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Sapiosexualidade existe, mas termo deve ser usado com cautela

Você já parou para pensar como a definição rasa de sapiosexualidade pode ser elitista?

Por Isabella Otto Atualizado em 23 jan 2023, 13h56 - Publicado em 22 jan 2023, 10h36
Montagem de Bela Gil e Key Alves, que se consideram sapiosexuais
Reprodução/CAPRICHO

Em sua chamada de apresentação para o BBB23, a jogadora de vôlei Key Alves declarou-se sapiosexual. No ano passado, a apresentadora Bela Gil também falou sobre se entender como uma pessoa sapiosexual. Ambas viraram em algum momento piada por causa da declaração. A Bela, por exemplo, disse que a própria família começou a brincar com ela, dizendo que ela só gostava de “homem rico brasileiro”. Key, por sua vez, foi alvo de memes após beijar o participante Gustavo – que a internet julgou ser desprovido de inteligência – na primeira festa do reality. Todo esse cenário leva a uma série de reflexões que precisam ser feitas.

O que significa ser sapiosexual?

Em resumo, significa sentir atração por pessoas inteligentes – mas é preciso ir além.

A ativista Sara Hanna, integrante do coletivo AbrAce, que atua em prol da visibilidade assexual no Brasil, contou à CAPRICHO que descobriu-se demisexual ao conversar com uma amigo da faculdade, que se identificava com a assexualidade. “A gente costuma falar em cinco tipos de atração: sexual, romântica, estética, sensual e intelectual. Na intelectual, entraria a sapiosexualidade”, explica. Hoje ela se identifica como uma pessoa assexual na escala cinza, panromântica e não-binária.

Não seria todo mundo um pouco sapio?

Não necessariamente. Sara diz que, em sua experiência, observou que as pessoas começam a descobrir sua identidade durante conversas com amigos, colegas ou até em vídeos na internet ou palestras de especialistas, quando outras questionam uma generalização. O debate acaba gerando troca de informações e colaborando com vivências.

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“Falar de assexualidade é pensar mais no sexo, e as pessoas acham que deveria ser o contrário. A assexualidade traz essas questões pra sociedade sobre sexo normativo que a gente nem nunca pensou, sobre essas normas que foram impostas”, pontua a ativista, que reforça: “Assexualidade não é sobre não transar”.

Sapiosexualidade: identidade existe, mas termo deve ser usado com cautela
A ativista Sara Hanna, do coletivo AbrAce Arquivo Pessoal/CAPRICHO

Então, a sapiosexualidade está dentro do espectro assexual?

Estas orientações sexuais são motivadas por comportamento e não é possível afirmar que todas as pessoas que se identificam como sapiosexuais acreditam fazer parte da comunidade LGBTQIA+. Mas, em teoria, assim como a demisexualidade, a sapio poderia, por definição, pertencer à escala da assexualidade, mas não é uma regra, pois, como explica Hanna, “identidade não é um rótulo. Então, não está aí pra gente tirar ou colocar em alguém”.

Um termo um tanto quanto problemático?

A integrante do coletivo AbrAce conta que, em suas palestras, evita ao máximo usar o termo, porque ele pode acarretar em “piadas” como as recebidas por Bela Gil e Key Alves. “A gente começou essa discussão de que o termo parecia muito elitista academicamente falando, um termo muito excludente, classista, do tipo: ‘Ai, fulano é burro, não me atraio por gente burra’ – e não é bem assim”, explica.

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A sapiosexualidade existe e está aí para que as pessoas se identifiquem com ela – e não é errado sentir atração intelectual. O problema é a arrogância que pode haver por trás do termo, quase como se ele fosse excludente e preconceituoso. Afinal, as pessoas não podem ser inteligentes de maneiras e níveis diferentes?

Se fosse levado ao pé da letra, sapiosexuais só namorariam gênios da matemática – e, de novo, não é bem assim. “O termo pode ser usado, mas sem uma valoração do que é bom o ruim”, alerta Sara. A ativista ainda pontua que a discussão causada por essas declarações de famosas é rica e não atrapalha o movimento, pois os comentários geram matérias justamente como esta, que contribuem para a disseminação da informação.

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E a questão de pertencimento é tão importante quanto o diálogo e o respeito, viu? “É importante a gente estar representado para se enxergar na sociedade e para ter força em questões de resistência, como na elaboração de políticas públicas. Quando esse grupo não existe e não está articulado politicamente, ele não consegue, como vozes soltas, várias coisas”, garante.

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