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O Discord é o novo inimigo das meninas e mulheres?

Rede de comunidades virou notícia por causa dos casos de abuso com menores de idade

Por Marcela de Mingo, especial para a Capricho 15 jul 2023, 06h00

O que acontece quando meninas e menores de idade como nós são violentadas e humilhadas em uma rede social? Foi isso que aconteceu no Discord, uma plataforma online bastante utilizada pela comunidade gamer, por exemplo, que se tornou mais um ambiente inseguro na internet. Os casos foram noticiados há algumas semanas e, desde então, uma conversa super importante começou: por que isso ainda acontece em ambientes online que deveriam ser seguros? 

Para entender um pouquinho melhor como responder à essa pergunta, nós da CAPRICHO conversamos com a psicóloga Bianca Orrico, que atua no canal direto de ajuda e em projetos educacionais na ONG Safernet. Então, fique ligada: infelizmente, a internet ainda é um lugar complicado para nós, meninas e mulheres, portanto, ficar de olho nessas dicas é bem importante.

Discord é uma ‘terra sem lei’?

“O Discord é uma plataforma online para interagir em diferentes comunidades, em especial de jogos, e em alguns casos, por ela permitir a criação de servidores privados associado a ausência de algumas ferramentas de segurança, ela pode ser usada para compartilhar conteúdos inapropriados, discurso de ódio, envio de mensagens ofensivas, abuso e assédio, perseguição online e até mesmo tentativas de extorsão”, explica Bianca. 

É isso que pode expor meninas e mulheres, muitas vezes muito jovens, a situações de riscos e violência. E, vale pontuar, esses atos criminosos não são exclusividade do Discord – pode acontecer em qualquer canto da internet, como a gente bem sabe. 

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Em 2021, a pesquisa “Além do Cyberbullying: A Violência Real do Mundo Virtual”, liberada pelo Instituto Avon e a Agência Brasil em parceria com a Decode, revelou que 38% das mulheres e meninas passam por situações de assédio online, e 24% sofrem ameaças de vazamento de fotos íntimas. 

E, apesar da internet parecer uma verdadeira terra sem lei, não é bem assim. O Brasil tem legislações em vigor hoje, como o Marco Civil da Internet e a Lei Carolina Dieckmann, que protegem os dados dos usuários e criminalizam o chamado “revenge porn”, o ato de liberar imagens íntimas de uma mulher na internet sem autorização. O Discord, claro, também está sujeito a essas leis, principalmente em casos de investigação em curso. 

Como se proteger no Discord?

Segundo Bianca, existem algumas maneiras de ajustar o uso dessa plataforma para torná-la mais segura, olha só: 

  1. Privacidade e configurações de segurança: certifique-se de revisar e ajustar suas configurações de privacidade no Discord. Limite o acesso ao seu perfil, evitando compartilhar informações pessoais com usuários que não conhece ou que não queira que tenha acesso aos seus dados.
  1. Escolha de servidores e canais: selecione servidores e canais moderados, com políticas claras contra assédio e comportamento inadequado. Fique longe de comunidades onde você se sinta desconfortável.
  1. Bloqueio de usuários indesejados: se alguém estiver incomodando, assediando ou fazendo você se sentir desconfortável, não hesite em bloquear essa pessoa. O Discord oferece recursos de bloqueio que podem ajudar a evitar interações indesejadas.
  1. Cuidado ao compartilhar informações pessoais: fique atenta com suas informações pessoais no Discord, não compartilhe nome completo, endereço, número de telefone, escola, seu @ nas redes sociais e outros. Esses detalhes podem ser usados por pessoas mal-intencionadas para prejudicar ou ameaçar, por isso, é importante pensar antes de compartilhar algo na plataforma.
  1. Reporte comportamentos inadequados: se você testemunhar ou experienciar comportamentos ofensivos, abusivos ou ilegais, denuncie-os às equipes de moderação do servidor ou diretamente ao suporte do Discord. Isso poderá ajudar a manter a comunidade segura.

Saber reconhecer interações abusivas ou explorativas também faz parte dessa rotina de cuidados e proteção. “Existem vários sinais de alerta que podem indicar interações abusivas no Discord. É importante lembrar que esses são apenas alguns exemplos de sinais de alerta, cada situação pode ser única”, explica Bianca. Veja os pontos levantados pela psicóloga abaixo: 

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  1. Comportamento controlador: se alguém está constantemente tentando controlar suas ações, decisões ou tentando manipulá-la emocionalmente, isso pode ser um sinal de uma interação abusiva. Fique atenta, reporte esse usuário e bloqueie o contato. 
  1. Pressão para compartilhar informações pessoais: se alguém está constantemente pressionando você a compartilhar informações pessoais, como senhas, endereço residencial ou onde estuda.
  1. Discurso ofensivo ou ameaçador: insultos constantes, ameaças verbais ou mensagens ofensivas são sinais claros de uma interação abusiva. Isso inclui qualquer forma de discurso discriminatório, racista, sexista, homofóbico ou prejudicial.
  1. Imposição de isolamento social: se alguém está tentando isolar seus amigos, familiares ou outros membros da comunidade do Discord, isso pode ser um indicador de um relacionamento abusivo. Ninguém tem o direito de controlar com quem você interage!

O que fazer em caso de abuso no Discord?

Antes de mais nada, vale lembrar que em um caso de abuso, seja físico, emocional ou sexual, a culpa nunca é da vítima e existem saídas e caminhos oficiais para lidar com essas situações. “Encerrar a comunicação com o autor dessas violências e evitar qualquer forma de contato adicional é um passo muito importante”, explica Bianca. 

Além disso, uma dica é gravar todas as provas disponíveis, como capturas de tela, registros de conversas, mensagens ofensivas e ameaçadoras, para ter evidências concretas da violência vivenciada. “Em seguida, deve-se utilizar as ferramentas de denúncia fornecidas pelo Discord para reportar o ocorrido. Existem opções para reportar abusos, assédio e violência diretamente na plataforma”, ressalta a profissional. 

Por outro lado, quando a situação envolve violência física, ameaças graves ou conteúdo ilegal, é importante buscar as autoridades competentes fornecendo todas as evidências que você coletou. 

“Se a vítima tiver menos de 18 anos, é necessário procurar uma Delegacia de Polícia Civil acompanhada de uma pessoa responsável”, aconselha a psicóloga. “Além disso, é fundamental que as vítimas busquem apoio emocional e psicológico para ter o suporte necessário para superar as violações que sofreram.”

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