Em todo terceiro domingo do mês, um grupo de mulheres se reúne para fazer batalhas de poesias em São Paulo. Os poemas refletem o machismo, racismo, homofobia e outras formas de violência sofrida por mulheres, sejam da periferia ou não. Criado em 2016 e itinerante, o Slam das Minas segue dando voz e espaço às mulheres em uma área que também ainda é dominada pelos homens.
Foi no Slam BR de 2015, competição nacional de Slam, que a primeira inquietação surgiu. Metade dos participantes era do gênero feminino e nenhuma chegou na final, pelo júri popular. “Os versos das mulheres não perdiam em nada para os versos dos caras, então como a gente não conseguia passar de fase?”, conta Luz Ribeiro. Nesta edição, ficou muito evidente para as poetas o quanto ninguém ali queria ouvir manifestações femininas.
Por isso, Luz Ribeiro, Mel Duarte, Pam Araújo e Carol Peixoto se juntaram para trazer o Slam das Minas para São Paulo, projeto que já existia no Distrito Federal. “A ideia principal era ter uma vaga pra mulher no Slam BR, a partir do momento em que a gente compreendeu a necessidade de ter mulheres nesses espaços“, diz Pam Araújo. Mas, o Slam cresceu muito além disso. Cada vez mais mulheres e meninas buscaram o projeto e se dedicaram aos poemas, escrevendo livros e entrando em batalhas de outros Slams que antes não iam. Muitas amizades também foram criadas nesse meio.
“O bacana do Slam é ser esse espaço seguro, onde a mana pensa: ‘eu sei que lá eu posso falar sem ser julgada, posso me testar‘, além de também conhecer meninas com outros tipos de trabalhos que podem fortalecer as outras”, comenta Mel Duarte. É, principalmente, um espaço onde elas têm liberdade para fazer poesia sobre assuntos que sempre causaram revolta e dor.
O Slam das Minas não é palco somente para manifestações contra a violência, mas também para declarações de amor e respeito. “Eu nunca tinha ouvido tanta poesia de amor lésbico quanto aqui no Slam, porque as meninas não se sentem seguras para se expressar em outros espaços. É não usar tanto a poesia só como uma ferramenta de discussão, mas também pra falar de sentimentos com liberdade”, diz Carol Peixoto.
Considerado o “braço do slam”, elas garantem que o rap feminino não tem tanto reconhecimento no Brasil, mas existe representatividade. “Elas só não têm espaço e não são ouvidas. Você vai num show de rap e vai encontrar uma mina no backing vocal, fazendo uma participação ou abrindo o show“, Carol comenta. Nos encontros e eventos do Slam das Minas, a playlist de 3 horas é composta apenas por rappers femininas.
O projeto acabou de completar dois anos de existência e elas já pensam em planos para o futuro: fazer participações em escolas e ter um Slam das Minas em cada estado brasileiro ou um que seja nacional. “A gente vai dominar o mundo”, brincam.