Um aluno de 14 anos da Escola Profissional Dom Bosco, em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, foi morto a facadas e outros três ficaram feridos em um novo ataque nesta semana. E, assim como nos casos anteriores que noticiamos aqui em CAPRICHO, o crime novamente foi atribuído a um ex-aluno do colégio que, segundo testemunhas, foi contido e preso.
O autor do ataque teria afirmado à polícia que aproveitou a movimentação de estudantes no horário da saída e saiu “esfaqueando aleatoriamente”, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
O jornal ainda relata que o ex-aluno foi contido por pais e professores no local mesmo antes da PM de Minas Gerais chegar ao local; as investigações sobre a motivação do ataque estão em andamento. O governador Romeu Zema utilizou as redes sociais para repudiar o ataque e gerou críticas e debate ao associar o tema à redução da maioridade penal e ao bullying.
É inaceitável qualquer atentado contra a vida de nossas crianças. Temos que combater o bullying nas escolas, mas o Congresso tem que ter coragem para discutir a redução da maioridade penal, pra acabar com eventos como esse de Poços de Caldas. Minha solidariedade às vítimas.
— Romeu Zema (@RomeuZema) October 10, 2023
O adolescente atingido gravemente chegou a ser levado para a Santa Casa da cidade, porém não resistiu ao ferimento. A unidade também atendeu outras três vítimas: uma estudante de 13 anos, outro da mesma idade, em estado grave, e uma outra jovem de 17.
A escola Dom Bosco suspendeu as aulas até semana que vem e a prefeitura de Poços de Caldas decretou luto oficial de três dias no município, além de ter cancelado todas as atividades recreativas em comemoração ao Dia das Crianças, comemorado nesta sexta-feira (12).
Em nota, a Prefeitura afirma que é “solidária a toda a comunidade escolar neste momento de dor e consternação, especialmente às famílias dos alunos atingidos”.
E aqui uma informação super importante, leitores de CAPRICHO: nós não vamos publicar detalhes sobre o autor do ataque ou seus vídeos que circulam nas redes sociais, ok? Essa exposição pode gerar um efeito equivocado de valorização e estímulo da violência e, eventualmente, gerar novos casos. Informação é importante, mas tratá-la com responsabilidade também.
Mas, por que isso acontece, CAPRICHO?
Pois é, nós também gostaríamos de poder explicar o que motiva uma violência tão extrema em um ambiente que deveria ser berço de inspiração e aprendizado.
Mas o que podemos compartilhar são alguns dados do levantamento inédito do Instituto Sou da Paz, uma organização super importante aqui no Brasil que monitora e produz políticas públicas sobre porte de armas e violência.
O estudo batizado de “Raio-x de 20 anos de ataques a escolas no Brasil”, realizado pela ONG, aponta que, desde 2002, foram contabilizados 25 episódios que deixaram 139 vítimas com 46 mortes – um dado super alarmante, viu?
Os número obtidos por eles demonstram também o caráter ainda mais destrutivo das armas de fogo. Os ataques a tiros geraram três vezes mais vítimas fatais do que as ocorrências com armas cortantes ou perfurantes – como o de Poços de Caldas – e representam 76% das mortes, apesar de terem sido usadas em menos da metade dos atentados.
O levantamento traz ainda um perfil dos agressores. Todos são meninos ou homens, 57% são alunos e 36% ex-alunos das escolas. Em pelo menos dois casos, o autor estava há meses sem ir às aulas e nenhuma providência de busca ativa foi tomada, o que contribuiu para o isolamento e a radicalização desses estudantes (sim, gênero é uma questão que está diretamente relacionada e a gente já conversou sobre isso, lembra?).
Para não esquecer…
Só neste ano, casos semelhantes aconteceram em São Paulo, Paraná e em Santa Catarina. Lá em março, um adolescente de 13 anos esfaqueou quatro professoras e um aluno dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, na zona oeste da capital paulista e a morte da professora identificada como Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, foi confirmada.
Em seguida, em abril, um ataque na creche Cantinho Bom Pastor na Rua dos Caçadores, em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, deixou quatro crianças mortas. As vítimas foram três meninos e uma menina, de 4 a 7 anos.
Mais tarde, em junho, noticiamos um ataque ao Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé, no Paraná, que deixou dois adolescentes mortos. O ex-aluno entrou armado no colégio, alegando que solicitaria seu histórico escolar.