Assim como sororidade não significa que a mulher seja obrigada a se dar bem com t-o-d-a-s as mulheres, Fred Nicácio não necessariamente tem que gostar ou ser amigo de Bruno Gaga — dentro ou fora do BBB23 — só porque ambos são gays. Eu mesmo, que também faço parte da comunidade, tenho minhas (muitas) ressalvas em relação aos dois.
No entanto, o médico deveria, sim, ser mais empático e respeitoso com o atendente de farmácia. Depois da última festa, por exemplo, ele ficou indignado porque o comportamento invasivo do colega de confinamento teria causado desconforto a um dançarino de Simone Mendes, uma das atrações musicais da noite.
“Isso queima o filme da classe inteira. Vão falar: ‘Olha lá, a bicha doida, a bicha sem limite. Aí, parece que toda bicha é assim’”, esbravejou Fred em uma conversa com outros participantes no quarto fundo do mar. Independentemente de Bruno ter sido inconveniente, será que nós somos mesmo obrigados a sempre agir de uma determinada maneira apenas para não dar argumentos aos preconceituosos? Ou eles é que deveriam melhorar e não generalizar todo um grupo por casos isolados?
DR Fred não gostou que o Bruno agarrou o dançarino da Simone. #BBB23
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— Dantas (@Dantinhas) February 4, 2023
O médico também parece não levar em consideração que pessoas homofóbicas sempre vão achar um argumento e esse princípio é o mesmo dos que defendem que “tudo bem ser gay, desde que você aja como homem”, seja evitando dar pinta ou mesmo não demonstrando afeto a outro homem publicamente. E olha que, hoje em dia, ele é considerado uma voz importante para os homossexuais por causa da visibilidade que conquistou pela trajetória pessoal/profissional, viu? Não à toa, foi escolhido para estar no Queer Eye Brasil, reality show da Netflix, e no camarote do Big Brother Brasil.
fred já acordou chamando o bruno de feio kkkkkk pic.twitter.com/JnpIf1ndLM
— maya (@cabewalking) January 25, 2023
Infelizmente, a visão e o sentimento de superioridade de Fred sobre Bruno não são incomuns. Como a maioria de nós tem contato com a homofobia antes mesmo de nos entendermos como gays (ou até de entendermos o que é ser gay), é natural ter certos conceitos internalizados e, inevitavelmente, reproduzi-los em forma de repúdio a trejeitos “afeminados”, estéticas que fogem da heteronormatividade e por aí vai. Agora, já não passou da hora de começarmos a quebrar esse ciclo? A luta contra o preconceito não pode ser seletiva e nossas ações definitivamente não o justificam.