Souta Yamaguchi diz que a moda também é forma de ‘expressão dos problemas’
Designer japonês é quem coordena exposição sobre a história da moda no Japão em SP e conversou com a CAPRICHO sobre o 'efeito japão' em todo o mundo.
ertamente você aprendeu sobre o que acontecem em Hiroshima e Nagasaki na escola e, sim, é possível que você também tenha assistido ao filme Oppenheimer, ganhador do Oscar deste ano.
Mas talvez o que você não saiba é que, após a guerra, lá em 1950, o Japão começou um movimento de reconstruir não só uma nação inteira, mas também reimaginar a relação das pessoas com a arte e, claro, com a moda.
“Eu vejo que a arte é a expressão do problema. São as pessoas expressando o que há de problemático no mundo”, afirma à CAPRICHO o designer de moda japonês, Souta Yamaguchi, com o auxílio de uma tradutora, já que não fala português.
Ele é o diretor de moda responsável pela coordenação da exposição “Efeito Japão: moda em 15 atos”, em cartaz na Japan House São Paulo e com entrada gratuita.
A partir de 15 trajes de importantes estilistas nipônicos, a mostra busca desvendar o poder do design japonês que assimila as tendências do mundo desde 1950 até 2022 e as transformam em novas tendências por meio de uma sensibilidade particular.
Todas as roupas expostas são de estilistas renomados e fazem parte do acervo da Bunka Fashion College, uma das escolas de moda mais importantes de todo o mundo, localizada em Tokyo, no Japão.
“O design é a solução para esses problemas [guerras, etc.] e, para mim, moda fica no meio desses dois, ou seja, estamos ‘carregando’ os problemas, só que, ao mesmo tempo, estamos caminhando, melhorando e aprimorando em direção à solução”, completa Yamaguchi, ao falar sobre a relação que ele vê entre realidade, arte e moda.
Ele também foi responsável pelo design das roupas utilizadas pelo staff na cerimônia de entrega de medalhas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tokyo 2020, viu?
Souta também foi produtor da loja “Pyaruco”, uma loja selecionada para as novas gerações, na PARCO Shibuya, lá em 2012. Em 2015, foi o responsável pela direção criativa de Kansai Yamamoto. Em 2021, foi responsável pela curadoria de uma exposição sobre Kenzo Takada – um dos principais nomes da moda japonesa.
Em 2023, ficou na direção de moda do Tokyo Creative Salon Shibuya Runway e atualmente é responsável pela direção criativa do key visual do Rakuten Fashion Week de Tokyo.
Dentre as peças selecionadas especialmente para a exposição, que contou com a curadoria dele, estão produções de:
Hanae Mori (1926 – 2022); Masao Mizuno (1928 – 2014); Kansai Yamamoto (1944 – 2020); Kenzo Takada (1939 – 2020); Yohji Yamamoto (1943); Isao Kaneko (1939); Yoshiki Hishinuma (1958); Issey Miyake (1938 – 2022); Junya Watanabe (1961); Jun Takahashi (1969); Kunihiko Morinaga (1980); Junichi Abe (1965) e Chitose Abe (1965).
A mostra destaca marcos históricos e contextos sociais da moda no Japão e no mundo, desde o período pós-Segunda Guerra Mundial, quando a cultura da vestimenta no Japão passou por uma grande transição entre os quimonos e as roupas ocidentais; passando pela consagração de estilistas japoneses no cenário internacional e a influência do street style.
“Existia um respeito muito grande pelo quimono e, também, um valor emocional muito forte pelas peças de passarela que remetiam a ele”, conta o coordenador. “Mas isso foi mudando. Na década de 70, as pessoas deixaram de criar essa tensão e passaram a trabalhar de forma mais livre, criando um jeito muito único de misturar os tecidos, a tecnologia à estética japonesa”.
A partir da década de 1990, o Street style japonês atraiu a atenção internacional, com estilos que remixam diversas culturas e designs usando técnicas avançadas de processamento.
O futuro da moda também está presente na exposição. Por lá, é possível ver looks de novos nomes da moda japonesa, que chegaram a trabalhar com o renomado Issey Miyake – estilista japonês que abriu caminho a várias gerações e morreu em 2022.
O estilista Yoshiki Hishinuma, por exemplo, que trabalhou no Miyake Design Studio, utilizou a termo “plasticidade do poliéster” para criar obras aplicando a técnica japonesa shibori – um tingimento que envolve prender partes do tecido que não serão tingidas e mergulhá-lo em pigmento, criando estampas orgânicas e exclusivas. Demais, né?
O que eu posso dizer é que eu tenho sentido que os mais novos têm uma visão mais diversificada e, ao mesmo tempo, sinto que eles têm uma certa vontade de herdar, de honrar o passado e continuar essas histórias.
Souta Yamaguchi
Já dos anos 2000 em diante surgiram os designs minimalistas que levam em consideração a sustentabilidade e a expressão da complexidade de personalidades, ou seja, rompem com o padrão para deixar a fluidez do processo tomar conta.
“O que eu posso dizer é que eu tenho sentido que os mais novos têm uma visão mais diversificada e, ao mesmo tempo, sinto que eles têm uma certa vontade de herdar, de honrar o passado e continuar essas histórias. Acho que você pode é esperar bastante da moda japonesa no futuro”, finaliza Yamaguchi.
E estamos ansiosas para ver. 🙂