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Tudo o que pode e não pode acontecer no consultório do ginecologista

Vai fazer a sua primeira consulta? Mudou de médico? A gente te explica o que pode e o que não deve acontecer.

Por Marcela de Mingo, para a Capricho 15 jul 2022, 06h00
Saúde reprodutiva
Obstetras e ginecologistas são os profissionais mais denunciados por crimes de assédio e abuso sexual em São Paulo. Rudzhan Nagiev/Getty Images

A não ser que você estivesse escondida em uma caverna essa semana (ai, queríamos!), deve ter visto as notícias sobre um anestesista que estuprou uma mulher sedada que passava por uma parto cesariano. Este caso nos fez lembrar como não é simples ser menina e mulher no Brasil e decidimos te explicar o que pode e o que não deve acontecer na interação com um profissional de saúde. Neste texto, vamos focar, em especial, nas consultas ginecológicas.

Você ter informação em mãos e saber identificar o que é permitido ou não é essencial: afinal, essa é uma especialidade médica que faz parte da vida de pessoas com útero, e é o mínimo podermos entrar e sair do consultório sem medo, certo?

O que pode X não pode das consultas ginecológicas

Vamos começar do começo: segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) em 2018, obstetras e ginecologistas eram os profissionais mais denunciados por crimes de assédio e abuso sexual no estado.

E faz sentido, considerando a grande quantidade de notícias que vemos de médicos (em sua maioria homens) denunciados por abusar sexualmente de suas pacientes durante as consultas.

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Por isso, conversamos com Cinthia Calsinski, enfermeira obstétrica pela UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo), e Lala Fonseca, psicóloga clínica especialista em terapia cognitivo comportamental, para entender o que pode e o que não pode acontecer no consultório do ginecologista.

PODE: Postura interessada

Foto de
Anote aí: o médico nunca vai chegar examinando você de cara: ele precisa, primeiro, entender as suas necessidades! Reprodução/Getty Images

“Acolhimento, escuta empática, informações, muito bate-papo e sentir-se à vontade para fazer todas as perguntas que desejar”, esclarece a profissional de enfermagem.

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O médico nunca vai chegar examinando você de cara: ele precisa, primeiro, entender as suas necessidades, quem você é, quais os seus medos e inseguranças… Enfim, o famoso quebra-gelo que vai determinar a relação médico-paciente.

PODE: Conversas sobre o corpo e suas funções

“Temas como menstruação, desenvolvimento das mamas, diferentes maneiras de lidar com a menstruação (absorvente externo, interno, calcinhas especiais, coletores, etc.), sexo, etc.”, diz.

Ou seja, no consultório você precisa se sentir livre para falar sobre questões íntimas sem medo ou pudores. Pela Ética Médica, o profissional deve ouvir sem julgar, tirar dúvidas e passar informações de forma isenta.

PODE: Exames específicos

Exame de toque
Além do exame de toque nos seios, o papanicolau, também bem comum na rotina ginecológica, pode acontecer durante a consulta ou em laboratório. iStock/Reprodução

“Exame das mamas e, a depender da idade, e atividade sexual ou não, pode haver exame ginecológico”, diz Cinthia.

O famoso toque vaginal é um exame bastante comum das consultas, ele ajuda o médico a identificar anomalias ou irregularidades na vagina e no colo do útero da paciente. O papanicolau, também bem comum na rotina ginecológica, também pode acontecer durante a consulta ou em laboratório.

PODE: Seguir a sua intuição

A gente sabe que esse ponto pode ser muito subjetivo. Se você ainda é virgem e não tem nenhuma experiência sexual, pode não saber identificar o abuso. Por isso, vale prestar atenção no que você sente.

“Normalmente, o médico não vai tocar na parte íntima, a não ser que vá averiguar a questão da virgindade, o toque dos dedos, mas essa percepção da postura médica está relacionada à percepção, ‘eu senti algo estranho’. Às vezes, a conversa do médico é assediadora, em um tom estranho, e não necessariamente está relacionado a sua nudez ou um toque”, explica Lala.

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PODE: Falar sobre o que aconteceu

Assédio sexual
As vítimas precisam elaborar esses conteúdos com um apoio psicológico, diz especialista à CH. ajijchan/Getty Images

A gente sabe que, muitas vezes, relatar um caso de abuso, assédio sexual ou estupro pode ser muito difícil. Porém, é importante que essas denúncias sejam feitas, principalmente, para evitar que aconteçam de novo ou com outras mulheres. Conversar com os seus pais e fazer uma queixa no Conselho Regional de Medicina da sua cidade, assim como um boletim de ocorrência, é essencial.

PODE: Pedir ajuda

“Para a violação sexual, infelizmente, não há reparos”, explica Lala. “Essas experiências desagradáveis, negativas, ficam marcadas, e a mulher pode desenvolver uma questão tanto relacionada com o estresse pós-traumático, quanto com transtornos de ansiedade, como depressão. As vítimas precisam elaborar esses conteúdos com um apoio psicológico, reinterpretá-los… Isso a auxilia a tomar o controle da própria vida e saber que ela pode sair da posição de vítima.”

É bastante comum essas situações traumáticas – isto é, experiências de alta intensidade, segundo a psicóloga – surgirem camufladas nas nossas questões pessoais, como os nossos relacionamentos. Podemos ficar mais reativas e ariscas, por exemplo, depois de uma situação de assédio ou abuso sexual, e passar a ditar as nossas escolhas com base nisso. Por isso, pedir ajuda psicológica para aprender a lidar e a superar isso é vital.

NÃO PODE: Uso indevido das mãos

O exame de mama, que busca nódulos e outros possíveis indícios de câncer, por exemplo, é feito, sempre, com a ponta dos dedos, percorrendo circularmente a mama – nunca com a mão inteira, apalpando a mama (o que pode ser entendido como um movimento sexual).

O exame de toque e o próprio papanicolau também são exames clínicos de análise. O toque é puramente com a intenção de identificar possíveis questões de saúde e jamais com o intuito de estimular a região.

NÃO PODE: Filmar ou fotografar a consulta

Se o médico, em qualquer momento, ligar uma câmera ou anunciar que vai gravar a sua consulta, esse é um grande sinal de alerta – principalmente se você ainda for menor de idade. Consultas só podem ser gravadas mediante autorização, e fotos podem ser feitas desde sejam indicadas e tenham um objetivo clínico: por exemplo, o médico informa que vai fazer uma fotografia para acompanhar um nódulo ou para complementar um exame.

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NÃO PODE: Ficar nua na frente do profissional

Consulta ginecológica
Acima de tudo, é importante você se sentir segura com o profissional, viu? FANDSrabutan/Getty Images

Mesmo os exames de mama não são feitos com você completamente sem roupas diante do médico. Via de regra, ele deve pedir para que você troque de roupa em um ambiente separado (atrás de uma cortina, por exemplo) e coloque um avental para os exames.

NÃO PODE: Questionar as suas escolhas, sexualidade ou condições de saúde

O médico não pode, por exemplo, demonstrar surpresa ou choque quando você fala que não é mais virgem, nem mesmo julgar, repreender ou falar mal das suas escolhas e possíveis condições de saúde (como um diagnóstico de infecção sexualmente transmissível).

BÔNUS: Pode perguntar pros pais o que vai rolar? SIM!

Na dúvida, é sempre legal conversar com os seus pais sobre as suas inseguranças e questionar o que vai acontecer numa consulta – isso se eles não puxarem o assunto antes. Tirar as suas dúvidas antes com as suas pessoas de confiança é super válido.

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