om o sucesso do álbum Taurus, Vol. 2 e uma turnê que está levando seu nome a todos os cantos do Brasil, Duquesa vive um momento de transformação. A artista, que antes era apenas uma promessa, agora é um fenômeno reconhecido nas ruas, nas redes sociais e nos palcos. Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, a cantora contou como tem lidado com a fama e mais detalhes desse novo momento da carreira.
“Até ontem, eu estava dobrando roupa em uma loja de departamento, atendendo telemarketing ou era recepcionista de rádio. Agora as pessoas me reconhecem na rua e pedem para tirar foto.” Duquesa reflete sobre seu crescimento meteórico. “Eu sei que eu sou a Duquesa, mas pode vir interagir comigo, me abraçar, conversar, tirar foto.”
Aos 24 anos, a artista acumula 24 milhões de plays nas plataformas digitais. Apesar da idade, ela lida com a fama e a responsabilidade de uma maneira muito matura e vê sua juventude como uma vantagem para ter “mais tempo para errar e acertar”, mas também como um desafio. Por ter se tornado uma pessoa pública, Duquesa tenta limitar “ser jovem apenas em casa” para manter a postura.
Virando heroína fazendo só rima forte
Nascida em Feira de Santana, na Bahia, Duquesa sempre foi muito ligado a arte e a poesia. Ela começou a gravar suas próprias músicas aos 15 anos e seu primeiro lançamento também veio na mesma época, junto com o grupo Sincronia Primordial. Em 2017, a artista lançou sua primeira música solo, dando início a uma série de lançamentos anuais que se estenderam até 2019.
A mudança significativa veio com a assinatura do contrato com a Boogie Naipe no final de 2019, quando a jovem ainda estava terminando a faculdade de Publicidade e Propaganda. Em 2022, com o diploma em mãos e a mudança para São Paulo, o fluxo de lançamentos se intensificou, trazendo o EP Sinto Muito e seus dois primeiros discos.
O desafio de mudar da Bahia para São Paulo foi uma prova de ambição profissional. “Eu acho que foi muito desafiador para mim no lado pessoal, porque eu não tinha amigos e não conhecia muitas pessoas,” reflete. “Foi um período meio sombrio da vida,” admite.
A artista encontrou apoio e adaptou-se à nova cidade, apesar das dificuldades. “Na Bahia eu tinha meus amigos, eu morava com a minha mãe, eu tinha um relacionamento que acabou. Então eu estava naquela bad master de estar sozinha e só concentrada em trabalhar para poder ter algum proveito.”
Eu acho que a ficha caiu essa semana, eu liguei para minha mãe e a gente ficou chorando na ligação. Na adolescência, eu tive acesso a muita coisa errada, mas minha mãe fez dar certo.
Duquesa sobre sua adolescência
Por mais que a nova cidade esteja ajudando Duquesa em seu crescimento profissional, seu coração ainda está na Bahia: a mãe. “Eu agradeço minha mãe por todas as vezes que ela não deixou eu ir para praça à noite, não me deixou fazer tatuagem cedo, colocar um piercing, por todas as vezes que ela foi rígida comigo. Isso é muito bonito, porque enquanto todo mundo falava que ia dar tudo errado, ela foi e fez dar certo.”
Duquesa nos contou que liga para a mãe, que é técnica de enfermagem, quase todos os dias – menos quando ela está de plantão. Por mais que a saudade seja tanta, ela agradece por hoje ter uma condição financeira que a permite ver a mãe com mais frequência do que em seu primeiro ano em São Paulo.
Indicada ao BET Awards 2024 — premiação internacional criada em 2001 pela Black Entertainment Television para premiar artistas afro-americanos da música, cinema, esporte e outras áreas do mercado de entretenimento -, Duquesa concorreu na categoria Melhor Novo Artista Internacional. “Eu chorei, gritei. Dei uma leve surtada,” ela revela sua reação ao descobrir a indicação.
Não é sobre ganhar, eu não estava nem ligando para isso. Eu queria estar lá, ser reconhecida, dizer meu nome para as pessoas. Ser indicada só significa que o movimento que eu estou fazendo está no caminho certo.
Duquesa sobre indicação ao BET Awards
Batendo em hater igual Popó
Na era digital, a Duquesa encontra um equilíbrio delicado entre sua presença online e sua saúde mental. Reconhece a necessidade de cuidar de si mesma, especialmente após uma pausa na terapia. “Eu tenho uma maturidade muito grande, eu não fico em choque por pouca coisa. Os haters não me conhecem”, diz. “Hoje eu lido com a fama entendendo que eu estou nesse momento, mas tudo bem se eu não tiver. Eu só não quero não ficar dura e perder a minha estabilidade mental.”
Eu quero construir esse legado: talvez eu fique mais famosa e talvez eu tenha uma repercussão muito maior, mas eu quero manter a minha cabeça no lugar de que isso não é tudo. Eu não estou em busca dessa fama, eu quero entregar um bom trabalho, uma boa música.
Duquesa sobre fama
Em Taurus, Vol. 2 Duquesa explora uma mistura de gêneros ousada e mergulha em um processo criativo com muitas influências. Uma das faixas favoritas dos fãs é Pose, em colaboração com Urias, Iuri Rio Branco e Zaila, com muita influência de ballroom. Consciente de sua crescente ascensão no mundo da música, a Duquesa se questionou “Estou em ascensão agora, o que posso fazer por esse movimento?’”.
Ela notou que, enquanto o rap ganha espaço, outros nichos como o ballroom ainda lutam por visibilidade e apoio. “É tão bonito ver como as pessoas envolvidas nesse mundo lidam com o conceito de família, respeitando muito a figura da mãe ou do pai,” diz a cantora, admirando a forma como a cultura ballroom respeita e celebra seus próprios membros, muitas vezes em contraste com a sociedade que as marginaliza.
Mais rica que o sertanejo, Duquesa é o novo pop
A turnê Taurus 2024 está varrendo o Brasil e, após uma recente parada em São Paulo, a energia do público continua a surpreender e entusiasmar a Duquesa. “Eu estou muito feliz, porque o show é o momento em que você percebe que as pessoas não são só números da internet, sabe?” afirma. Para ela, o show é uma confirmação palpável de que sua música está presente na vida das pessoas, não apenas através de métricas online, mas na rotina diária delas.
Eu não sou uma artista feita em laboratório, que tem milhões de ouvintes impulsionados por robôs ou compra de streaming. Quando eu vejo um milhão de ouvintes mensais, sei que são pessoas reais me ouvindo continuamente
Duquesa
Estar na rotina das pessoas é algo que a artista considera muito poderoso. “Elas acabam se identificando com as letras, e no show elas vão lá para curtir aquele momento porque querem ouvir de verdade.” Para ela, essa conexão é uma forma de validar a entrega como artista. “As pessoas não iriam pagar por um ingresso se não tivessem certeza de que o show seria bom”, reflete.
Um dos momentos mais marcantes da turnê foi em Goiânia, uma cidade tradicionalmente associada ao sertanejo. A emoção foi palpável, com a casa cheia e até mesmo pessoas do lado de fora. “O mais surpreendente foi que, apesar do sertanejo dominar a cena lá, tinha muita gente ali para escutar rap.”
As pessoas querem me escutar, mesmo em lugares onde o sertanejo sempre foi o principal gênero. O rap está se tornando o novo pop, no sentido de ser popular, de estar na boca do povo.
Duquesa
Escute ao Taurus, Vol.2: