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A eleição de 2022 é das meninas e mulheres. Mas o que isso significa?

Temos um recorde de mulheres aptas a votar neste ano - e este número ainda é bem maior do que o de homens. Isso importa muito!

Por Marcela de Mingo, para a Capricho Atualizado em 16 nov 2022, 18h47 - Publicado em 30 ago 2022, 06h00
eleições das meninas
Getty Images/Montagem/CAPRICHO

Há algumas semanas a gente contou por aqui que as eleições de 2022 serão um marco na história eleitoral brasileira. Isso porque meninas e jovens mulheres brasileiras se consolidam cada vez mais como a maioria do eleitorado brasileiro. Só que, neste ano, isso se repete – e ainda bate um recorde: para a disputa deste ano, elas não só são a maior parte dos eleitores como esta foi a maior marca registrada na série histórica.

Mas talvez ainda não tenha ficado claro a importância desse fato, sabe? É por isso que esse é o tema da nossa matéria de hoje: o que significa ter mais de 50% de eleitoras mulheres no Brasil de 2022.

Antes de mais nada, a gente precisa começar com um fato: o nosso país é, majoritariamente, feminino. Segundo o último Censo, feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem uma população composta por 51,8% de pessoas que se identificam como mulheres, e 48,2% que se identificam como homens.

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Ou seja, em termos gerais, parece óbvio termos mais mulheres do que homens eleitores, certo? É uma matemática bem simples. No entanto, a coisa não funciona dessa forma por muitos motivos. O nível de desigualdade no nosso país ainda é gigante, e essa desigualdade passa por recortes de gênero, classe e de raça – ou você acha que a situação de vida de um homem branco é a mesma de uma mulher negra? (Spoiler: não é!)

A falta de acesso à informação, a sobrecarga da rotina doméstica – que além de trabalhar, muitas vezes, tem que cuidar da família e da casa sozinha -, o machismo e até a nossa estrutura social desigual historicamente afastou as mulheres da política e também das urnas.

No entanto, ter mulheres eleitoras é essencial para a manutenção da democracia. Pensa com a gente: se mais de 50% da nossa população é composta por mulheres, como é possível um governo não considerar essas pessoas no seu processo eleitoral? Não faz sentido, né?

“Para que a democracia seja firme e respeitada, ela precisa ser algo que a população entenda como sua”, explica a advogada Isabela Del Monde, coordenadora do movimento Me Too Brasil. “Participar do processo eleitoral é uma das formas – não é a única – da gente sentir que a democracia é nossa. É importante para a gente. Ou seja, a participação feminina nas eleições tem um papel de fortalecimento democrático.”

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Tá, mas falando sério: o que isso significa?

Vamos lá, é mais simples do que parece. Se temos menos mulheres e meninas votando, significa que teremos um governo com menos representantes dessas pessoas – e de novo, menos representantes de mais da metade da população brasileira.

Isso não significa que mulheres e meninas devem apenas votar em outras mulheres. Mas significa que os votos dessas pessoas têm mais chances de representarem as necessidades dessa população no Congresso Nacional (formado pela Câmera dos Deputados e o Senado Federal, você lembra, né?!). 

“Os direitos das mulheres são considerados direitos humanos. E, novamente, a preservação e expansão de direitos humanos estão ligados ao fortalecimento democrático”, continua Isabela.

Aí entra uma nuance muito importante dessa discussão: assuntos que dizem respeito às mulheres não são APENAS assuntos femininos, como os direitos reprodutivos, a violência doméstica ou a pobreza menstrual. Pelo contrário, tem muito assunto por aí que diz respeito às mulheres e meninas, mas parece que não.

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A economia, por exemplo. Você já considerou que muitas mulheres são chefes de família no Brasil? Dizem as pesquisas que mais de 50% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres (muitas vezes, mães solo), que bancam uma estrutura familiar completa.

Ao mesmo tempo, temos dados bem assustadores da pandemia. Também de acordo com o IBGE, 72% dos postos de trabalhos encerrados em 2020 por conta da crise econômica eram ocupados por mulheres.

Não só isso, mas por conta desse cenário, e da responsabilidade pelo cuidado familiar comumente recair sobre as mulheres, a participação dessa população no mercado de trabalho, em março de 2021, caiu aos mesmos patamares de 1991. Foi um verdadeiro retrocesso de 30 anos na participação feminina no mercado de trabalho.

Conseguiu enxergar mais uma conta que não fecha, né? 

Educação, saúde, políticas públicas… todos esses também são assuntos que, de uma forma ou de outra, interferem na vida das mulheres, mas a nossa sociedade não nos ensinou a olhar por esse prisma – o que, historicamente, nos afastou da política e das conversas políticas.

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Sem educação de qualidade, muitas vezes as mulheres não se qualificam para competir no mesmo patamar que os homens por boas vagas de trabalho. Quando conseguem esse privilégio, elas, ainda assim, ganham em média 30% menos do que os homens para cumprir a mesma função.

Os direitos das mulheres são considerados direitos humanos. E, novamente, a preservação e expansão de direitos humanos estão ligados ao fortalecimento democrático

Isabela Del Monde

E considerando que a inflação só aumenta e a situação econômica do país segue complicada – pensa na situação de uma mulher que chefia uma família inteira e precisa alimentar e dar o básico de conforto para essas pessoas – o poder de compra dessas mulheres cai muito e isso interfere em toda a sua vivência social.

“Os assuntos macro, tipicamente tratados nas eleições, são de interesse central das mulheres”, continua a advogada. “Nós tivemos uma vida que ficou mais insegura, com menos renda, menos acesso à saúde, portanto, com maior impacto… Para essas eleições é muito importante que a gente tenha a presença feminina para incrementarmos a resposta a esses problemas a partir de um recorte de gênero.”

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Como a gente reverte isso, CAPRICHO? 

Vamos lá: mudar a estrutura de uma sociedade não é simples. Mas a gente volta sempre pro ponto principal quando se fala em eleições: buscar informações de qualidade. Se você é parte da nossa galera, e vai votar esse ano, o melhor que pode fazer por todas as mulheres desse Brasil é entender a situação que vivemos hoje e buscar candidatos que não só considerem essas questões, mas tragam soluções.

Isso significa, segundo Isabela, basear as suas pesquisas e construir a sua opinião política a partir dos dados: para ela, acompanhar os dados mais atuais que mostrem a realidade do país é essencial. Existem muitos centros de pesquisas de confiança que trazem recortes de gênero e raça e estudam profundamente a situação da nossa sociedade hoje.

“A perda do emprego vai causar a perda da renda. A perda da renda aprofunda a situação de vulnerabilidade da mulher em um caso de violência doméstica. Se nós não temos boas condições sociais macro para dar um mínimo de piso para a nossa vida, a gente dificilmente vai conseguir atingir os assuntos que são de vanguarda, a paridade salarial, o direito à interrupção voluntária da gestação… A gente precisa ter um piso social mínimo que nos permita ter condições para sonhar. Conhecer os dados produzidos sobre emprego e gênero, inflação e gênero, educação e gênero é um caminho super importante”, explica.

A partir disso, é escolher um candidato que, de fato, represente essas questões no Congresso Nacional – e talvez essa pessoa esteja bem longe de ser o personagem típico que vemos por lá: o homem branco, de meia-idade, que tem uma carreira política de décadas. Se essa pessoa não representa você e as suas necessidades, por que votar nela para mais 4 anos de mandato?

“As meninas precisam entender que a nossa vida, de tamanha desigualdade em relação aos homens, não é à toa. Tem um projeto – e quem foi que sempre executou esse projeto? Foram homens”, argumenta Isabela. “Não tem como a gente fazer essa alteração da nossa própria vida, da nossa vida micro, da nossa segurança de sair de casa com a roupa que quiser, se não souber a história de exclusão das mulheres no espaço político e a importância da política para a construção da vida cotidiana. Quanto mais elas conhecerem a nossa história, a nossa luta, elas vão entender que não dá para a gente ter mudanças se continuar votando em quem sempre fez tudo igual para a gente.”

Então, o recado está dado. É hora de escolher de forma consciente.

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