Após o assassinato brutal da jovem Mahsa Amini, 22, no Irã, milhares de meninas e jovens mulheres saíram às ruas do país para protestar contra o regime e exigir seus direitos. O símbolo? Uma tesoura e cabelos cortados nas mãos em homenagem à Amini. Estes atos desencadearam uma revolução feminina no país, um dos mais conservadores do Oriente Médio, que marcou 2022.
Nós já te contamos por aqui, mas vale relembrar: a jovem curda, que visitava a capital Teerã, morreu três dias após ser detida pela “polícia da moralidade” pelo uso indevido do Hijab, que exige que mulheres cubram os cabelos com um véu ou lenço ao saírem em público. A família de Amini alega que a jovem foi espancada em várias áreas do corpo enquanto estava sob custódia. Após ter ficado alguns dias internada em um hospital local, ela entrou em coma e não resistiu.
Durante três semanas de protestos, o slogan “Mulheres, vida, liberdade” foi entoado nas ruas em sua maioria por jovens iranianas, e muitas delas tirando seus véus e ateando fogo neles, cortando ou raspando seus cabelos, um ato que chegou a ser repetido em vários outros países ocidentais – inclusive por atrizes conhecidas como Juliette Binoche e Penélope Cruz.
A gente explica: lei iraniana – que é baseada na Sharia – uma interpretação jurídica do Alcorão – diz que as meninas e mulheres devem usar o HIjab cobrindo todo o cabelo e o pescoço.
Além disso, também não é permitido que elas usem roupas curtas, acima dos joelhos, nem calças apertadas ou jeans com efeito destroyed – aquele puído, rasgado, sabe? E cabe à chamada “polícia da moralidade”, fiscalizar o cumprimentos dessas regras de vestimenta.
Uma revolução feita por meninas
Não só as ruas foram atingidas por essa revolução. Alunas de escolas protestaram em seus colégios tirando a peça que cobre a cabeça e entoando canções contra os líderes religiosos do país, viu? Os vídeos das manifestações das adolescentes chegaram até a viralizar nas redes sociais o que provocou uma nova onda de repressão.
Em um colégio secundário em Teerã, meninas foram revistadas e agredidas após se negarem a entregar o celular. A intenção desse controle era barrar a publicação dos protestos dos estudantes nas redes sociais. Os oficiais chegaram até a lançar gás lacrimogêneo contra os pais das estudantes, que foram ao local preocupados com a ação.
Pois é. Mas há um efeito triste e reverso acontecendo também: desde setembro, quase 500 mulheres e meninas foram mortas e cerca de 1800 manifestantes foram presos no Irã, segundo a Reuters, agência internacional de notícias. O que não impediu que todo o protagonismo dessa luta pela liberdade feminina – que é inédita na história – fosse homenageada.
As mulheres e meninas iranianas foram eleitas “Heroínas do Ano” pela revista Time. A publicação traz anualmente a premiação de uma pessoa, grupo ou evento mais influente do ano e elas foram as escolhidas da vez.
O editorial da revista norte-americana destacou que “as mulheres mais jovens estão agora nas ruas. O movimento que elas lideram é educado, liberal, secular, criado com expectativas mais altas e desesperado por normalidade: faculdade e viagens ao exterior, empregos decentes, estado de direito, acesso à Apple Store, um papel significativo na política, a liberdade de dizer e usar o que quer que seja.”
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Apesar de suas reivindicações ainda não terem se tornado realidade, elas alcançaram a possibilidade de serem ouvidas pelo resto do mundo – o que pode ser considerado essencial para uma revolução.
Veja algumas das imagens que resumem a força delas nos protestos deste ano: