inguém diria que aquele era o primeiro ensaio de capa de revista da vida dela. A jovem de 19 anos precisou de pouco tempo para se soltar e entregar tudo nas fotos que ilustram esta edição digital da CAPRICHO do mês de junho.
Concentrada, ao som de Urias e Pabllo Vittar, a maranhense de Bacabal posava para a câmera, na realização de mais um sonho. “Quero muito que outras garotas, como eu, se encontrem nesta capa também”, comemora.
Sim, é ela: Alexia Brito, conhecida também na internet como bota pó, botinha, bota puere, botadora de pó. A influenciadora, que ganhou visibilidade por meio do humor, em meados de 2021, sendo meme, hoje traz para suas redes sociais, cada vez mais, conteúdos de moda ‒ paixão que nutre desde a infância ‒ e conversas relacionadas à causa LGBTQIAP+.
“Comecei na internet bem humorada e isso nunca vai morrer em mim, é a minha essência, mas também quero impactar as pessoas de outras formas.”
Antes mesmo de ser a bota pó (apelido que veio da quantidade de maquiagem que usava) e um fenômeno na internet, aos 15 anos, em meio à pandemia, a jovem abriu uma live com mais de quatro mil pessoas e assumiu sua transição de gênero.
“Contei que me via como menina e que a partir daquele momento eu não queria mais ser tratada no masculino”, relembra. Por dentro, ela já sabia que estava transicionando há um tempo, “mas foi chocante trazer o fato publicamente”.
A gente é tão diversa. Precisamos evoluir muito para sair desse lugar tão pequenininho que nos colocam a todo instante.
Alexia Brito, em entrevista para a CAPRICHO
“Eu recebi várias mensagens de apoio de pessoas muito famosas, de artistas incríveis e eu agradeço muito por esse carinho. Mas também tomei muito hate e foi difícil ouvir pessoas falando que ‘eu’ não era ‘eu’”, conta. Apesar dessa ambiguidade, e do lado negativo, foi na internet que ela encontrou referências, como Urias e Erika Hilton.
Alexia conta que, quando era criança, sempre gostou do universo feminino, só que não tinha em quem se inspirar. As referências que tinha eram extremamente caricatas, marginalizadas e sexualizadas.
“Para mim, eu ia ser uma gay afeminada, vestida com roupas de mulher e nunca ia ser tratada no feminino”, diz. Viver em uma cidade do interior, como Bacabal, cidade com 103 mil habitantes, em que casos de violência e homicídio de pessoas trans são uma dura realidade, piorava a situação.
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Mas foi com o poder de aproximação da internet que ela conseguiu chegar mais perto de pessoas com lutas, vivências e histórias semelhantes às suas. E, com isso, também ser referência para outras garotas trans. “Sou muito aliada na causa LGBTQIAP+. E não teria como ser diferente: sou uma mulher trans e vivo no país que mais me mata”, diz.
Em 2023, foram registradas 155 mortes de pessoas trans no Brasil, sendo 145 casos de assassinatos e dez que cometeram suicídio após sofrer violências ou devido à invisibilidade trans. Com isso, o país é o lugar com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo pelo 14º ano consecutivo. (Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra).
Diante da realidade brasileira, Alexia reconhece seus privilégios. “Sou uma mulher trans, mas sou branca, trabalho com publicidade, tenho uma fonte de renda”, afirma.
Muitas mulheres transexuais não têm as mesmas oportunidades e estão pelas ruas, presas no lugar de miséria e sexualização que a sociedade insiste em limitá-las. “A gente é tão diversa. Precisamos evoluir muito para sair desse lugar tão pequenininho que nos colocam a todo instante”, defende.
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