tipo de situação. Por isso, é importante lembrarmos, como Júlia afirma, que nenhum de nós é feito somente de defeitos e que, cuidar das suas relações é cuidar de você, o que, paralelamente, também é se amar.

O amor próprio é solitário?

Outro equívoco cometido em relação ao amor próprio é sugerir que quem se ama não precisa de ninguém. Como se o amor por outras pessoas pudesse anular o nosso próprio. Julia discorda e afirma com certeza: o amor não nasce no isolamento.

O amor só é trabalhado dentro de nós quando o sentimos, por isso se amar é muito mais sobre seu bem-estar equilibrado com as pessoas ao seu redor, os ambientes e conteúdos que consome do que sobre algum check-list a ser cumprido. Nesse sentido, a psicóloga sugere algumas perguntas a serem feitas para entendermos sobre nossas relações e, consequentemente, a forma que amamos:

  • Como estou me sentindo com as relações que estão à minha volta?
  • Como me sinto com os círculos e lugares que frequento?
  • Como me sinto sobre o que consumo nas redes?
  • Como me sinto sobre mim?

Ah, e não se esqueça que o processo do autoconhecimento é longo e muda tanto quanto nós mudamos, ou seja, sempre. Então, sem expectativas: faça o que te faz bem, cuide de você e dos que estão ao seu redor. Alguns dias o amor próprio será mais forte, outros menos e faz parte do processo – o importante é não esquecer dele.

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