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Como é ser jovem, refugiado e construir uma vida em outro país

Sabia que esta quinta é o Dia Mundial do Refugiado e que mais de 40% das pessoas que buscam abrigo no Brasil são crianças e adolescentes?

Por Juliana Morales Atualizado em 20 jun 2024, 17h31 - Publicado em 20 jun 2024, 15h00
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esta quinta-feira (20) é celebrado o Dia Mundial do Refugiado. A data estabelecida pela ONU em 2001 é uma chance de ampliar a discussão sobre como os governos, organizações e sociedades ao redor do mundo estão agindo em favor de quem é forçado a deixar seu país de origem por causa de perseguições, conflitos armados ou uma violação dos direitos humanos generalizada.

No ano passado, o governo do Brasil reconheceu 77.193 pessoas como refugiadas – o maior quantitativo verificado ao longo de toda história do sistema de refúgio nacional. Desse total, 44,3% das pessoas reconhecidas como refugiadas eram crianças, adolescentes e jovens com até 18 anos de idade.

Mudar-se para um novo país, com uma cultura e língua diferente, já é um grande desafio. Quando isso acontece na infância e na adolescência, há outras implicações, que envolvem questões educacionais e sociais importantes. Vale uma reflexão de toda a nossa galera sobre como deve ser sair do país de origem e reconstruir a vida sendo jovem, em uma fase já tão transformadora e cheia de emoções como é a adolescência.

A Aldeias Infantis SOS é uma organização global que atua no cuidado e proteção de crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. Em 2023, das 698 pessoas acolhidas pela Aldeias Infantis SOS, 61% eram crianças e jovens com idade entre 0 e 17 anos. Neste ano, a proporção se repete: até o momento, das 141 pessoas apoiadas por eles, 60% têm esse perfil.

A Organização destaca que “as crianças são as que mais sentem o impacto do processo migratório e, muitas vezes, não compreendem a mudança drástica de rotina e as dificuldades impostas pela mudança de país”. Além disso, ser jovem e ter de fugir do próprio país pode aumentar os riscos de abusos e exploração e reduzir as chances de acesso à educação.

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O venezuelano Pedro Luis Zamora Malave chegou ao Brasil em 2018, sozinho, com 100 reais no bolso e a esperança de que aqui conseguiria condições de vida melhores. Ele tinha apenas 20 anos e não sabia falar Português direito. “Eu sai da Venezuela no auge da crise humanitária. Não tinha medicamentos, comida, emprego, estava tudo quebrado. Então, eu tomei coragem e decidir falar com meus pais que viria para cá, morar na casa de um amigo em Boa Vista, Roraima”, conta.

Mas o começo não foi fácil. Além da dificuldade para encontrar uma vaga de emprego, devido à alta demanda, ele precisou lidar com a xenofobia. “Um dia rasgaram o meu currículo na minha frente e disseram que não queriam venezuelanos trabalhando lá”, recorda. O jovem ficou seis meses em um abrigo e foi voluntário na Cáritas Diocesana de Roraima, integrando um projeto que visava construir banheiros e espaços de banho para venezuelanos em situação de rua.

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Depois desse período, Pedro foi acolhido pelo Aldeias Infantis SOS no Rio de Janeiro, por meio da Operação Acolhida e do projeto Brasil Sem Fronteiras. Quando chegou lá, já estava mais adaptado com a língua portuguesa, o que facilitou que ele conseguisse uma vaga para trabalhar em uma loja de departamentos de forma temporária e começasse sua trajetória. Hoje, ele faz faculdade de Gestão e atua como educador social na Aldeias Infantis SOS, acolhendo e ajudando imigrantes e refugiados que, assim como ele um dia, sonham em reconstruirem suas vidas aqui.

Pedro Luis Zamora Malave
Pedro foi um dos primeiros venezuelanos a chegar no Brasil, ainda em 2018 Arquivo Pessoal/Reprodução

Solmary Del Valle Andrades Brito, que também veio da Venezuela para o Brasil há cinco anos, entende bem os desafios que Pedro enfrentou. Em meio à situação precária de seu país, aos 22 anos, ela deixou o filho pequeno e a família na Venezuela para tentar a sorte por aqui, mais especificamente em Roraima. “Quando eu cheguei, meu primeiro emprego foi vender café na rua. Tudo que eu ganhava mandava para minha mãe para eles poderem sobreviver lá”, conta.

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A jovem precisou se adaptar ao idioma, lidar com o machismo e a xenofobia, receber vários ‘nãos’, até se estabilizar para conseguir trazer a família para o Brasil. Solamary fez vários cursos, conseguiu um trabalho na ONU na parte da documentação, e agora também é uma Educadora Social na Aldeias Infantis SOS e faz a faculdade de Serviço Social.

“Acho que eu tenho um avançado muito, e eu me vejo futuramente, graduada, com meu carro, casa própria. Sonho em ter a oportunidade de ser coordenadora de uma organização e melhorar minha vida e da minha família”, fala dos planos com esperança.

Solmary
Solmary tinha 22 anos e muitos sonhos quando chegou ao Brasil Arquivo Pessoal/Reprodução

Para quem está chegando, Pedro e Solmary aconselham que aproveitem todas as oportunidades que o Brasil oferece. Do outro lado, eles defendem que o país precisa se preparar melhor para receber os jovens de outros países, começando nas escolas. É necessário combater a xenofobia, o preconceito e bullying no ambiente escolar.

Muitos estrangeiros não usufruem de outro direito básico por conta da barreira da língua: saúde. “Muita gente fala que não quer ir no médico porque o profissional não vai entender o que está falando”, explica Pedro. Por isso, ele enfatiza que é tão importante que refugiados e imigrantes tenham espaço nas diferentes áreas que o governo atua para receber e intermediar em casos como esses.

Acolhimento e representatividade pode deixar um processo difícil de adaptação em algo mais leve.

 

 

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