De boas notícias também se vive, né? Na última semana, um artigo publicado na revista científica Nature Medicine confirmou o 5º caso de “cura” da Aids no mundo, em um paciente de 53 anos que tinha HIV tipo 1.
A confirmação foi dada pelo Hospital Universitário de Dusseldorf, na Alemanha, onde o paciente tratava uma leucemia. Como das outras vezes em que a “cura” foi noticiada, o homem passou por um transplante de medula óssea, o que causou a remissão do vírus.
Faz quatro anos que o transplante ocorreu e o alemão estava fazendo acompanhamento desde então, para que os médicos achassem seguro atestar que o organismo do paciente tinha mesmo se tornado resistente ao vírus. “A ausência de rebote viral e a ausência de correlatos imunológicos da persistência do antígeno HIV-1 são fortes evidências de cura do HIV-1”, informaram os cientistas no artigo científico.
O que a medúla tem a ver com isso?
Em todos os cinco casos envolvendo a “cura” da Aids, os pacientes estavam tratando um câncer e precisavam de transplante de medula óssea. Ou seja, todos os episódios envolveram células-tronco.
Na busca por doadores, os médicos priorizaram aqueles que tinham uma mutação genética que os faziam naturalmente mais resistentes ao HIV.
Essa condição faz o corpo não permitir a expressão de um receptor chamado CCR5, que atua justamente nos linfócitos T CD4/CD8, os principais alvos do vírus na Aids.
Uma vez alojados na superífice das células, eles estimulam a replicação do HIV no organismo. No caso de pessoas com a mutação, o receptor não consegue se alojar com tanta facilidade, interrompendo a replicação do vírus.
Depois do transplante de medula, a mutação começa a agir nos pacientes soropositivos, que se tornam mais resistentes ao HIV, podendo depois de um tempo ficar com a carga viral intedectável.
Tratamento não é garantia de cura
Você deve ter reparado que todas as vezes em que a palavra cura foi citada neste texto foi entre aspas, certo? Acontece que o transplante de medula óssea é o que existe de mais promissor hoje na Ciência envolvendo a “cura” da Doença Sexualmente Transmissível. Contudo, o procedimento não deu certo em todos os pacientes nem possui 100% de eficiência.
Muitos cientistas acreditam que o vírus HIV permaneça “escondido” nas células, podendo se tornar detectável novamente após a remissão. Isso poderia demorar anos, é verdade, mas não deixa de ser uma preocupação.
O cenário só destaca ainda mais a importância do tratamento antiviral, que pode trabalhar em conjunto com o transplante de células-tronco. Além de ser uma opção para aqueles pacientes que não estejam em tratamento de câncer.
Hoje, contudo, o transplante de medula óssea representa um enorme avanço em tratamentos de soropositivos para a medicina!
E no Brasil, a “cura” da Aids está sendo estudada?
Sim, e o principal alvo das pesquisas são os coqueteis antirretrovirais.
O infectologista Ricardo Sobhie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, lidera um grupo de pesquisas com 30 voluntários com carga viral indetectável, todos sob tratamento padrão.
O grupo foi dividido em dois e testou diferentes tipos de combinação de medicamentos. Descobriu-se que substâncias como a nicotinamida e a auranofina são mais efetivas para a redução expressiva da carga viral.
Uma vacina de células dendríticas – que atua nos linfócitos T CD4/CD8 de maneira semelhante ao transplante de medula – também está em teste. “Apesar do avanço no tratamento e controle do HIV, a infecção por esse vírus ainda é a pior notícia que podemos dar ao paciente em termos de doenças sexualmente transmissíveis. A pessoa com HIV, mesmo com carga viral indetectável, passa por inúmeros processos inflamatórios devido aos efeitos colaterais dos medicamentos“, explica o cientista em artigo publicado pela Unifesp.
Hoje, estima-se que 38 milhões de pessoas vivem com o vírus da Aids no mundo, sendo 920 mil no Brasil. #CamisinhaTemQuerUsar!