Guma Joana aborda crise climática e extinção de pessoas trans em desfile
Passarela da Casa de Criadores virou espaço de protesto para a estilista: "Assim como seres da natureza, estamos em extinção"
A 53ª edição da Casa de Criadores teve início no dia 5 de dezembro e vai até o próximo domingo, dia 10. O evento trouxe a estilista Guma Joana, travesti que dá o próprio nome à marca, na quarta-feira (6) para apresentar o desfile da coleção Desdita 07: Feraz.
Em entrevista à CAPRICHO, Guma revela a inspiração por trás das roupas: “Quero falar sobre o planeta Terra, sobre crises climáticas e também pessoas trans e pessoas marginalizadas que estão em extinção, assim como seres da natureza”. Com casting de modelos e clubbers transexuais, o desfile torna-se uma performance de estilo, vivência e protesto.
@capricho CDC | Conversamos com a estilista Guma Joana sobre a coleção Desdita 07: Feraz apresentada na 53ª edição da Casa de Criadores. Ela fala sobre as crises climáticas e a extinção de pessoas trans e marginalizadas. #casadecriadores #desfile #moda
♬ Fashion show sound that enhances the model!(221809) – UNchan
A passarela virou palco para o ato de abertura. A primeira modelo incorpora uma entidade enquanto faz um discurso sobre a Terra e identidade. “Mudo o novo mundo”, proclama com o microfone em uma mão e uma pedra amarrada em um tecido em outra. As palavras de resistência, escritas pela diretora criativa Amem Ira, trazem também protestos contra a falta de direitos das pessoas transexuais: “Me escuta, eu estou em perigo […] desacredito do acaso”.
“Muito importante para a gente lembrar o quanto o sistema acaba destruindo a nossa dignidade, e a gente tenta o máximo possível ir contra a correnteza e não deixar ser destruída a nossa missão aqui”, declara a estilista a respeito do propósito da coleção e do trabalho da marca. “Colocar essas pessoas para se verem também e para se lembrarem, e para eu me ver e me lembrar de que a gente tem que continuar mudando”.
Os looks traziam muitas peças em comprimento mini, recortes e fluidez, além de mangas que davam o efeito de luvas e fugiam do básico. Os tons mais terrosos ganharam destaque com tecidos lisos e animal print, fazendo referência à natureza. A questão da crise climática foi abordada com o uso de materiais prateados e uma minitelevisão antiga que foi carregada simbolicamente por uma das modelos.
Quanto à beleza, unhas postiças compridas compuseram o visual junto com maquiagens artísticas que contornavam os rostos. Em algumas delas, foram aplicadas lentes de contato vermelhas.
Guma Joana transformou a passarela da Casa de Criadores em palco para a expressão da identidade, as modelos tinham liberdade para sair do cat walk tradicional e, na fila final, a equipe também se soltou e pôde desfilar.
