Marta é uma garota de 21 anos que nasceu em Dois Riachos, uma pequena cidade no sertão de Alagoas. Foi lá, num campinho de terra batida, embaixo de uma ponte, que ela começou a jogar futebol.
Ela tinha 7 anos e o irmão, 10 anos mais velho, arrimo da família, não gostava nada que ela ficasse na rua jogando bola com uma turma de meninos. Por sorte, a implicância não adiantou. Com 12 anos, Marta já jogava no CSA, um dos grandes de Alagoas – a única menina e craque do time. Logo pintou uma proposta para ir ao Rio jogar no time feminino do Vasco da Gama.
A notícia de que ia mudar para uma cidade grande a mais de 2 mil km de casa não agradou à família de Marta, mas ela sabia que era isso que queria fazer da vida. “Depois de um tempo, minha família percebeu que era realmente o que eu queria e aceitou numa boa”, conta ela. Faltava só driblar um problema: como juntar grana para a passagem? “Recebi ajuda do meu primo Roberto e de alguns amigos de Dois Riachos e fui atrás do meu sonho”, conta ela.
No Vasco, Marta jogava tão bem que ganhou o apelido de Pelé de Saia – aliás, hoje ela usa a camisa 10 da seleção, a mesma que o Rei imortalizou. Em 2003, a primeira grande conquista: aos 17 anos, conquistou a medalha de ouro com a seleção no Pan de Santo Domingo. Marta ficou conhecida no mundo inteiro como a jogadora que entortava adversárias e foi convidada para jogar em um time da Suécia, uma potência do futebol feminino. Tudo isso aconteceu quando ela nem tinha completado 18 anos.
Quando chegou sozinha à Suécia, em pleno inverno, levou um susto. Nesta época do ano, o país tem um dos climas mais rigorosos do planeta, com temperaturas que podem atingir 15 graus abaixo de zero. “Fiquei assustada, me perguntando: ‘Como se joga futebol num lugar assim?'” O uniforme completo tem luvas, gorro, proteção para pernas e braços.
Apesar do frio, a jogadora tem uma vida tranqüila: mora num apartamento pago pelo time, ganha um salário bem bom e viaja pelo mundo. “Não sei em quantos países já joguei, mas tem um especial: as ilhas Seychelles, no Oceano Índico com praias maravilhosas.”
Quando não está treinando ou jogando, Marta gosta de ouvir forró, conversar com o pessoal do Brasil pela internet e jogar Playstation.
No tempo livre, ela também aproveita para conviver com brasileiros que moram perto da casa dela e viraram uma espécie de segunda família longe de casa. “Por coincidência, eles são de Alagoas. Assistem os meus jogos, me ajudam sempre que preciso. Vivo sozinha e minha mãe fica mais tranqüila sabendo que tenho alguém por aqui sempre que sentir saudades ou precisar de uma força.”
O pessoal de Dois Riachos morreu de orgulho no dia 18 de dezembro de 2006, quando ela, finalmente, foi eleita a melhor jogadora do mundo pela Fifa, a entidade máxima do futebol. “Depois de ir para a final por 3 anos consecutivos, chorei muito quando recebi o prêmio. Fico feliz que no Brasil saibam que nós também somos boas no futebol. Existem muitas garotas jogando futebol no país, mas o problema é que poucas têm o suporte que eu tive para chegar até aqui.”