Quando tinha 18 anos, Iris Figueiredo assinou um contrato para a publicação de seu primeiro livro, Dividindo Mel e, desde então, continua contando histórias que ela mesma cria para leitores que podem ser classificados como apaixonados. Desde então, ela já publicou o romance Céu Sem Estrelas, os livros de contos Roda-Gigante, Pisando em Nuvens e a antologia de contos De Repente Adolescente.
Conciliando a vida de escritora com seu trabalho formal como funcionária pública, hoje aos 30 anos, Iris lança mais um livro.Um Passo de Cada Vez, pela Editora Seguinte – que é uma reescrita ~modificada~ da duologia Confissões Online, que escreveu aos 19 anos. E nós te contamos tudo sobre.
Em Um Passo de Cada Vez, reencontramos Mariana, que não se lembra qual foi a última vez que foi feliz no colégio e lida sozinha com situações complicadas em sua adolescência. Mari encontra conforto em sua banda preferida, a Tempest e quando descobre que vai rolar um show da banda na cidade, decide fazer tudo que está a seu alcance para acompanhar a banda e assim, novas oportunidades que podem mudar seu futuro aparecem. A história de fangirl que já amamos e nos identificamos, né?
Tudo isso tem muito do que Iris viveu em sua adolescência como fã, passando por situações complicadas e tentando dar o seu melhor nas piores fases. “Reescrever essa história foi muito importante para mim, foi como se eu olhasse para a Iris lá de trás e falasse: tudo bem ser você, tudo bem ter o seu corpo e ser desse jeito. As pessoas vão te amar ou te odiar do jeito que você é, não importa. O importante é ser feliz com quem você é”.
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E assim a escritora consegue – mais uma vez – retratar o que tem de melhor nos livros: conhecer novas realidades, vivências, pessoas e ideias que podem não ser uma realidade para você, mas são para outras pessoas.
“É muito importante a gente ter essas vozes porque a gente dá espaço pra pluralidade, pra diversidade nos torna muito melhores como pessoas, como seres humanos, faz a gente ter um mundo melhor porque a gente vai entender e respeitar o lugar do outro vai entender e respeitar as necessidades do outro e nos enriquecer como pessoas”, destaca.
CH: Como foi começar a escrever tão nova?
Iris Figueiredo: Foi a realização de um sonho que de certa forma, eu nem sabia que tinha. Porque apesar de sonhar em ser escritora, eu não achava que era uma possibilidade, sabe? Eu achava que era algo muito fora do meu alcance. Eu comecei a escrever com o incentivo do meu pai, que em 2009 me encorajou a criar um blog para compartilhar minhas leituras, ele já está sendo visionário (risos). Uma preocupação minha era quem leria sobre os livros que eu li, e meu pai mais uma vez me encorajou e deu a ideia de eu compartilhar minhas resenhas com meus amigos da comunidade do Orkut.
O que me deu um gás foi quando o meu pai fez um trato comigo, ele deixaria eu usar a internet se eu trabalhasse – e não era qualquer trabalho, era escrever o meu livro. Então eu comecei a escrever meu primeiro livro, Dividindo Mel. Eu não o estava levando a sério, mas acabou que ele foi publicado por uma editora pequena, foi assim que aos dezessete anos contei a história de Melissa, que é a irmã da Mariana, a protagonista de Um Passo de Cada Vez.
CH: Você teve muitos desafios durante esse período?
Acredito que o desânimo e manter a constância foram meus maiores desafios e até hoje, um dos meus maiores desafios é conciliar a escrita com meu trabalho formal como funcionária pública. Meu pai me dava muita força e minha mãe também me dá muita força, os dois sempre me apoiaram muito no meu sonho de escrever e sempre me colocaram muito pra frente, o que foi essencial nesse período.
CH: O que você diria para um jovem que tem o sonho de ser escritor assim como você?
A minha principal dica é: para escrever, você precisa ser um bom leitor. Ou seja, é importante ler as histórias que chegam até você e refletir sobre elas, pensar naquilo que você está lendo e sentir essas histórias, ler, se divertir, se emocionar com elas. E claro, ler vários tipos de histórias, não ficar preso a um só estilo, a literatura é um mundo vasto!
Minha segunda dica é sentar e escrever, pega um caderninho e vai colocando suas ideias no papel. Você não precisa sentar e escrever tudo de uma vez, sabe? Uma história não surge de um dia para a noite e você não precisa necessariamente começar sua história pelo começo, se divirta no processo. Por último, tente encontrar pessoas que também curtam escrever, a internet é um universo vasto – tem muita gente escrevendo e traçando o mesmo caminho que você.
CH: Sobre a publicação dos livros, você sente alguma facilidade hoje que não tinha na sua primeira publicação?
Sim! Hoje em dia tem muitas formas de publicação (não só a tradicional). Você pode publicar de forma independente na internet e fazer sua história chegar a outras pessoas, as possibilidades são muitas, temos os caminhos mais abertos. Tem muitas formas de você se conectar com leitores, se conectar com outras pessoas que escrevem. E acho que isso é incrível se você não acha esse apoio dentro de casa, você pode encontrar esse apoio online de pessoas que amem a literatura tanto quanto você.
CH: Como foi reescrever Confissões Online depois de tantos anos?
Foi uma loucura! Quando eu lancei meu penúltimo livro, Céu Sem Estrelas, eu fiquei sem saber o que escrever em seguida porque eu achei que Céu Sem Estrelas seria o último livro que escreveria. Ele foi muito importante pra mim, mas ao mesmo tempo eu estava muito desanimada com o mercado editorial porque já fazem onze anos que eu publiquei meu primeiro livro, sentia que eu estava um pouco estagnada.
Então quando as pessoas começaram a gostar de Céu Sem Estrelas, vi que reescrever Confissões Online era uma oportunidade, já que ele foi publicado por uma editora menor que tinha alguns problemas com a distribuição do livro, então o ofereci para a Seguinte. Mas Confissões Online foi escrito quando eu tinha dezenove anos, então eu precisei revisá-lo.
Isso foi no início da pandemia e eu não tinha cabeça para isso, eu fiquei muito perdida para revisar, eu achei que ia ser rápido (risos). Eu estava empurrando com a barriga e não conseguia pegar o livro de volta, meu pai faleceu na pandemia e depois que eu estava um pouco mais recuperada, eu resolvi tentar novamente – e deu certo.
Apesar dos livros terem a mesma raiz, eles não são o mesmo livro. Ele virou uma história nova, a Mariana (protagonista) é uma personagem muito diferente, é a adolescente que eu queria ter sido – uma personagem que tem dificuldade para lidar com certas situações mas consegue se reerguer e se reconstruir em cima daquilo. Eu consegui dar um início, meio e fim para ela em um livro só!
CH: Você pode falar mais um pouco sobre a Mari, nossa protagonista?
Quando escrevi Confissões Online, eu não acreditava que uma personagem gorda seria interessante, dessa vez eu tive coragem de escrever uma vivência similar a minha e quando comecei a escrever, não fazia sentido a Mari ser magra – e isso foi muito importante para mim, foi como se eu olhasse para a Iris do passado e falasse “está tudo bem ser você”.
A Mariana é uma personagem muito divertida, está passando por maus bocados por situações bem complicadas na vida pessoal dela, mas ela é uma personagem que tem um otimismo dentro dela. Ela acredita muito que quando acabar aquele período dela do colégio, vai ter uma vida diferente.
Ela descobre que ela pode ter uma vida diferente, que ela pode ser outra pessoa além daquilo que estão falando sobre ela. Eu acho que isso é uma coisa que eu amo sobre a Mari, ser uma personagem que tem essa paixão pelas coisas que tentam apagar esse brilho dela no olhar quando ela está falando sobre coisas que ela ama. A Mari me ajudou a me entender, ela me dá satisfação e muita felicidade de saber que ela é uma personagem que eu escrevi.
CH: Outros personagens também mudaram em Um Passo de Cada Vez?
Eu consegui fazer o mesmo que fiz com a Mari com outros personagens do livro, especialmente com a Nina, que é uma personagem que eu sinto que não trabalhei direito no outro livro!
CH: O que você pode falar sobre o resultado final do livro sem spoilers?
IF: Eu amei e fiquei apaixonada por ele. Eu mudei algumas coisas cortei outras tem enredo que não existe mais, na história tem coisas que surgiram a banda dessa vez tem uma relevância muito maior e a vida online dela eu tentei trazer isso ali por meio de mais mensagens nos capítulos.
CH: Por que é importante para você retratar pessoas reais nos seus livros?
IF: A literatura é um espaço que às vezes parece muito solitário mas quando eu olho pra minha estante eu sinto que eu não estou sozinha, porque tem várias pessoas de vários lugares do mundo que amam palavras tanto quanto eu, e que se deram ao trabalho criar suas próprias histórias e compartilhar suas vidas, suas vivências, suas ideias, seus ideais. Tudo isso através da literatura e pra mim isso é tão lindo e poderoso que eu acho muito bizarro que a gente tente manter a literatura num padrão. Todo tipo de gente tem que ser retratada na literatura e nós precisamos ver isso!
Pra mim mesma foi muito importante quando eu aprendi pela literatura que estava tudo bem falar sobre saúde mental, que estava tudo bem ter personagens com corpos parecidos com o meu, que estava tudo bem a gente ter vários tipos de representação seja de sexualidade, raça ou gênero. E mesmo que aquilo não fosse a minha realidade, era a realidade de outra pessoa.
Quando a gente pensa que nesse encontro diferente é onde muita gente se encontra no igual, a gente cresce ainda mais porque nem todo mundo nasceu no mesmo lugar, nem todo mundo vive a mesma história. Tem lugar pra todo mundo na literatura e tem lugar pra todo mundo conhecer a história de todo mundo na literatura.
CH: No seu livro conhecemos uma banda pela qual a Mari é apaixonada, quais foram suas inspirações para retratar as “loucuras” que ela faz como fã?
IF: Eu sou fã de algumas pessoas, como a Taylor Swift, mas nunca fiz muitas loucuras, eu deixei isso para os meus personagens (risos). Mas uma cena do livro no show da banda foi inspirada em quando eu era adolescente e minhas amigas conseguiram um ingresso para o No Capricho que aconteceu no aniversário da minha mãe e eu chorei muito porque não poderia ir. Inclusive, a revista Super Teen no livro, foi inspirada na Capricho – e isso mexe muito com minhas memórias de adolescente.
Ah, e a banda foi inspirada em sons como Fresno, NX Zero e outros sons dos anos 2000, são os clássicos meninos fazendo um som um pouco mais poluído em uma garagem, sabe?
CH: Você já teve alguma situação com leitores que te marcou?
IF: Sim! Quando eu lancei Céu Sem Estrelas foi em um Flipop e uma leitora devorou o livro em menos de um dia, no outro dia ela chegou e me contou que amou o livro. Toda vez que algum leitor fala que minha história mudou a vida deles, que fez eles repensarem alguma coisa muito séria, como abrir mão da vida e ir buscar ajuda psicológica, de conversar mais com os próprios pais, de aceitar quem é, de amar um um pouco mais o próprio corpo, me deixa muito feliz, muito feliz mesmo!
CH: Quais são as suas expectativas com o lançamento do novo livro?
IF: Eu estou muito animada, espero que eu possa ser uma porta de entrada pra novas leituras e que eu possa fazer aquela pessoa se dar conta de algo que não tinha se dado antes – isso que motiva a continuar escrevendo. A minha expectativa é que esse livro toque o coração das pessoas, que ele encontre muitos leitores e mude a vida de muita gente como mudou a minha. Então assim essa é a minha expectativa pro momento.
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E para os fãs do universo dos livros da Iris, a autora contou à CAPRICHO que pretende escrever sobre a história de Nina e Yasmin, personagens que já tivemos contato! <3