Aos 15 anos, Sophia Medina é bicampeã paulista de surf, viaja muito por causa do trabalho e também a passeio, e parece ter a vida perfeita de toda adolescente que sonhava acordada assistindo a filmes como Soul Surfer: Coragem de Viver e A Ondas dos Sonhos. Mas como toda garota no auge da puberdade, Sophia tem medos e sonhos, e sofre com pressões que somam-se ao fato de ela ser atleta e famosa. “Eu sou uma adolescente como qualquer outra e passo pelos mesmos processos, só que por ser uma atleta, acabo tendo que me privar de muitas coisas. Lidar com tudo isso é uma pressão e tanto, mas eu tento pegar toda pressão e substituí-la por incentivo. É difícil, tenho que admitir, mas dou o meu melhor para que tudo isso não me atrapalhe”, conta em entrevista para a CAPRICHO.
Na reta final do ensino médio, uma das grandes dificuldades da surfista é conciliar a carreira com os estudos. “Sempre tenho que estudar mais pois perco bastante aulas por questão de viagens e campeonatos”, explica a esportista, que há um ano teve seu dia a dia também transformado por causa da pandemia. “Eu penso em fazer faculdade depois de realizar meu sonho, que é estar no circuito mundial e ser campeã mundial de surf. Depois que minha carreira acabar, penso em fazer faculdade de arquitetura“, traça os planos.
As redes sociais também já tiraram o sono da jovem, sendo vilãs, mesmo que não em tempo integral. Com mais de 430 mil seguidores no Instagram, a surfista, que também tem um canal no YouTube, acredita que a internet pode fazer com que as pessoas sejam ou queiram ser algo que eventualmente elas não são. No oceano de “contas perfeitas”, um drop em falso pode machucar bastante. “Em 2020, dei uma pausa nas redes sociais porque elas não estavam me fazendo muito bem. Tirei um tempo para cuidar da minha saúde mental e focar no que realmente importa, que é passar tempo com a minha família e com as pessoas que eu amo, surfar e viver a vida sem me preocupar com o que as pessoas acham. Meu objetivo é não deixar a pressão da rede social entrar na minha mente”, desabafa.
A história de Sophia no surf começou aos seis anos de idade, quando seu pai a ajudava a ficar em pé na prancha. Aos nove, ela já conseguia fazer isso – e muito mais – sozinha. Apesar de vir de uma família de atletas, a adolescente nunca foi obrigada a nada. “Em certo momento, meu pai me perguntou o que eu realmente gostaria de ser quando crescesse, e eu respondi que queria ser surfista. Eu via o meu irmão [o bicampeão mundial Gabriel Medina] surfando e parecia tão divertido! Eu queria fazer aquilo também! Mas meus pais sempre me deram a liberdade de escolher“, conta.
E se os principais nomes do surf ainda são majoritariamente masculinos, ter o Gabriel Medina como irmão podia tornar toda a vivência feminina de Sophia ainda mais rodeada de machismos e de pressão, mas a jovem garante que nunca se deixou abalar. “As meninas estão ganhando um espaço muito grande em todos os esportes, principalmente no surf, e me alegro muito com isso! Esse é um dos meus maiores objetivos: inspirar meninas a surfarem e fazerem o que amam!“, garante a atleta, que conta como é ter um dos nomes mais aclamados do surf mundial como irmão mais velho: “O Gabriel é um irmão bem coruja! (risos) Ele é uma ótima pessoa, sempre honra os nossos pais e tem um coração enorme. Sem contar o que ele faz na água surfando, né? Ele me dá muitas dicas de surf e também de vida. Ele passou por tudo o que eu estou passando hoje, então ele me ensina a lidar com a pressão e tudo mais. Sou grata por ter a oportunidade de ser irmã dele”.
Inspirada por Carissa Moore, surfista que, para Sophia, mostra que o esporte não só é para meninos, como muitos ainda costumam acreditar, a promessa das águas quer contribuir para que a “tempestade brasileira” [nome dado ao fenômeno marcado por atletas do Brasil que estão batendo recordes mundiais no esporte] seja cada vez mais feminina. Apesar de a origem do surf ser incerta, acredita-se que o esporte tenha nascido em 1778, na Polinésia. Contudo, o surf como a gente conhece hoje surgiu em 1920, com a criação das primeiras pranchas, confeccionadas pelos norte-americanos George Freeth e Duke Kahanamoku. Em 1965, rolou o primeiro campeonato de surf no Brasil, sendo a modalidade reconhecida pelo Conselho Nacional de Desportos em 1988. Estamos falando de mais de 30 anos de história, mas foi apenas em 2019 que o circuito mundial teve as premiações masculina e feminina equiparadas.
A surfista de 15 anos não é “a irmã de Gabriel Medina”. A surfista é Sophia Medina, tem nome, sobrenome e um futuro numa carreira em que mulheres ainda sofrem com o machismo, mas que cada dia mais estão dropando as ondas da desigualdade de gênero – que podem ser tão grandes, assustadoras e perigosas quanto as de Nazaré, mas não são invencíveis. “Não desista! O surf exige muita persistência. Quando você cair, tudo o que precisa fazer é levantar e tentar de novo, que uma hora vai. E não tenha medo da onda. ‘Da água’ não passa”, encoraja a surfista.