A violência de gênero nos estados da Amazônia Legal foi mais acentuada em 2022 do que no resto do Brasil. É o que mostra o estudo divulgado nesta quinta-feira (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
No levantamento “Cartografias das violências na região amazônica”, os pesquisadores indicaram que as taxas de feminicídio, assassinatos de mulheres e estupros foi mais de 30% superior à media brasileira no ano passado.
Os nove estados da Amazônia Legal são Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Enquanto a média nacional para feminicídios ficou em 1,4 casos para cada 100 mil em 2022, a média dos municípios da Amazônia Legal ficou em 1,8 para cada 100 mil – o que representa um aumento de 30,8%, de acordo com o levantamento.
Se no século 19 as mulheres eram vistas como propriedades dos seringueiros, hoje são vistas como propriedades de homens faccionados, sujeitas a punições duras caso não cumpram com as expectativas de gênero
FBSP no estudo 'Cartografias das violências na região amazônica'
Ao considerarmos todos os assassinatos de mulheres, como homicídios dolosos (crimes com intenção de matar), latrocínios (roubos com intenção de matar) e lesões corporais seguidas de morte, a situação é ainda mais grave. Na região, 5,2 mulheres entre 100 mil são vítimas, enquanto a média nacional é de 3,9 a cada 100 mil (um aumento de 34% em relação à média nacional.
No caso dos estupros, a taxa na Amazônia legal foi de 49,4 vítimas para cada 100 mil pessoas em 2022, ou, 33,8% superior à média nacional.
Por que as mulheres amazônicas estão morrendo mais?
Segundo o levantamento, entre crimes mais violentos e nos feminicídios, as áreas urbanas mostraram taxas ainda mais elevadas do que nas cidades da Amazônia Legal.
“Porque as mulheres amazônicas morrem mais do que as demais brasileiras, seja por feminicídios, seja por outras dinâmicas de violência?”, questionam os pesquisadores. O processo de colonização que passou a região, marcado pelo silenciamento e exploração das mulheres é uma das hipóteses apresentadas por eles.
Além disso, os desafios relativos a regiões fronteiriças e a expansão do narcotráfico na região Amazônia, também contribuíram com o ambiente menos seguro para as mulheres.
“Seja como agentes do mundo do crime, inclusive com protagonismo nos negócios criminais, ou por seus vínculos afetivos com homens faccionados, o fato é que o quadro que se desenha no século 21 permanece pautado pelas desigualdades de gênero e pela lógica patriarcal. Se no século 19 as mulheres eram vistas como propriedades dos seringueiros, hoje são vistas como propriedades de homens faccionados, sujeitas a punições duras caso não cumpram com as expectativas de gênero”.