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Podemos considerar a Barbie uma boneca… feminista?

Boneca mais falada do momento tem um histórico e tanto

Por Marcela de Mingo, para a Capricho 23 jul 2023, 06h00

Em 1959, Ruth Handler descobriu um buraco no mercado de brinquedos: enquanto observava sua filha brincando com bonecas de papel, ela percebeu que não existiam bonecas adultas para meninas – a maioria dos brinquedos dessa categoria eram na forma de bebês, uma maneira de estimular o estereótipo de mãe tão atribuído às mulheres. 

Foi aí que, também inspirada por uma viagem à Alemanha, ela decidiu criar um novo brinquedo focado em meninas: uma boneca adulta, com seios, que serviria como um gancho para essas jovens mulheres sonharem com um futuro diferente. Essa boneca também ganhou um nome: Barbie

E, sim, a gente sabe que só se fala nela. Com a estreia do filme dirigido por Greta Gerwig na última sexta-feira (20), as expectativas sobre a história da icônica boneca são gigantescas – afinal, são 75 anos de legado transformados em um filme com um elenco super hypado. Como não ficar animada, né? 

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Mas vamos falar sobre feminismo? 

barbie esterotipada
@barbie/Instagram

Existem muitas críticas e polêmicas quando o assunto é a boneca Barbie. Para começar, ela é muito criticada por estimular um padrão irreal de beleza – alô, cintura minúscula, cabelo loiro e pele branca. Ao mesmo tempo, a história da boneca mostra outro lado que faz dela uma voz que pode ser considerada desruptiva quando o assunto é vivência das mulheres em sociedade, considerando certos contextos. Vamos entender melhor? 

1. A história de origem

Voltando à Ruth, é importante notar que lá na época em que a Barbie foi criada, o papel da mulher ainda era muito limitado. A revolução sexual da década de 1960/1970 ainda estava longe de acontecer, as mulheres ainda não eram tão presentes no mercado de trabalho e a visão da mulher como dona da casa, responsável pela criação dos filhos, ainda era forte. 

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Entra aí uma mulher que, desde o começo, era um ponto fora da curva: segundo Susan Shapiro, autora do livro “Barbie: 60 years of inspiration”, Ruth trabalhou quando era adolescente, viveu longe da família, com amigas, e decidiu voltar a trabalhar depois de casada. Ela e o marido, Elliot, fundaram a Mattel quando ela tinha 30 anos, e a boneca Barbie foi lançada quando ela tinha 43. 

2. Carreiras de sucesso 

A boneca Barbie tem mais de 200 carreiras no currículo. Isso tem um motivo: a ideia da boneca, desde o começo, era oferecer para meninas uma possibilidade diferente daquela oferecida pela sociedade – ou seja, era desconectar da ideia de que mulheres deveriam apenas crescer para se tornarem mães e esposas. Por isso, Barbie já foi astronauta, designer, CEO e até presidente muito antes dessas possibilidades estarem disponíveis para as mulheres. 

E essa ideia é questionada por Greta no filme, viu?

Hoje a boneca é conhecida por suas várias profissões e por disseminar a ideia de “você pode ser o que quiser”, mas no passado, brinquedos direcionados ao público feminino apenas colocavam meninas apenas como mães e donas de casa – expressando uma ideia super equivocada sobre o que é ser mulher. E não dá para ignorar que a imagem da boneca trouxe padrões de beleza irreais e inalcançáveis que contribuíram bastante para pressão estética.

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Esse foi, inclusive, um dos motivos para Gloria, vivida por America Ferrera, querer uma versão que fosse mais parecida consigo mesma. Além disso, é um dos fatores destacados por Sasha, sua filha “anti-Barbie”, interpretada por Ariana Greenblatt.

Em um desabafo, a personagem de Ferrera entrega um monólogo que pondera como o mundo não é nada perfeito e traz um momento de percepções importantes para própria Barbie interpretada por Margot. Isso a leva considerar seu verdadeiro propósito e adiciona ainda mais em sua jornada de conhecimento pessoal, que busca encontrar perspectivas até mesmo em ambientes que não sejam tão coloridos como o mundo em que vive.

3. Estilo de vida moderno

Hoje em dia, o casamento tem outro significado pra gente, né? Mas na época em que a Barbie foi lançada, ele era muito importante. Porém, Ruth decidiu que a boneca seria solteira, sem filhos e teria só um namorado, Ken, lançado alguns anos depois. Quase um escândalo numa época em que o casamento era a norma, né? 

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4. Representação, inclusão e diversidade

A gente sabe que o mundo inteiro tem muito caminho pela frente quando o assunto é representatividade, inclusão e diversidade, mas, à sua maneira, a Barbie sempre acompanhou os movimentos sociais mais importantes do mundo. 

No final da década de 1968, quando o movimento pelos direitos civis estava à toda nos Estados Unidos, a Mattel lançou a primeira boneca negra, Christie, que era amiga da Barbie – o lançamento foi intencional e pensado considerando o contexto do momento. A primeira Barbie negra oficial veio só um bom tempo depois, em 1980, mas, para a época, esse foi um passo importante. 

De lá pra cá, Barbie também se tornou uma aliada da comunidade LGBT+, ganhou outras versões com diferentes tipos de corpos, incluindo versões representativas com membros prostéticos, curvas acentuadas, diferentes alturas, tons de peles e ancestralidades variadas. 

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5. Independência financeira

Nos Estados Unidos, as mulheres só puderam ter um cartão de crédito no seu nome para financiar um carro, por exemplo, em 1974, mas em 1962 a Barbie já tinha um carro, inúmeras casas, e uma vida de muito luxo. De novo, a ideia da boneca era desafiar os padrões da época e fazer com que as meninas sonhassem com um futuro muito diferente do que era pré-determinado para elas. 

Inovadora, mas com ressalvas, ok? 

Ao que tudo indica, o filme da Barbie vem para questionar a história da boneca e o que significa ser mulher hoje – e muita gente tem questionado como a Mattel aprovou um longa como esse. Seja uma estratégia de marketing para reposicionar a boneca, seja uma mera adaptação os novos tempos, é difícil dizer. Mas é fato que a boneca tem um quê inovador e estimulou meninas a sonharem além do que apenas ficar em casa. 

Cena de Barbie com a primeira boneca no meio de crianças com bonecas bebês
Margot Robbie na abertura de ‘Barbie’, com referências ao clássico 2001 – Uma odisséia no espaço Warner Bros./Divulgação

Questionar a sua aparência e os padrões de beleza irreais que ela propaga é essencial e faz parte de uma revolução importante que exige inclusão e mais representatividade em todos os setores da sociedade – inclusive o de brinquedos. Mas, com tudo isso em mente, a hype até que faz sentido, né? 

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