Continua após publicidade

5 vezes que Sex Education surpreendeu ao quebrar antigos padrões sociais

A gente não deve acreditar em tudo o que escuta - principalmente quando essas coisas reproduzem traços da herança patriarcal de nossa sociedade.

Por Isabella Otto Atualizado em 20 jan 2020, 13h28 - Publicado em 20 jan 2020, 13h28

Enaltecer o seriado Sex Education é uma das coisas que a gente deve fazer! A produção original Netflix é criativa, delicada e sincerona ao tratar de assuntos ligados à sexualidade humana, ainda vistos por muitos como tabus. Dentre os muitos destaques da série, que inclusive já tratamos aqui anteriormente, vale destacar os cinco padrões impostos socialmente que foram quebrados por Otis e sua turma.

1º padrão quebrado: o de que o pai é sempre quem não aceita o filho gay
Eric, melhor amigo de Otis, é gay. Isso não é nenhum spoiler. Automaticamente, você pensaria que o personagem teria um conflito com o pai e uma melhor relação com a mãe, certo? É porque estamos acostumados a escutar histórias derivadas do patriarcado que não aceita um filho que não seja o estereótipo de “machão”. No seriado, acontece o contrário. O pai de Eric é quem o apoia e o encoraja a ser quem é, apesar de morrer de medo de que o filho seja uma vítima da homofobia. “A experiência negra e gay nem sempre é contada”, disse Ncuti Gatwa, intérprete de Eric, ao PinkNews, salientando a importância de se contar a história de adolescentes negros e gays, e de sair do senso comum.

Reprodução/Reprodução

2º padrão quebrado: o da “família tradicional” que não discute assuntos relacionados a sexo
Mais uma vez, a sociedade nos ensinou que não devemos falar sobre assuntos relacionados à sexo dentro de casa. É pecado, é constrangedor, é algo que pode estimular a sexualidade dos filhos de maneira negativa. Jean Milburn, mãe de Otis, é tratada como uma mãe peculiar e até mesmo estranha por alguns colegas do adolescente exatamente por ir contra tudo isso. Ela, que é terapeuta sexual, fala abertamente sobre assuntos relacionados à sexualidade com o filho e com os jovens em geral, dando liberdade para que eles também a procurem. Ela conversa sobre drogas, masturbação e assuntos que deveriam ser tratados com mais naturalidade, afinal conhecimento é poder. Jean é uma mulher de meia idade independente que, muitas vezes, toma atitudes que são socialmente esperadas do homem: ela é quem faz sexo casual e depois dispensa o cara no dia seguinte, não o contrário (colocando a mulher mais uma vez no papel da donzela indefesa). Jean é um mulherão ~daquela coisa mesmo~!

Reprodução/Reprodução

3º padrão quebrado: o da masculinidade frágil
Quando falamos sobre cultura de estupro e como a sociedade patriarcal colecionou ao longo do tempo padrões que a estimulam, não é que culpamos única e estritamente a sociedade, mas é inegável: desde os primórdios, o homem é testado e até mesmo pressionado por ser do sexo masculino. É preciso ser macho, másculo, marrudo, cheio de testosterona. A mulher também é testada e pressionada por ser do sexo feminino, mas estimulada a fazer papel, muitas vezes, de vítima: delicada, que senta direito, que se resguarda enquanto o homem pode e deve ser um garanhão. Um dos principais conflitos do Otis no seriado é que ele não consegue se masturbar. Esse simples fato coloca em cheque tudo o que espera-se de um rapaz, principalmente durante a adolescência, fase em que os hormônios estão a milhão, retrata a masculinidade frágil de maneira até cômica e exagerada, e questiona o que a sociedade diz ser adequado a um cara. Isso faz de Otis menos homem? A resposta é apenas uma: não. “Mais macho que muito homem”.

Reprodução/Reprodução

4º padrão quebrado: o de que apenas homens se masturbam
É 2019 e, diferentemente da masturbação masculina, a feminina ainda é tratada como tabu, cercada de ~lendas urbanas~ e até mesmo condenada em alguns lugares do mundo. No seriado, o assunto é conduzido com muita leveza por Otis, que aconselha a amiga Aimee a conhecer o próprio corpo, pois só assim sentiria mais prazer durante as relações sexuais. Além disso, Sex Education passa a ideia de que a masturbação feminina é empoderadora (afinal, conhecer o próprio corpo, respeitá-lo e amá-lo é mesmo empoderador), pois, depois que a pratica, a personagem sente-se mais confiante e aprende de uma vez por todas que a mulher não é um objeto sexual de prazer programado para agradar o homem durante a transa. É preciso dar e receber. O prazer deve ser mútuo. Do contrário, qual é o sentido?

Continua após a publicidade

Reprodução/Reprodução

5º padrão quebrado: o de que minas nerds não podem produzir quadrinhos erotizados
Essa é uma temática delicada. O universo nerd é machista e misógino, e a hipersexualização de personagens femininas em quadrinhos, games e inclusive em seriados é mesmo preocupante. Mas uma mulher não pode expressar sua sexualidade através do trabalho por causa disso? Não seria um direito dela e algo até um tanto quanto empoderador de certa forma? Lily é a típica geek da turma, retratada de forma bastante estereotipada. Mas tal traço é justificado pelo seriado ao mostrar que nerds também transam. Pode soar engraçado e parecer besteira, mas ainda tem gente que acha isso não acontece.

Reprodução/Reprodução

PS: se você curtiu Sex Education, talvez também se interesse por Degrassi. As temporadas mais recentes estão disponíveis na Netflix. 

Publicidade