Maíra Medeiros é o próprio arco-íris em forma de pessoa. As cores estão por toda parte nela: em seu cabelo, roupas, acessórios e maquiagem. O colorido forma sua personalidade e ela não tem vergonha de exibir essa característica por aí. “É uma parte de mim, eu me sinto muito bem assim. Eu me olho no espelho e não me imagino de outro jeito“, disse a escritora em entrevista à CH.
Porém, nem sempre foi dessa forma. Se hoje Maíra brinca com as cores e explora o seu visual de maneira divertida, é porque passou por um período de autoaceitação e de descobertas sobre si mesma. “Eu me desconectei da opinião alheia e me reconectei com o que eu realmente queria usar. Eu questionei: ‘Qual é a minha essência? Por que eu deixei de ser assim?’. E percebi que foi por conta do que os outro iriam pensar de mim”, completou.
Colorindo-se e autoaceitação
“Meu estilo sempre foi esse, mas antes eu mesma me oprimia. Quando eu era criança, com uns 10 ou 11 anos, eu já comecei a gostar de cabelo colorido e piercing. Nessa idade, eu também passei a escolher as minhas próprias roupas e a explorar o que eu curtia. Sempre fui ligada às cores, glitter, coisas ‘malucas’. Aos 15 anos, veio o boom da moda clubber e aí meu visual ficou ainda mais divertido”, explicou Maíra.
“Porém, nesse meio tempo, eu vivia em paralelo um problema de autoimagem, que começou mais ou menos aos 13 anos. Na adolescência, eu entendi que preto era a cor que emagrecia e, até os meus 20 anos, eu só usava roupas nesse tom por conta disso. Chegou ao ponto de um dia eu ir viajar com o meu pai e ele me perguntar por que eu estava usando as mesmas peças durante toda a viagem, pois todas elas eram iguais”, completou.
Alguns anos depois, perto de se casar, Maíra contou que começou a reavaliar suas inseguranças e sua relação com seu corpo: “Eu percebi que quanto mais eu corria atrás de ser magra, mais eu engordava, porque eu não estava sendo saudável. Eu queria ser magra a qualquer custo. Eu refleti e vi que precisava ter uma saúde mental e física independente do meu corpo. A partir disso, eu comecei a tomar as minhas decisões de acordo com meu bem-estar e não baseadas no que os outros iriam pensar sobre mim. Vivi um processo de autoconhecimento.”
Foi nessa época que a influenciadora se conectou novamente com si mesma e voltou a usar as roupas coloridas e diferentes que demonstravam quem ela era por dentro. “Eu comecei a pensar por que aos 16 anos eu parei de fazer isso. Era uma necessidade de querer ser invisível, de tentar me misturar com os outros a ponto de ninguém me ver. Eu conversei comigo e retomei quem eu era, incluindo o visual divertido”, disse.
Moda e referências
Assim como o seu estilo, as referências de Maíra estão por toda parte: de imagens inspiracionais do Pinterest à desenhos infantis da década 1980 e 1990. Criatividade é a melhor palavra para descrever as produções e como a escritora encara a moda. “Para mim, tudo isso é um diálogo, é uma forma de comunicação. A roupa que você usa, a maquiagem, os acessórios… Tudo é comunicação não-verbal. Você conversa através da maneira como você se veste. Quando você se limita a usar uma coisa, é como se você estivesse calando a sua própria voz, a sua essência“, diz Maíra.
Sobre a moda plus size, Maíra fala da dificuldade de encontrar diversidade de modelos e estilos: “Eu não acho roupa em shopping, é muito difícil comprar roupa plus em lojas, porque normalmente as marcas de tamanhos grandes seguem uma linha mais discreta. Então, tudo o que eu vejo no mercado ou não tem a minha numeração, ou não tem nada a ver comigo. Por isso, eu acabo comprando peças que teoricamente me servem e que estão mais ou menos alinhadas ao meu estilo e as customizo. A maioria das meninas plus size têm um processo criativo parecido com esse.”
Para quem ainda está se conhecendo e tentando compreender seu próprio estilo, a influenciadora indica: “Experimente, seja ousada. Não precisa sair da sua casa assim, mas monte um look diferente e se olhe no espelho. Fique o dia todo em casa usando essa roupa e veja como você se sente. Muitas pessoas observam uma peça e falam: ‘Eu acho isso muito legal em você, mas em mim não fica bom’. Mas como saber se fica ou não se você nunca provou?“
“Nosso estilo é formado pelos nossos gostos e interesses, e é isso que nos torna únicos. O primeiro passo é entender o que você curte e construir essa imagem de você mesmo. A moda é uma ferramenta para transparecer a personalidade e temos que achar roupas com as quais nos identificamos”, completa.
Universo da beleza
Os cabelos coloridos são a marca registrada de Maíra, que os pinta desde a adolescência. E não estamos falando de apenas uma cor, a escritora é fã da mistura de tons e exibe a cabeleira multicolorida por aí. “Eu não me enxergo mais com outro cabelo”, falou. Com anos de experiência, ela lista algumas dicas para quem também quer aderir ao visual: “Tente reduzir ao máximo o uso de ferramentas térmicas. Faça um cronograma capilar para entender o que as suas mechas precisam, se é de nutrientes, hidratação ou reconstrução.Teste os produtos e veja como os fios respondem.”
“É importante entender que seu cabelo colorido não vai ficar exatamente igual ao da foto que você pegou de referência. Isso porque o tom depende da textura dos fios, da cor, como as mechas vão responder à química. Respeite seu cabelo quando for pintá-lo. Não é porque ele ficou diferente do que você imaginou que ele está feio“, finalizou.
As maquiagens divertidas e inovadoras completam os tópicos que formam o visual da Maíra. “Muita gente fica numa piração com maquiagem, fazendo make para afinar o rosto… Antes disso, experimente, use a maquiagem como um instrumento de diversão e autoconhecimento, crie. Ela tem muito mais um teor artístico e criativo do que como uma padronização da beleza. Toda vez que o assunto é maquiagem, eu bato muito nessa tecla. Desencane dessa visão, porque a maquiagem não é feita para todo mundo ter o mesmo nariz, a mesma sobrancelha…“, fala a influenciadora.
Maíra também aborda a importância de se inspirar em pessoas com as quais você se identifique, que tenham coisas em comum com você: “Não é só pelo estilo, mas a importância de ter referências com as quais você se relaciona é também pensando no bem-estar. Como você vai se sentir bem com você mesma se todas as pessoas que você segue no Instagram são diferentes de você? A gente começa a desejar ser aquela pessoa, porque aquilo passa a ser a ideia de beleza. Quem você acompanha nas redes sociais pode atrapalhar o seu processo de autoaceitação ou ajudá-lo.”
Este Livro É Coisa De Mulher
Neste ano, Maíra lançou o seu primeiro livro, Este Livro É Coisa De Mulher, que aborda a desigualdade de gênero na sociedade, trazendo reflexões sobre esteriótipos femininos e pensamentos machistas que perduram há anos no mundo. “Eu trouxe vários questionamentos. Eu desconstruí essas ideias e tabus da mesma maneira que eu os desconstruí na minha cabeça. Eu busquei historicamente da onde surgiram determinados estereótipos, procurei entende-los e explicá-los. Eu vou desmistificando várias coisas sobre as mulheres, por isso o nome do livro”, explicou a autora.
A influenciadora contou que relutou em escrever sobre empoderamento feminino, pois sua autosabotagem a fazia pensar que não era capaz de abordar o tema: “Comecei escrevendo sobre um outro assunto, mas foi horrível, porque não era disso que eu queria falar. Então conversei com a minha editora e eles me apoiaram, me deixaram livre. Foi um processo de um ano meio até o livro ficar pronto. Minha maior insegurança era escrever coisas que as pessoas pensassem ‘Ah, mas todo mundo já sabe isso’. Mas eu refleti comigo mesma: ‘Vou falar o que o meu coração sente’.”
Trabalhar a desconstrução e procurar acabar com preconceitos e estereótipos nos ajuda a nos tornarmos pessoas melhores e a criar um mundo melhor. E para auxiliar nesse processo, Maíra indica: “Ouça, debata e se informe. Informação é a chave para promovermos uma sociedade com menos desigualdade e julgamento. É a chave para se desconstruir. Quando você se informa, isso significa abrir mão de opiniões pré-estabelecidas por você, pela sua família e amigos. Não existe uma pessoa 100% desconstruída, sempre vai ter algo para você reavaliar. Promova debates e se coloque no lugar do outro, escute e compreenda. Tenha empatia.”
Gostou de conhecer mais a Maíra?