É preciso tomar cuidado para não ser uma vítima da ‘amnésia eleitoral’
Votar com consciência e acompanhar a carreira dos políticos que você elege é essencial. Mas não é bem isso que acontece.
ora da sinceridade: se você votou nas eleições de 2022, você lembra qual candidato a deputado federal recebeu o seu voto? É provável que não.
E, hora da sinceridade número 2, você sabe quais leis os deputados eleitos estão discutindo e votando? Salvo algumas exceções que ganham a grande mídia (como a possível mudança de legislação em relação ao aborto no Brasil), a resposta para essa pergunta talvez também seja ‘não’.
Veja bem, é impossível sabermos de tudo o que acontece no mundo o tempo inteiro – somos afogados por quantidades absurdas de informações a todo momento, principalmente pelas redes sociais. Mas alguns assuntos valem um espaço na nossa memória.
A gente explica: um estudo recente liberado pelo Legisla Brasil comprovou que 68% dos parlamentares da nossa Câmara dos Deputados têm um desempenho ruim ou razoável. Isso significa que mais da metade dos políticos eleitos para esse cargo não estão cumprindo com as suas funções da maneira que deveriam.
O estudo acompanhou os primeiros 500 dias de mandato dos deputados eleitos na última eleição, e avaliou a sua atuação em quatro categorias: produção legislativa, fiscalização, mobilização e alinhamento partidário.
Se você não lembra… A função do deputado federal é representar a população brasileira na Câmara. Esse parlamentar é responsável por sugerir projetos de leis relevantes para o país e fiscalizar o trabalho do Executivo.
Ou seja, a maioria dos deputados não está criando leis importantes para o país, nem acompanhando de perto o trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesse sentido, deputados podem pedir mais informações sobre ações do presidente e contribuir para projetos sugeridos por ele.
Com essas informações em mente, vale pensar no seguinte cenário: se o desempenho dos deputados não vai bem, é sinal de que eles não estão, de fato, prezando pelo bem-estar da população – não estamos sendo ouvidos e atendidos pelos nossos representantes.
E tem mais. Vale lembrar que esses políticos não ocupam esses cargos “de graça”. Entre salários, benefícios variados e todas as outras vantagens de se trabalhar para o governo, cada deputado custa algo em torno de R$24 milhões para os cofres públicos todos os anos.
Vamos trazer isso para os vereadores?
Agora, bora voltar a nossa atenção para as Eleições 2024. Esse ano, como você já sabe, vamos escolher os vereadores e prefeitos que vão tocar as nossas cidades pelos próximos 4 anos.
O vereador tem um papel bem semelhante ao do deputado federal. Ele vota sobre legislações importantes para cada cidade e fiscaliza as ações do prefeito, entre outras atividades relevantes.
E é importante a gente lembrar de um fato: o vereador é um funcionário do governo municipal. Olhe para o sistema democrático de eleição como um processo seletivo para uma vaga de emprego. Os vereadores com mais votos foram os escolhidos para, literalmente, ocupar aquelas vagas.
Por essa ótica, esses profissionais precisam cumprir com os seus papéis no emprego. Caso contrário, não faz sentido que estejam ali, certo?
Para dar um pouco mais de contexto, pense no seguinte: segundo o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, o custo total do Poder Legislativo dos 644 municípios paulistas (exceto a capital) é de R,8 bilhões por ano.
Os dados são referentes ao período de maio de 2023 e abril de 2024. Por pessoa, o gasto médio do Legislativo do estado é de R$115,74. Parece pouco, né? Mas considere que isso é uma média, em alguns municípios esse valor é maior, em outros, menor.
O problema, porém, não está aí. Mas sim em municípios onde os gastos com a manutenção dos vereadores é maior do que a arrecadação total de fundos pelo município. Isso significa que a cidade gasta mais com o salário e benefícios desses funcionários do que com investimentos na infraestrutura local.
Quer um exemplo? Nesse mesmo período, a cidade de Flora Rica arrecadou pouco mais de R$1,1 milhão e o custo com o Legislativo foi de… R$1,2 milhão. Ou seja, R$100 mil a mais do que o valor arrecadado.
Aonde você vai com isso, CAPRICHO?
No estágio, primeiro emprego ou num trabalho estável pós-faculdade, existe uma verdade sobre o mercado de trabalho: se você não cumpre com as suas obrigações, a demissão vem. E, sim, é difícil a gente pensar em “demitir” um vereador. Infelizmente, não é assim que a banda política toca.
Porém, esses dados todos lembram da importância de ficarmos de olho nas ações desses políticos e cobrar por posicionamentos que estejam de acordo com a sua função.
A gente entende que é impossível passar o tempo inteiro acompanhando os passos de um vereador – todo mundo tem as suas próprias questões e perrengues para resolver. Mas vamos combinar que a gente pode, de vez em quando, dar uma olhada no que o vereador em quem a gente votou está fazendo? Se as suas promessas de campanha foram cumpridas?
Para facilitar, a gente dá o caminho das pedras:
- Portal da Câmara Municipal: cada município tem o seu. Ali, você pode ver os vereadores que estão atuando, projetos em votação e até formas de entrar em contato com os vereadores da sua cidade. Você pode até acompanhar um plenário ao vivo, se quiser.
- Redes Sociais: se você lembra quem foi o seu candidato eleito, pode acompanhá-lo pelas redes sociais, como Instagram. Apesar desses perfis serem enviesados e mostrarem só o lado positivo da carreira política, pode ser uma forma de acompanhar o mandato desse político mais de perto.
- Noticiário local: os sites ou canais de notícias da sua cidade também são boas fontes de informação sobre o que a Câmara Municipal está fazendo.
Os salários dos políticos são pagos com o pagamento dos impostos. Você, seus amigos e familiares garantem o salário (alto) desses profissionais. Então, taí mais um motivo para escolher o seu candidato com consciência, né?