uais são os principais desafios de fazer um desfile no SPFW acontecer e também de se fazer moda no Brasil? Foi isso que perguntamos para alguns estilistas que apresentaram coleções no São Paulo Fashion Week N57, que aconteceu de 9 a 14 de abril. Muitos apontaram a falta de recursos financeiros, mas também ressaltaram questões geográficas e até a falta de reconhecimento da moda como trabalho. Vem entender!
Clara Pasqualini – Fauve
A estilista Clara Pasqualini, que comanda a marca Fauve, fez sua estreia no SPFW N57 e aponta seu esforço para a moda ser reconhecida como importante no Brasil.
“No Brasil, a moda, a arte, a criação, ainda não são reconhecidas como um trabalho ‘de verdade’. Parece que é algo a mais, desnecessário, mas todo mundo consome e precisa de arte. Então, primeiro de tudo é necessário reconhecer que as pessoas precisam disso pra viver, a moda é uma plataforma de expressão. Para quem está começando também, eu diria para encontrar a sua identidade, persistir, ser consistente e buscar parceiros que possam te ajudar e te dar um amparo”, afirma.
“Como uma marca independente, é difícil a gente fazer um ótimo trabalho com poucos recursos. Marcas pequenas fazem mágica com os recursos que têm, então conseguir estar aqui [no SPFW] é muito também por conta da minha equipe que acredita nisso comigo, meus parceiros, as empresas que acreditam na Fauve. Sem eles nada funcionaria, sozinho a gente não consegue fazer nada”, completa.
Hisan Silva e Pedro Batalha – Dendezeiro
Os designers soteropolitanos Hisan Silva e Pedro Batalha, que trouxeram a coleção ‘Para aqueles que acreditam na liberdade’ nesta temporada, ressaltam as dificuldades em torno da moda centralizada no eixo sudeste.
“Enquanto uma marca que nasce na Bahia, que vem do Nordeste, a gente tem todo esse trâmite e essas várias noites que sem dormir para construir as coisas, porque a gente fala sobre uma moda nacional que não necessariamente divide as ferramentas para todos os lugares. Então, saímos de lá e viemos para cá para apresentar o nosso desfile, e voltamos para casa e entendemos que existem determinadas ferramentas que a gente tem que fazer malabarismo para conseguir utilizar”, declara Hisan.
“No fundo, não queremos que a impossibilidade nos impeça de viver o nosso sonho e realizar o nosso trabalho. Um dos motivadores principais é que a gente acredita que tem com o que contribuir para a moda. As impossibilidades vão sempre existir, principalmente se você é criador preto, LGBT, nordestino. Mas, tirando toda essa camada, também tem o criativo, o designer. E esse segmento que o mercado acaba atribuindo pra gente dificulta com que a gente alcance outros espaços e viva outros tipos de experiências, porque queremos que a atenção principal do nosso trabalho seja aquilo que a gente executa, o nosso empenho, a nossa dedicação, o design que apresentamos na passarela. Então, essa vontade de mostrar isso faz com que a gente persista aos obstáculos que vêm pela frente”, acrescenta Pedro.
Theo Alexandre – Thear
A distância geográfica também é colocada pelo diretor criativo da Thear, Theo Alexandre, como um desafio a ser superado para apresentar uma coleção no São Paulo Fashion Week. “O meu maior desafio primeiramente é a distância física. Eu venho com uma equipe muito grande pra cá, nós viemos com 26 pessoas no total, e eu faço questão de ter uma equipe de Goiânia que é da minha confiança.”
Além disso, ele destaca a importância do autoconhecimento ao se fazer moda no Brasil.
“Fazer moda no Brasil em si já é um desafio. Fazer moda autoral em Goiás o desafio duplica, triplica. Quando eu cheguei em São Paulo, eu tinha muitas dúvidas do que eu era, do que eu poderia fazer. Mas, sim, o que a gente faz é muito potente, e a cada coleção a gente descobre a nossa potência. Então, existe também um desafio de autorreconhecimento. A maturidade nos faz entender, olhar o nosso trabalho com acolhimento nos faz entender. Tem o desafio externo, mas também o desafio de nós mesmos. Quando a gente se entende e tem autoconhecimento, a gente sabe que podemos atravessar tudo isso e com uma equipe junto. A Thear é sobre muitas pessoas de mãos dadas.”
Célio Dias – LED
“O maior desafio é termos um apoio incondicional”, discorre Célio Dias, da LED, a respeito das marcas apoiadoras dos desfiles de etiquetas independentes.
Na coleção ‘O lindo baile do Amor’, ele encontrou essa importante liberdade criativa em seus parceiros. “E não é só acreditar, a gente também tem que trabalhar muito. Eu não venho de uma família renomada, eu fui construindo a minha história. Eu tenho muito orgulho disso. Mas fazer moda no Brasil hoje requer que você tenha resiliência. As coisas não vão acontecer de um ano para o outro e, quando elas acontecem, tem um investimento. Tem muita gente boa e incrível. Mas acredito que a moda do Brasil precisa ser mais potencializada, precisamos ter mais acessos e portas abertas.”
Tom Martins – Martins
“Sou muito grato ao SPFW, porque a gente realmente precisa dessa valorização da moda nacional”, afirma o estilista Tom Martins. Segundo ele, esse foi o desfile da Martins que teve mais apoiadores envolvidos, incluindo nomes como Ypê e Lucelli. “Os desafios são de levantar, gerir equipe e ter dinheiro. Mas a gente está em um momento muito bom em relação às marcas e estamos conseguindo levantar os desfiles de um tempo para cá de uma forma confortável.”
Cíntia Felix – AZ Marias
“O principal desafio que a gente vê sempre é financeiro”, reforça Cíntia Felix, da AZ Marias. “A gente só faz esse espetáculo sem dinheiro porque tem muita gente que acredita. Temos apoiadores e pessoas que se levantam para nos auxiliar a entregar um espetáculo digno do que a gente quer falar.”