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A polêmica por trás da estética que faz camiseta do Brasil de tendência

Por que uma peça usada há tanto tempo na periferia só vira moda quando aparece em looks de pessoas brancas?

Por Taya Nicaccio 21 ago 2022, 10h00

Nas últimas semanas, vídeos sobre a brazilcorebrazilian aesthetic ou estética brasileira inundaram as redes sociais, especialmente no TikTok, com uma série de produções e roupas nas cores verde e amarela, que remetem à bandeira do Brasil. Essa movimentação começou depois que várias fashionistas europeias se apropriaram e reproduziram o estilo tradicionalmente usado na periferia e, majoritariamente, discriminado por uma sociedade racista e elitista que, inclusive, sempre marginalizou essa galera. 

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A moda da periferia como precursora de tendências

Apesar de ser precursora de muitas febres que consumimos hoje, como aquelas que fazem referências aos anos 2000, mais conhecidas como Y2K, o surgimento de novas tendências nunca é direcionado para as periferias. Quando isso acontece, é sempre em uma posição subalterna, vista como inferior e feia, pelo menos quando se tratam de corpos racializados e periféricos vestindo. Mas, do contrário, é lindo e maravilhoso, como as tranças em pessoas brancas.

Esse comportamento também se reflete em quem produz conteúdos e escreve sobre moda através de uma perspectiva elitizada e excludente. Em março desde ano, por exemplo, para onde estavam voltados os olhos de quem consome notícias de moda quando a marca Piña, do estilista carioca Abacaxi, fez um desfile nas ruas de Madureira, com peças cheias de recortes cut-out, amarrações, transparência e combinações de cores como verde e amarelo e azul e branco e, claro, a bandeira do Brasil?

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Para a historiadora e comunicadora Giovanna Heliodoro, “brazilcore” é o nome dado para uma estética que, mais uma vez, surge nas favelas. “[Essa tendência] só passa a ser reconhecida quando as pessoas brancas e ou da ‘elite da moda’ passam a utilizá-la. Não é de hoje que, entre becos e vielas, vejo muitos jovens usando camisetas do Brasil ou de outros times esportivos do mundo afora. Infelizmente, quando os nossos usam é feio, brega e démodé, mas precisamos reconhecer que, dentro da favela, surgem muitas tendências que nem sequer são reconhecidas como moda”, opina Giovanna em comentário em publicação no Instagram. 

“Historicamente dizendo, isso não é nada recente, mas por [2022] ser um ano de Copa do Mundo e de eleições, o assunto se tornou mais potente lá no Twitter. Só que é importante lembrar que a bandeira do Brasil não é partidária; é um bem coletivo que foi tomado pela direita e nós precisamos nos reaproveitar disso”, finaliza. Como afirma o idealizador da Piña, quem foi que disse que a bandeira do Brasil não é nossa? 

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Despolitizando e ressignificando as cores do Brasil

Em um cenário político nacional em que, nos últimos quatro anos, a bandeira e camiseta do Brasil foram tomados pela direita, despolitizar e ressignificar as cores da bandeira brasileira é, sim, um ato urgente e revolucionário.

Para o rapper Djonga, que já usou a camiseta da seleção brasileira em seus shows em posição contrária ao atual governo, despolitizar o que foi politizado também é revolucionário. Durante uma apresentação no Mineirão, em abril deste ano, o cantor disse que “eles se apropriam do tema, do nosso hino, de tudo”, mas reforça que “tudo é nosso e nada deles”.

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A cantora Anitta também deu um novo sentido para as cores da bandeira em sua apresentação no Rock in Rio Lisboa, mas, neste caso, ela quis representar a cultura do funk e da periferia brasileira nos palcos europeus.

Anitta se apresenta no palco do Coachella Stage durante o Coachella Valley Music and Arts Festival 2022 em 15 de abril de 2022 em Indio, Califórnia.
Em cenário do palco, Anitta faz referência a favelas Kevin Winter/Coachella/Getty Images

Falando em Copa do Mundo…

Com a Copa do Mundo se aproximando, os mercados da moda e da beleza já estão se aquecendo com uma série de lançamentos e produtos relacionados ao Brasil. Um exemplo disso é a nova camiseta da Seleção Brasileira, lançada pela Nike. Intitulada como “Veste A Garra”, a ideia da coleção era homenagear os brasileiros e combinar as padronagens da onça-pintada em uma camiseta, que até poderia ser personalizada com nomes de torcedores.

No dia de seu lançamento, algumas pessoas não conseguiram personalizar a nova camiseta com nomes ligados a religiões de matriz africana, como Ogum e Exú, já que apareciam seguidos de uma mensagem “Personalização indisponível”, em todos os tamanhos e modelos de roupa. Porém, nomes como Cristo e Jesus estavam autorizados. 

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Após as acusações de intolerância religiosa, não somente relacionados às religiões de matriz africana, mas a todos aqueles que não pertencem ao catolicismo e não passam pelo sincretismo religioso, a marca emitiu uma nota. “A falha no sistema que permitiu a customização de algumas palavras de cunho religioso está sendo corrigida”. Ao que se parece, hoje, não é possível personalizar as peças com nenhum nome muito conhecido de cunho religioso ou político.

No país do futebol, usar camiseta de time é, sim, uma tendência popularizada pela periferia e um ato revolucionário. E aí, o que você acha de toda essa movimentação? 

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